O risco da Fé
Revelar-nos ao outro é um ato de confiança, porque lhe da
poder para intervir sobre nós; e partilhar a mesma vida como acontece na
amizade, no matrimônio; é deixar que seja envolvida toda nossa existência.
Um homem deixa sua terra
A vocação de Abraão é um exemplo eficaz de resposta à
proposta de Deus: por isso ele é chamado o nosso pai na fé.
Com Abraão, Deus retoma a iniciativa do diálogo: faz as suas
propostas em termos acessíveis a esse homem, mas com uma exigência de
totalidade. A resposta de Abraão difere inteiramente do pecado de Adão: um se
distância, outro se aproxima; um quer possuir a terra, outro se desapega; um
desconfia da palavra de Deus, outro tem fé em suas promessas e troca a
segurança do enraizamento em uma terra, de uma família, dos próprios deuses,
pelo risco generoso em seguir o Deus que chama para uma terra "que lhe
será indicada mais tarde". Da parte de Deus, a "maldição"
destinada ao homem pecador muda-se num anúncio de "bênção" aberta a
todas as nações (1ª leitura).
Ainda hoje é proposto a todos os homens, a todo grupo
eclesial, partir da sua terra e seguir a palavra que os guia, iluminando-os com
a promessa - que em Cristo já é realidade - da "bênção" como
plenitude de bens. Mas nada é definitivo em sua origem; quanto aos pormenores,
é preciso ter criatividade, humildade, coragem, aceitar os sofrimentos, para
encontrar enfim a luz e o repouso.
Parêntesis de luz
O abandono das certezas, das seguranças jamais é total.
Permanece sempre, no fundo, a lembrança e a saudade da terra em que se
habitava. Nos apóstolos chamados a seguir a Cristo permanece a interrogação de
quem seria realmente aquele a quem ouviram e por quem abandonaram sua terra.
Sua vida oculta, seu messianismo tão diferente do que esperavam deixam algo de
duvidoso. Jesus toma a iniciativa e se manifesta sob outra forma que revela seu
verdadeiro ser, sua majestade divina: concede aos apóstolos contemplar o fim
que o espera. Assim, os discípulos podem ver que o Servo repelido e
incompreendido é o Filho do homem descrito por Daniel. A condição humana,
frágil e oculta, é apenas um tempo de passagem, um parêntesis. Com essa
antecipação da glória de que se revestirá no momento da ressurreição, a fé dos
discípulos deveria sair reanimada, confirmada (evangelho).
Ignoramos o que será a
"cidade" futura
Os futurólogos nos dão imagens de um mundo que se assemelha
a uma "cidade cujo crescimento demográfico é rápido, as cidades aumentam e
absorvem os povoados vizinhos. Caminhamos para "a unicidade", para um
novo mundo-cidade. Mas que forma deve assumir, que deve ela tornar-se para não
ser um uniforme formigueiro? Nossa liberdade de construir está realmente em
condições de construir?
Quando se propõe o problema da realização futura, as trevas
caem sobre nós. Estamos diante de um devir que é muito mais obscuro do que se
pode pensar; nossa fé vacila. Nossa fé não nos diz nada mais do que isto: para
adotar as opções que nos permitam obter sucesso é necessário abrangermos os
dois extremos da história e podermos concentrar num instante o passado e o
futuro. Esse é o risco que a fé comporta. O cristão que recebeu o batismo
decide viver nesse risco. Sente a obscuridade que pesa sobre todos os homens na
construção do presente, e não se assusta, não tem medo porque vê a meta, o
Cristo transfigurado, e em Abraão um modelo a seguir.
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Primeira Leitura: Livro do Gênesis 12,1-4a
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Salmo: 32,4-5.18-19.20 e
22 (R. Cf. 22)
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Segunda Leitura: Segunda Carta de São Paulo a Timóteo 1,8b-10
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Evangelho: de Jesus Cristo segundo Mateus 17,1-9
Fonte:
Missal Dominical (Paulus)
Foto retirada da internet
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