Primeira Leitura
Livro da Sabedoria 11,22;12,2
Fundamentalmente, o autor encontra três razões para
justificar a moderação e a benevolência de Deus.
A primeira tem a ver com a grandeza e a omnipotência de Deus
(cf. Sab 11,22). Quem é grande e poderoso, não se sente incomodado e posto em
causa pelos atos daqueles que são pequenos e finitos… Ele vê as coisas com
suficiente distância, percebe as razões do agir do homem, não perde o “fair
play”; daí resulta a tolerância e a misericórdia.
A segunda vem dessa lógica que caracteriza sempre a atitude
de Deus em relação ao homem: a lógica do perdão (cf. Sab 11,23). Ele não quer a
morte do pecador, mas que este se converta e viva; por isso, “fecha os olhos”
diante do pecado do homem, a fim de o convidar ao arrependimento… Repare-se, no
entanto, que esta lógica não se exerce aqui sobre o Povo de Deus, mas sobre um
império pagão e opressor: é a universalidade da salvação que aqui é sugerida.
A terceira tem a ver com o amor de Deus (cf. Sab 11,24-26),
que se derrama sobre todas as criaturas. A criação foi a obra de amor de um
pai; e esse pai ama todos os seus filhos. Ele é o Senhor que “ama a vida”.
É porque todos os homens levam dentro de si esse “sopro de
vida” que Deus infundiu sobre a criação, que Ele se preocupa, corrige,
admoesta, perdoa as faltas, faz que se afastem do mal e estabeleçam comunhão
com Ele (cf. Sab 12,1-2).
A reflexão pode fazer-se a partir dos seguintes
elementos:
O Deus que este texto apresenta é uma figura benevolente e
tolerante, cheia de bondade e misericórdia, que não quer a destruição do
pecador, mas a sua conversão e que ama todos os homens que criou, mesmo aqueles
que praticam ações erradas. Ora, todos nós conhecemos bem este quadro de Deus,
pois ele aparece-nos a par e passo… Mas já o interiorizámos suficientemente?
Interiorizar esta “fotografia” de Deus significa
“empapar-nos” da lógica do amor e da misericórdia e deixar que ela transpareça
em gestos para com os nossos irmãos. Isso acontece, realmente? Qual é a nossa
atitude para com aqueles que nos fizeram mal, ou cujos comportamentos nos
desafiam e incomodam?
Muitas vezes, percebemos certos males que nos incomodam como
“castigos” de Deus pelo nosso mau proceder. No entanto, este texto deixa claro
que Deus não está interessado em castigar os pecadores… Quando muito, procura
fazer-nos perceber – com a pedagogia de um pai cheio de amor – o sem sentido de
certas opções e o mal que nos fazem certos caminhos que escolhemos.
Segunda Leitura
2ª Carta de São Paulo aos
Tessalonicenses 1,11 - 2,2
O texto que nos é proposto apresenta dois temas. O primeiro
(cf. 2 Tess 1,11-12) expõe uma súplica de Paulo, para que os tessalonicenses
sejam cada vez mais dignos do chamamento que Deus lhes fez; o segundo (cf. 2
Tess 2,1-2) refere-se à vinda do Senhor.
A primeira parte põe em relevo o papel de protagonista que
Deus desempenha na salvação do homem. Não basta a boa vontade e os bons
propósitos do homem; é preciso que Deus acompanhe os esforços do crente e lhe
dê a força de percorrer até ao fim o caminho do Evangelho. De resto, tudo é dom
de Deus que chama, que anima e que leva o homem para a meta.
A segunda parte é o início da doutrina sobre o “dia do
Senhor”. A intenção fundamental de Paulo é denunciar e desautorizar alguns
fanáticos e fantasistas que, invocando visões ou mesmo cartas pretensamente
escritas por Paulo, anunciavam a iminência do fim do mundo… Isto estava a
provocar perturbações na comunidade, porque alguns – alvoroçados pela
proximidade da segunda vinda de Jesus – demitiam-se das suas responsabilidades
e esperavam ociosamente o acontecimento.
