Temos refletido neste nosso espaço sobre a renovação da
liturgia eucarística a partir da aclamação pós-conciliar introduzida na
liturgia depois da consagração. Nos programas anteriores, comentamos as frases:
“Eis o mistério de nossa fé!”, “ Anunciamos, Senhor, a vossa morte!”, e “Proclamamos a vossa ressurreição!”. No
programa de hoje, o sacerdote incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre,
Padre Gerson Schmidt - que tem nos
acompanhado neste percurso - nos traz uma reflexão sobre o quarto e último
ponto: “Vinde Senhor Jesus!”:
“Estamos aqui refletindo a renovação da liturgia
eucarística, a partir da aclamação pós-conciliar que foi introduzida na
liturgia depois da consagração: “Eis o mistério de nossa fé! Anunciamos,
Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus”.
Comentamos cada frase dessa aclamação, faltando ainda a última frase: Vinde,
Senhor Jesus.
Há um termo que é utilizado na Escritura para esse apelo
litúrgico que fazemos: Maranatha (do original em hebraico מרנא תא, maranâ tâ,
"vem, Senhor!"). O termo é a composição de duas palavras, que
transliteradas dão origem à palavra Maranatha e que significa "O Senhor
vem!" ou ainda "Nosso Senhor vem!".
Maranatha é uma expressão aramaica que ocorre duas vezes na
Bíblia. Primeiramente empregada pelo apóstolo Paulo na Primeira Epístola aos
Coríntios capítulo 16 versículo 22 : “Se alguém não ama ao Senhor, seja
anátema. Maranatha”. A palavra parece ter sido usada como uma "senha"
entre os cristãos da igreja primitiva, e provavelmente foi neste sentido usada
pelo Apóstolo Paulo.
No desfecho do livro do Apocalipse, a mesma expressão é
utilizada como uma oração ou pedido, na língua grega, e traduzida por: “Vem,
Senhor”. Maranatha, - Vem, Senhor, Jesus – aqui é incluído na liturgia nessa
aclamação que estamos comentando aqui nesse espaço. É nesse sentido de súplica,
de um pedido ardente, que é utilizado na liturgia – manifestando a presença do
Senhor na Ceia e suplicando o seu retorno na Parusia.
Na época do Velho Testamento, o Rei viajava para fazer
justiça. Um arauto (Mensageiro do Rei) ia adiante dele tocando a trombeta e
advertindo o povo: O Rei está vindo, Maranatha!. Aqueles que esperavam por
justiça desejavam a vinda do Rei. O povo da terra a ser visitada preparava-se
para sua chegada limpava e reparava os caminhos, demonstrando assim obediência
e desejo de agradar ao Rei.
A palavra Maranatha era também utilizada nos cultos, na
Igreja primitiva, para invocar a presença do Senhor na Ceia. Era usada ainda
para expressar o desejo de seu retorno para estabelecer seu Reino. Equivale ao
pedido feito pela Igreja na oração dominical: “Venha o teu Reino”. Com relação
à volta do Senhor Jesus, “Maranatha” tinha um duplo sentido: era uma oração —
“Vem, Senhor” — e uma expressão de fé — “O Senhor está voltando!”. A frase pode
ter sido usada como saudação entre os primeiros cristãos, e é possivelmente
desta maneira que ele foi usado pelo apóstolo Paulo.
Apontamos já na última oportunidade que na frase anterior
“proclamamos a vossa ressurreição” está implícito, nessa resposta da
assembleia, um dever do kerigma, do anúncio do Cristo Ressuscitado dos mortos.
Não podemos pedir, em seguida, que Ele volte sem a nossa pronta atitude de
levar essa notícia a todos os povos, proclamando a Ressurreição a toda a
criatura. É como um imperativo - O Senhor não virá antes do que o Evangelho
seja proclamado, a toda a criatura.
A Eucaristia é sacramento do Reino o qual ainda não se
realizou plenamente e que ultrapassa toda imaginação e expectativa. Não é um
reino simplesmente humano, social e político. Mas é um reino universal,
transcendental, não pura obra humana, embora perpasse por ela. Deus em tudo e
em todos (1 Cor 15,28). O Reino que pedimos que aconteça não é deste mundo. Por
isso, em cada liturgia, antecipamos a eucaristia celeste, que é celebrada no
céu. Aqui, em figuras, já prefiguramos a ação de graças escatológica que será
celebrada eternamente no Reino vindouro. Como diz a Constituição Sacrossanctum
Concilium, n.08: “Na liturgia da terra nós participamos, saboreando-a já, da
liturgia celeste, que se celebra na cidade santa de Jerusalém, para a qual nos
encaminhamos como peregrinos” (SC 08)”.
Eis o mistério da fé
Anunciamos Senhor a vossa morte!
Proclamamos a vossa ressurreição
Fonte: Rádio
Vaticano
br.radiovaticana.va/news/2017/09/06/renova%C3%A7%C3%A3o_lit%C3%BArgica_vinde_senhor_jesus!/1334893
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