Prefácio dos domingos comuns - Ofício dominical comum
Glória - Creio - Cor: Verde - Ano “C”
Lucas
Antífona: Salmo
37,22-23 Não me abandones jamais, Senhor, meu Deus, não fiqueis longe de
mim! Depressa, vinde em meu auxílio, ó Senhor, minha salvação!
Oração do Dia: Ó Deus de poder e misericórdia, que concedeis a vossos filhos e
filhas a graça de vos servir como devem, fazei que corramos livremente ao
encontro das vossas promessas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na
unidade do Espírito Santo. Amém!
Primeira Leitura: Livro da Sabedoria
11,22-12,2
Senhor, o mundo
inteiro, diante de ti, é como um grão de areia na balança, uma gota de orvalho
da manhã que cai sobre a terra. Entretanto, de todos tens compaixão, porque
tudo podes. Fecha os olhos aos pecados dos homens, para que se arrependam. Sim,
amas tudo o que existe, e não desprezas nada do que fizeste; porque, se
odiasses alguma coisa não a terias criado. Da mesma forma, como poderia alguma
coisa existir, se não a tivesses querido? Ou como poderia ser mantida, se por
ti não fosse chamada? A todos, porém,
tu tratas com bondade, porque tudo é teu, Senhor, amigo da vida. O teu espírito
incorruptível está em todas as coisas! É por isso que corriges com carinho os
que caem e os repreendes, lembrando-lhes seus pecados, para que se afastem do
mal e creiam em ti, Senhor. - Palavra do
Senhor.
Comentário: No tempo de Jesus, viviam em
Alexandria do Egito muitos judeus, provavelmente a metade da população. A
cidade era porto internacional, foi fundada por Alexandre Magno, e também era o
maior centro da cultura grecófona daquele tempo (pense na famosa Biblioteca de
Alexandria, a maior do mundo, que pereceu junto com o Império Romano alguns
séculos depois). Para a educação de seus filhos, e também para colocá-la na
famosa biblioteca, a pedido do faraó, os judeus grecófonos de Alexandria haviam
traduzido a Bíblia judaica para o grego (a “Septuaginta”), enriquecendo-a,
inclusive, com alguns livros escritos originalmente em grego, os quais os
rabinos de Jerusalém não assumiram na sua Bíblia canônica, com textos só em
hebraico. Os cristãos de origem judaica eram geralmente grecófonos e assumiram
mais tarde esses livros – são os “deuterocanônicos” de nossas Bíblias. Entre
esses livros ocupa um lugar de destaque o livro da Sabedoria, dedicado a
Salomão, “padroeiro” dos sábios, mas na realidade escrito por um sábio judeu
alexandrino do tempo de Jesus. Nesse livro encontra-se uma reflexão teológica
sobre o Egito, o país que uma vez havia escravizado os hebreus e agora
hospedava – com muito generosidade – os descendentes longínquos dos hebreus, os
comerciantes e cientistas judeus de Alexandria. O sábio faz reflexões
prudentes. O que os seus anfitriões egípcios continuam fazendo, adorando
estátuas mudas, feitas por mãos humanas, é coisa abominável. Merece castigo de
Deus. Aliás, Deus já os castigou no tempo de Moisés. Mas castigou-os com
mansidão, com moderação, pedagogicamente. “Corrigiu-os” (Sb 12,1). Pois Deus
ama a todas as suas criaturas. Senão, não as teria criado (Sb 11,24). Por isso,
tem compaixão, fecha os olhos aos pecados dos humanos, para que se arrependam
(v. 23). Os egípcios, Zaqueu, nós… Deus é amigo dos humanos, “amigo da vida”
(v. 26). (Pe. Johan Konings, sj)
Salmo: 144(145),1-2.8-9.10-11.
13cd-14 (R.cf.1)
Bendirei
eternamente vosso nome; para sempre, ó Senhor, o louvarei!
O meu Deus, quer
exaltar-vos, ó meu rei, e bendizer o vosso nome pelos séculos. Todos os dias
haverei de bendizer-vos, hei de louvar o vosso nome para sempre.
Misericórdia e
piedade é o Senhor, ele é amor, é paciência, e compaixão. O Senhor é muito bom
para com todos, sua ternura abraça toda criatura.
Que vossas obras, ó
Senhor, vos glorifiquem, e os vossos santos com louvores vos bendigam! Narrem a
glória e o esplendor do vosso reino e saibam proclamar vosso poder!
O Senhor é amor
fiel em sua palavra, é santidade em toda obra que ele faz. Ele sustenta todo
aquele que vacila e levanta todo aquele que tombou.
Segunda Leitura: 2ª Carta de São
Paulo aos Tessalonicenses 1,11 - 2,2
Irmãos, não
cessamos de rezar por vós, para que o nosso Deus vos faça dignos da sua vocação.
Que ele, por seu poder, realize todo o bem que desejais e torne ativa a vossa
fé. Assim o nome de nosso Senhor Jesus Cristo será glorificado em vós, e vós
nele, em virtude da graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo.
No que se refere à vinda
de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa união com ele, nós vos pedimos, irmãos: não
deixeis tão facilmente transtornar a vossa cabeça, nem vos alarmeis por causa
de alguma revelação, ou carta atribuída a nós, afirmando que o Dia do Senhor
está próximo. - Palavra do Senhor.