Considerar, para a reflexão pessoal e comunitária, as
seguintes linhas:
No nosso caminho pessoal ou comunitário, rumo à salvação,
Deus está sempre no princípio, no meio e no fim. É preciso reconhecer que é Ele
quem está por detrás do chamamento que nos foi feito, que é Ele quem anima e dá
forças ao longo da caminhada, que é Ele quem nos espera no final do caminho,
para nos dar a vida plena. Tenho consciência desta centralidade de Deus? Tenho
consciência de que a salvação não é uma conquista minha, mas um dom de Deus?
Ao longo do caminho, é preciso estar atento para saber
discernir o certo do errado, o verdadeiro do falso, o que é um desafio de Deus
e o que é o fanatismo ou a fantasia de algum irmão perturbado ou em busca de
protagonismo. O caminho para discernir o certo do errado está na Palavra de
Deus e numa vida de comunhão e de intimidade com Deus.
Evangelho
Evangelho: de Jesus Cristo segundo Lucas
19,1-10
Voltamos aqui a um dos temas prediletos de Lucas: Jesus é o
Deus que veio ao encontro dos homens e Se fez pessoa para trazer, em gestos
concretos, a libertação a todos os homens – nomeadamente aos marginalizados e
excluídos, colocados pela doutrina oficial à margem da salvação.
Zaqueu (é o nome do publicano em causa) era, naturalmente,
um homem que colaborava com os opressores romanos e que se servia do seu cargo
para enriquecer de forma imoral (exigindo impostos muito acima do que tinha
sido fixado pelos romanos e guardando para si a diferença, como aliás era
prática corrente entre os publicanos). Era, portanto, um pecador público sem
hipóteses de perdão, excluído do convívio com as pessoas decentes e sérias. Era
um marginal, considerado amaldiçoado por Deus e desprezado pelos homens. A
referência à sua “pequena estatura” – mais do que uma indicação de carácter
físico – pode significar a sua pequenez e insignificância, do ponto de vista
moral.
Este homem procurava “ver” Jesus. O “ver” indica aqui,
provavelmente, mais do que curiosidade: indica uma procura intensa, uma vontade
firme de encontro com algo novo, uma ânsia de descobrir o “Reino”, um desejo de
fazer parte dessa comunidade de salvação que Jesus anunciava. No entanto, o
“mestre” devia parecer-lhe distante e inacessível, rodeado desses “puros” e
“santos” que desprezavam os marginais como Zaqueu. O subir “a um sicómoro”
indica a intensidade do desejo de encontro com Jesus, que é muito mais forte do
que o medo do ridículo ou das vaias da multidão.
Como é que Jesus vai lidar com este excluído, que sente um
desejo intenso de conhecer a salvação que Deus oferece e que espreita Jesus do
meio dos ramos de um sicómoro? Jesus começa por provocar o encontro; depois,
sugere a Zaqueu que está interessado em entrar em comunhão com Ele, em
estabelecer com Ele laços de familiaridade (“quando Jesus chegou ao local,
olhou para cima e disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em
tua casa»”). Atente-se neste quadro “escandaloso”: Jesus, rodeado pelos “puros”
que escutam atentamente a sua Palavra, deixa todos especados no meio da rua
para estabelecer contato com um marginal e para entrar na sua casa. É a
exemplificação prática do “deixar as noventa e nove ovelhas para ir à procura
da que estava perdida”… Aqui torna-se patente a fragilidade do coração de Deus
que, diante de um pecador que busca a salvação, deixa tudo para ir ao seu
encontro.
Como é que a multidão que rodeia Jesus reage a isto?
Manifestando, naturalmente, a sua desaprovação às atitudes incompreensíveis de
Jesus (“ao verem isto, todos murmuravam, dizendo: «foi hospedar-se em casa de
um pecador»”). É a atitude de quem se considera “justo” e despreza os outros,
de quem está instalado nas suas certezas, de quem está convencido de que a
lógica de Deus é uma lógica de castigo, de marginalização, de exclusão. No
entanto, Jesus demonstra-lhes que a lógica de Deus é diferente da lógica dos
homens e que a oferta de salvação que Deus faz não exclui nem marginaliza
ninguém.
