Livro do Êxodo 32,7-11.13-14
Moisés subiu ao Monte Sinai para falar com Deus e recebeu as
duas Tábuas da Lei nas quais estavam gravados os Dez Mandamentos. Durante o
tempo em que Ele esteve a falar com o Senhor, os Israelitas fabricaram um
bezerro de ouro e entronizaram-no como seu deus, realizando uma festa em sua
honra.
Este impressionante diálogo entre Deus e Moisés põe em
evidência os elementos fundamentais da história da salvação, a saber, a
aliança, o pecado, a fidelidade divina e a sua misericórdia. O texto foi
escolhido em função do Evangelho: as parábolas da misericórdia.
11 «Moisés procurou aplacar o Senhor». É uma figura de
Cristo Mediador, que também subia frequentemente ao monte para orar: Moisés intercede
muitas vezes em favor do povo pecador: Ex 5 22-23; 8,4; 9,28; 10,17; Nm 11,2;
14,13-19; 18,22; 21,7. E Deus aceita esta oração, que faz apelo à sua
fidelidade à aliança e à sua misericórdia (v. 14).
Segunda Leitura
Carta de São Paulo a Timóteo 1,12-17
S. Paulo, na Primeira Carta ao seu discípulo Timóteo, dá
testemunho da misericórdia do Senhor e proclama que também ele beneficiou dela.
O mesmo pode dizer cada um de nós, recorrendo à experiência da própria vida.
Iniciamos hoje a leitura de textos respigados das chamadas
Cartas Pastorais, escritos paulinos dirigidas a pessoas singulares, pastores da
Igreja, com normas para a organização das comunidades de Éfeso (1 e 2 Tim) e de
Creta (Tit). O texto desta leitura é um maravilhoso hino de ação de graças de
Paulo pela sua vocação de Apóstolo, bem consciente da sua indignidade –
«blasfemo, perseguidor, violento», embora de boa fé, «por ignorância» (v. 13) –
e da grandeza do dom de Deus, uma «graça que superabundou» (v. 14). Esta ação
de graças culmina numa doxologia final, de sabor litúrgico (v. 17).
15 «É digna de fé…» Esta fórmula solene, própria das Cartas
Pastorais (cf. 1 Tim 3,1; 4,9; 2 Tim 2,11; Tit 3,8), põe em relevo a
importância doutrinal do que se diz neste versículo, um dos pontos centrais da
fé cristã: a obra redentora de Cristo, que «por nós homens e pela nossa
salvação desceu dos Céus…» (Credo de Niceia). A misericórdia que Deus mostrou
para com Paulo é suficiente para inspirar confiança a qualquer pecador que
queira arrepiar caminho.
Evangelho
Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas
15,1-32
A misericórdia do Senhor é o amor gratuito de Deus a cada um
de nós, recomeçando sempre, todas as vezes que nos afastamos d’Ele.
A leitura de hoje, na sua forma longa, engloba todo o cap.
15 de S. Lucas, com as três parábolas da misericórdia divina; todas as três
põem em evidência a alegria que Deus sente com o reencontro com o pecador,
representado na ovelha perdida (vv. 4-7), na dracma perdida (8-10) e no filho
perdido (11-32). Nas duas primeiras, Deus é representado à procura do pecador;
na terceira, no impressionante acolhimento que lhe presta. Estas parábolas são
exclusivas do Evangelho de S. Lucas; a parábola da ovelha perdida também
aparece em Mt 18,10-14, mas num outro sentido: visa o cuidado que os chefes da
Igreja devem pôr em não deixar que se perca nenhum dos pequeninos, isto é,
aqueles fiéis que pela sua fragilidade correm mais risco de se perderem.
Alguém considerou a parábola do filho pródigo «o evangelho
dos evangelhos». É a mais bela e a mais longa das parábolas de Jesus,
impregnada duma finíssima psicologia própria de quem no-la contou, Jesus, que
conhece a infinita misericórdia do coração de Deus, que é o seu próprio
coração, e que penetra na profundidade da alma humana (cf. Jo 2,25), onde se
desenrola o tremendo drama do pecado. «Aquele filho, que recebe do pai a parte
do património que lhe corresponde, e abandona a casa para o desbaratar num
país longínquo, vivendo uma vida libertina, é, em certo sentido, o homem de
todos os tempos, começando por aquele que em primeiro lugar perdeu a herança da
graça e da justiça original. A analogia neste ponto é muito ampla. A parábola
aborda indiretamente todo o tipo de rupturas da aliança de amor, todas as
perdas da graça, todo o pecado» (Encíclica Dives in misericordia, nº 5; ver tb.