Comentário: A segunda leitura não foi
escolhida em função das duas outras, mas em função da leitura contínua das
cartas paulinas, no caso, as cartas aos Tessalonicenses. Estas tratam com
atenção especial o tema da “parúsia” (= presença, vinda), a volta do Senhor
Jesus para se reencontrar com seus fiéis, tema que combina muito bem com o fim
do ano litúrgico que está para chegar. A segunda carta aos Tessalonicenses
corrige alguns mal-entendidos que pessoas ingênuas andaram espalhando, a saber,
notícias de uma “revelação” ou até carta de Paulo afirmando que “o dia do
Senhor está próximo” (2Ts 2,2). Esse boato não era totalmente falso, pois, na
sua primeira carta, Paulo havia escrito que, na vinda do Senhor, os que já
faleceram iriam ao encontro do Senhor primeiro, antes daqueles que ainda estariam
com vida, entre os quais Paulo se contava a si mesmo (1Ts 4,13-18). Acontece
que a 1 Tessalonicenses é o mais antigo escrito de Paulo e de todo o Novo
Testamento. Foi escrita, estima-se, por volta de 50 d.C., quando os primeiros
cristãos esperavam a volta do Senhor Jesus para bem em breve. Já a 2
Tessalonicenses, que ouvimos hoje, foi escrita bom tempo depois e procura
acalmar a febre da parúsia, por exemplo, pela famosa exortação a fazer o
trabalho de cada dia, pois “quem não trabalha também não deve comer” (2Ts
3,10). É neste sentido que o início da carta, que lemos hoje, exorta à fé viva,
apoiada na oração, para que seja “glorificado o nome de nosso Senhor Jesus
Cristo em vós, e vós nele, em virtude da graça de nosso Deus e do Senhor Jesus
Cristo” (1,12) – o que é bem mais importante do que as especulações sobre o que
não se pode saber (2,1-2). (Pe. Johan Konings, sj)
Evangelho de Jesus
Cristo segundo Lucas 19,1-10
Naquele tempo, Jesus tinha
entrado em Jericó e estava atravessando a cidade. Havia ali um homem chamado
Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos e muito rico. Zaqueu procurava
ver quem era Jesus, mas não conseguia, por causa da multidão, pois era muito
baixo. Então ele correu à frente e subiu numa figueira para ver Jesus, que
devia passar por ali. Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e disse:
"Zaqueu,
desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa".
Ele desceu depressa, e recebeu
Jesus com alegria. Ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: "Ele foi
hospedar-se na casa de um pecador!" Zaqueu ficou de pé, e disse ao Senhor:
"Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém,
vou devolver quatro vezes mais". Jesus lhe disse: "Hoje a salvação
entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. Com efeito, o
Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido". - Palavra da Salvação.
Comentário:
Não é
preciso inventar uma “historinha” para captar a atenção do auditório. A própria
narrativa do encontro de Jesus e Zaqueu capta plenamente a atenção do público,
se lida com um pouco de sensibilidade dramatúrgica. É uma cena que pede
representação, e se o grupo de jovens quiser fazer isso, num momento oportuno,
será ótimo. Há uma trama construída com diversos fios, que caem facilmente na
vista. O primeiro é o fio da estatura, apresentado até com certo senso de
humor. O grande chefe dos publicanos, Zaqueu, é fisicamente pequeno e se vê
obrigado a subir – certamente pouco treinado –numa árvore para poder ver Jesus
passar. Depois, Jesus o faz descer de sua “alta posição” para receber em sua
casa o Messias que ele queria ver. Exatamente o “ver” é outro fio da narrativa.
Zaqueu quer ver Jesus e, para isso, eleva-se acima de sua própria estatura, mas
o que acontece é que Jesus vê Zaqueu e lhe concede a graça de um “autoconvite”
em sua casa. O terceiro fio, o mais importante, é o da passagem de Jesus.
Aparentemente, é a passagem de um peregrino que inicia, em Jericó, a subida de
1.200 metros de altura até Jerusalém, mas, de repente, essa passagem se
transforma numa visita (ainda que autoconvidada) que cumpre a expectativa da
“visitação” salvífica de Deus a seu povo (tema caro a Lucas: 1,68.78; 7,16; cf.
1,43; 19,44). “Hoje devo ficar na tua casa” (19,5); “Hoje a salvação entrou
nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão” (19,9). Observe-se
que Lucas, por enquanto, só enfoca o ambiente de Israel (“um filho de Abraão”,
pois a plena universalidade da visita de Deus à humanidade só se dará depois da
Páscoa-Pentecostes, quando Deus derramar seu Espírito universalmente – At 2,17-21,
sentido pleno da profecia de Jl 2,28-3,2). Nesta “visita” programática (pois
deverá ser completada pela Páscoa, para a qual Jesus está subindo, e pelo
Pentecostes), acontece o que deve acontecer: a salvação de Deus alcança seu
povo, e isso se manifesta na transformação do rico baixinho em um homem humilde
e de grande misericórdia: “O Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava
perdido” (19,10). O efeito da misericórdia que provoca a misericórdia pode ser
constatado matematicamente: “Senhor, eu dou a metade de meus bens aos pobres, e
se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais” (19,8). Mandou logo sacar
da sua conta clandestina na Suíça… (Pe. Johan Konings, sj)
Fonte: CNBB - Missal Cotidiano (Paulus)
Foto retirada da internet
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