Como é que tudo termina? Termina com um banquete (onde está
Zaqueu, o chefe dos publicanos) que simboliza o “banquete do Reino”. Ao aceitar
sentar-Se à mesa com Zaqueu, Jesus mostra que os pecadores têm lugar no
“banquete do Reino”; diz-lhes, também, que Deus os ama, que aceita sentar-Se à
mesa com eles – isto é, quer integrá-los na sua família e estabelecer com eles
laços de comunhão e de amor. Jesus mostra, dessa forma, que Deus não exclui nem
marginaliza nenhum dos seus filhos – mesmo os pecadores – mas a todos oferece a
salvação.
E como é que Zaqueu reage a essa oferta de salvação que Deus
lhe faz? Acolhendo o dom de Deus e convertendo-se ao amor. A repartição dos
bens pelos pobres e a restituição de tudo o que foi roubado em quádruplo, vai
muito além daquilo que a lei judaica exigia (cf. Ex 22,3.6; Lev 5,21-24; Nm
5,6-7) e é sinal da transformação do coração de Zaqueu… Repare-se, no entanto,
que Zaqueu só se resolveu a ser generoso após o encontro com Jesus e após ter feito
a experiência do amor de Deus.
O amor de Deus não se derramou sobre Zaqueu depois de ele
ter mudado de vida; mas foi o amor de Deus – que Zaqueu experimentou quando
ainda era pecador – que provocou a conversão e que converteu o egoísmo em
generosidade. Prova-se, assim, que só a lógica do amor pode transformar o mundo
e os corações dos homens.
A reflexão pode partir das seguintes linhas:
A questão central posta por este texto é, portanto, a
questão da universalidade do amor de Deus. A história de Zaqueu revela um Deus
que ama todos os seus filhos sem exceção e que nem sequer exclui do seu amor os
“impuros”, os pecadores públicos: pelo contrário, é por esses que Deus
manifesta uma especial predileção. Além disso, o amor de Deus não é
condicional: Ele ama, apesar do pecado; e é precisamente esse amor nunca desmentido
que, uma vez experimentado, provoca a conversão e o regresso do filho pecador.
É esta Boa Nova de um Deus “com coração” que somos convidados a anunciar, com
palavras e gestos.
A vida revela, contudo, que nem sempre a atitude dos crentes
em relação aos pecadores está em consonância com a lógica de Deus… Muitas
vezes, em nome de Deus, os crentes ou as Igrejas marginalizam e excluem,
assumem atitudes de censura, de crítica, de acusação que, longe de provocar a
conversão do pecador, o afastam mais e o levam a radicalizar as suas atitudes
de provocação. Já devíamos ter percebido (o Evangelho de Jesus tem quase dois
mil anos) que só o amor gera amor e que só com amor – não com intolerância ou
fanatismo – conseguiremos transformar o mundo e o coração dos homens. Na
verdade, como é que acolhemos e tratamos os que têm comportamentos socialmente
inaceitáveis? Como é que acolhemos e integramos os que, pelas suas opções ou
pelas voltas que a vida dá, assumem atitudes diferentes das que consideramos corretas,
à luz dos ensinamentos da Igreja?
Testemunhar o Deus que ama e que acolhe todos os homens não
significa, contudo, branquear o pecado e pactuar com o que está errado. O
pecado gera ódio, egoísmo, injustiça, opressão, mentira, sofrimento; é mau e
deve ser combatido e vencido. No entanto, distingamos entre pecador e pecado:
Deus convida-nos a amar todos os homens e mulheres, inclusive os pecadores; mas
chama-nos a combater o pecado que desfeia o mundo e que destrói a felicidade do
homem.
Fonte: presbiteros.com.br
Foto retirada da internet
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