Catecismo da Igreja Católica, nº 1439).
12 «Dá-me a parte da herança»: segundo Dt 21,17
pertencia-lhe um terço, havendo só dois filhos. O pai podia fazer as partilhas
em vida (cf. Sir 30,28ss).
13 «Partiu…»: o pecado do filho foi abandonar o pai,
esbanjar os seus bens e levar uma vida dissoluta.
14-16 «Uma grande fome: é a imagem do vazio e insatisfação
que sente o homem quando está longe de Deus, em pecado. «Guardar porcos» era
uma humilhação abominável para um judeu, a quem estava proibido criar e comer
estes animais impuros. Esta situação para um filho duma boa família era
absolutamente incrível, o cúmulo da baixeza e da servidão. As «alfarrobas»: o
rapaz já se contentaria com uma tão indigesta e indigna comida, mas, na hora de
se dar uma ração dessas aos porcos, ninguém se lembrava daquele miserável
guardador! Aqui fica bem retratada a vileza do pecado e a escravidão a que se
submete o homem pecador (cf. Rom 1,25; 6,6; Gal 5,1). O filho pretendia ser
livre da tutela do pai, mas acaba por perder a liberdade própria da sua
condição: imagem do pecador que perde a liberdade dos filhos de Deus (cf. Rom
8,21; Gal 4,31; 5,13) e se sujeita à tirania do demónio, das paixões.
17 «Então, caindo em si…» A degradação a que a loucura do
seu pecado o tinha levado fê-lo refletir (é o começo da conversão) e enveredar
pela única saída digna e válida.
18-19 «Vou-me embora»: A tradução latina (surgam =
levantar-me-ei) do particípio gráfico (mas não ocioso) do original grego –
«levantando-me, vou ter…» – é muito mais expressiva do que a tradução
litúrgica, pois, duma forma viva, indica a atitude de quem começa a erguer-se
da sua profunda miséria.
«Pequei contra o Céu e contra ti»: nesta expressão
retrata-se a dimensão transcendente do pecado; não é uma simples ofensa a um
homem, é ofender a Deus, uma ofensa de algum modo infinita! O filho não busca
desculpas, reconhece sinceramente a enormidade da sua culpa.
«Trata-me como um dos teus trabalhadores». É maravilhoso
considerar como naquele filho arrependido começa a brotar o amor ao pai; o que
ele ambiciona é ir para junto do pai, estar junto a ele é o que o pode fazer
feliz! Melhorar a sua situação material não é o que mais o preocupa, pois, para
isso, qualquer proprietário da sua pátria o podia admitir como jornaleiro;
assim a parábola não descreve uma atitude interesseira do filho, mas a
humildade e a contrição de quem se reconhece pecador. Por outro lado, ele não
se atreve a pedir ao pai que o admita no gozo da sua antiga condição de filho,
porque reconhece a sua indignidade: «já não mereço ser chamado teu filho».
20 «Ainda ele estava longe, quanto o pai o viu». Este
pormenor faz pensar que o pai não só desejava ansiosamente o regresso do filho,
mas também, muitas vezes, observava ao longe os caminhos, impaciente de ver o
filho chegar quanto antes, uma enternecedora imagem de como Deus aguarda a
conversão do pecador. «Encheu-se de compaixão»: o verbo grego é muito
expressivo e difícil de traduzir com toda a sua força, esplankhnístê:
«comoveram-se-lhe as entranhas» (tà splánkhna). «E correu…»: é impressionante o
contraste entre o pai que corre para o filho e o filho que simplesmente caminha
para o filho – «a misericórdia corre» (comenta Sto. Agostinho); «cobrindo-o de
beijos», numa boa tradução que tem em conta a forma iterativa do verbo grego, é
uma belíssima e expressiva imagem do amor de Deus para com um pecador
arrependido!
21 «Pai, pequei». Apesar de se ver assim recebido pelo pai,
o filho não se escusa de confessar o seu pecado e de manifestar a atitude
interior que o move a regressar.
22 «A melhor túnica, o anel, o calçado», são uma imagem da
graça, o traje nupcial (cf. Mt 22,11-13); assim nos espera o Senhor no
Sacramento da Reconciliação, não para nos ralhar, recriminar, mas para nos
admitir na sua antiga intimidade, restituindo-nos, cheio de misericórdia, a
graça perdida.
23 «Comamos e festejemos», a imagem da Sagrada Eucaristia,
segundo um sentido espiritual corrente.
25-32 «O filho mais velho»: esta segunda parte da parábola
não se pode limitar a uma censura dos fariseus e escribas (v. 2), cumpridores,
mas insensíveis ao amor – o mais velho é que é, no fim de contas, o filho mau
–; a parábola é também uma lição para todos, a fim de que imitem a misericórdia
de Deus para com um irmão que pecou (cf. Lc 6,36); ele é sempre «o teu irmão»
(v. 33), e não há direito de que não se tome a sério a misericórdia de Deus,
com aquela despeitada ironia: «esse teu filho» (v 30). A misericórdia de Deus é
tão grande, que ultrapassa uma lógica meramente humana; esta segunda parte da
parábola põe em evidência a misericórdia de Deus a partir do contraste com a
mesquinhez do filho mais velho.
Sugestões para reflexão
1. O afastamento dos caminhos de Deus
Moisés subiu ao monte Sinai para receber as tábuas da Lei e
permaneceu ali em diálogo com o Senhor bastante tempo.
Cansados de esperar, os hebreus recolheram objetos de ouro,
fundiram-no, e com ele fabricaram um bezerro de ouro e aclamaram-no com deus,
realizando grandes festejos para celebrar o acontecimento.
Moisés, cheio de ira santa, quebrou as tábuas da Lei, mas
logo intercedeu pelo Povo que o Senhor lhe confiara, para que perdoasse este
grave pecado de idolatria. Ele aparece nesta passagem, com a sua mediação, como
uma figura de Jesus Cristo.
Em nossa caminhada pelo deserto, rumo à Terra da Promissão,
também fabricamos ídolos para que ocupem o lugar do verdadeiro Deus.
a) Os nossos ídolos. «Fizeram um bezerro de
metal fundido, prostraram-se diante dele, ofereceram-lhe sacrifícios e
disseram: ‘Este é o teu Deus, Israel, que te fez sair da terra do Egito’»
Embora afirmemos com muita convicção de que adoramos um só
Deus, como se preceitua no Primeiro Mandamento, também fabricamos a adoramos
ídolos, à semelhança dos hebreus.
– A sensualidade. Está a contaminar tudo: o namoro, o
matrimónio, a família e os momentos livres.
Para mais, perdeu-se a delicadeza de consciência no que diz
respeito a esta matéria. As pessoas são capazes de palavras, atitudes e espetáculos
que ofendem gravemente a Deus e aproximam-se da Sagrada Comunhão tranquilas
como se tivessem a alma limpa.
– O ventre. Já S. Paulo se queixava daqueles cujo deus é o
ventre. A gula, a boa mesa, o esbanjamento em comidas e bebidas é um sinal dos
nossos dias.
– O dinheiro. Somos tentados a correr atrás dele, sem olhar
à justiça nem à religião. Arranjam-se trabalhos durante a semana e no fim de
semana. Não fica tempo para participar na Missa dominical, nem para a oração ou
vida de família. Ganha-se mais para gastar mais. Os pais confundem amor aos
filhos com dar-lhes muitas coisas. Muitas vezes, quando pretendem ajudá-los, é
demasiado tarde.
Cometem-se injustiças nos tribunais para se apoderarem do
que não lhes pertence, e fazem-se dívidas que não se pagam.
– A afirmação pessoal. Procura-se uma ostentação de um falso
nível de vida, para impressionar os outros.
b) A mediação. «Por que razão, Senhor, se
há de inflamar a vossa indignação contra o vosso povo, que libertastes da terra
do Egito com tão grande força e mão tão poderosa?»
Moisés intercede pelo Povo que o Senhor lhe confiara, para o
conduzir através do deserto, e obtém para ele o perdão de Deus.
Em Fátima, Nossa Senhora pediu-nos esta mediação suplicante:
«Vão muitas pessoas para o inferno, por não haver quem reze e se sacrifique por
elas.»
Em vez de nos deixarmos arrastar por um escândalo farisaico
e cair murmuração que nada soluciona, rezemos pelas pessoas e, se pudermos,
procuremos ajudá-las.
c) A conversão pessoal. O Povo de Deus
arrepende-se e promete fidelidade ao Senhor. Desta conversão fez parte a
destruição do mal – do bezerro de ouro – e a penitência: depois de reduzido a
pó o ídolo (bezerro de ouro) o Senhor mandou lançá-lo em água e dá-la a beber
aos Israelitas, como que para significar uma destruição total daquele gesto
condenável dos hebreus.
Toda a conversão se concretiza nisto: destruir os ídolos e
voltar-se para Deus definitivamente, embora possa haver fragilidades.
2. O caminho do regresso
a) O Senhor deseja o nosso regresso e espera-o.
«Eu vos digo: Assim haverá alegria entre os Anjos de Deus por um pecador que se
arrependa.»
Por vezes, as pessoas têm medo de regressar a Deus, com
receio de não serem acolhidas. Transferem para a Sua relação com Deus as
experiências amargas da convivência com as outras pessoas neste mundo.
Nas três parábolas da misericórdia, Jesus Cristo ensina-nos
que a maior alegria que podemos dar a Deus é regressarmos ao Seu Amor e aceitar
o Seu perdão generoso. As portas da Sua misericórdia estão sempre abertas e
convidam-nos a entrar. Nós próprios sentimos continuamente dentro de nós o Seu
chamamento.
b) A decisão é nossa. Nas parábolas da
ovelha tresmalhada e da dracma perdida não há manifestação de uma nem de outra
para serem encontradas, porque não têm vontade.
Na parábola do filho pródigo, o caso é muito diferente. Ele
dá largas ao seu sonho ingénuo de ser feliz longe de toda a lei e de todo o
amor e acaba por reconhecer o seu erro.
Curiosamente, não foi a dor do sofrimento que tinha causado
aos seus que o levaram ao regresso, mas a fome, a ameaça de morte.
A sua decisão está expressa na palavra: «Levantar-me-ei!» No
primeiro momento em que manifestarmos ao Senhor que estamos mal e queremos
libertar-nos desta situação, Ele virá em nosso auxílio.
c) A confissão, caminho do regresso. Jesus
deixa muito claro que o regresso tem uma orientação necessária: ir ao encontro
do Pai e reconciliar-se com ele. A Igreja ensina que não há outro caminho
ordinário e normal para o perdão dos pecados a não ser a confissão e a
absolvição individuais. Estamos perante um dogma de fé que a Igreja professou
sempre e, num dado momento da sua história, se viu forçada a defini-lo.
Mesmo quando, em perigo de vida e noutras situações que ela
aponta, é indispensável, depois, a confissão individual dos pecados.
Nesta parábola, Jesus ensina-nos como nos havemos de
confessar.
– Cair em si. É o reconhecimento da situação em que nos
encontramos. Sem a consciência de que temos pecados, não receberíamos
validamente a absolvição. Fazemos isto, por meio do exame de consciência.
– Propósito de emenda. Trata-se de abandonar a vida de
escravidão em que nos encontrávamos e regressar à liberdade: «Levantar-me-ei e
irei ter com meu pai!»
Sem esta mudança radical de propósito não há conversão e,
por isso, não há confissão verdadeira.
– Confissão sincera. Este jovem declara a sua culpa ao
chegar junto do pai: «Pequei contra o Céu e contra ti!»
– Humildade profunda: «Já não sou digno de ser chamado teu
filho!»
– A festa do regresso. Deus prepara uma festa:
pela alegria que nos dá;
pelo banquete que nos oferece.
Fonte: presbiteros.com.br
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