Roteiro Homilético 19º Domingo do Tempo Comum Ano “C”

Primeira Leitura

Livro da Sabedoria 18,6-9

A primeira leitura lembra como Deus cumpriu a promessa que tinha feito ao Seu povo de o libertar da escravidão do Egito.

A leitura é extraída da última parte do livro da Sabedoria (16 – 18), onde se exalta a Providência divina ao castigar os egípcios e salvar os israelitas. Pertence ao género literário chamado «midraxe hagadá»: é uma piedosa meditação sobre a história sagrada, em que a intenção edificante lança mão da imaginação, sem grande preocupação pelo rigor histórico. 

6 «Noite… dada previamente a conhecer», segundo Gn 15, 13-14; 11, 4-7; 12, 21-23.

9 «Ofereciam sacrifícios em segredo», alusão a Ex 12, 46, onde se diz que o cordeiro pascal era sacrificado e comido no interior das próprias casas. A referência a «cantar os hinos» tem em conta o hagadá de Páscoa, que prescrevia para a Ceia Pascal o canto dos Salmos do chamado grande Hallel (113 – 118; cf. Mt 26, 30), que cantavam os favores divinos para com o seu povo.

Segunda Leitura

Carta aos Hebreus 11,1-2.8-19

Tirada da carta aos Hebreus, esta leitura celebra a fé dos homens do Antigo Testamento, concentrando a atenção em Abraão o «pai dos crentes» e Sara, pois acreditaram e confiaram na Palavra de Deus, sabendo esperar contra todas as evidências.

A leitura é um eloquentíssimo elogio da fé, uma das mais notáveis páginas de toda a Escritura. Depois de definir o que é a fé, mostra como todas as grandes figuras do Antigo Testamento resplandeceram por uma vida de fé. Aqui temos apenas um pequeno extrato do capítulo 11 da epístola.

1 «A fé é a garantia dos bens que se esperam». As realidades que esperamos na outra vida ainda não são uma realidade de que tenhamos uma posse palpável, mas a fé é já uma base ou garantia de que estão ao nosso alcance. Mas há uma outra interpretação que entende o termo grego (traduzido no leccionário por garantia), «hypóstasis» (substância, à letra, o que está por baixo, o suporte) no sentido de consistência: assim, a fé como que dá corpo e consistência na alma do crente àquelas realidades divinas reveladas por Deus que esperamos vir a possuir em plenitude, (mas, para uma pessoa que não tenha fé, aparecem como inconsistentes, mera alienação,).

«A certeza das realidades que não se veem». O termo grego élenkhos foi traduzido pela palavra «certeza», com efeito, assim como uma demonstração nos dá a certeza de algo não evidente por si, assim também a fé nos dá a certeza de todas as verdades divinas que se não veem, uma vez que a fé se apoia numa revelação de Deus que não se engana nem nos pode enganar.

8-19 O exemplo da fé de Abraão está em relação com diversas passagens do Génesis do «ciclo de Abraão» (Gn 12, 1 – 23, 20).

10 Cidade… cujo arquiteto e construtor é Deus», isto é, «a pátria celeste» (cf. v. 16). Esta passagem concorda com uma tradição judaica que diz que Deus mostrou a Abraão a Jerusalém celeste (cf. Apocalipse Siríaco de Barukh).

11 Pela fé, também Sara… A inicial incredulidade de Sara acabou por dar lugar a uma atitude de fé (cf. Gn 18, 10-13).

19 «Prefiguração» (à letra, «parábola», também se podia traduzir por «símbolo»). Desde os Padres Apostólicos que a Tradição da Igreja viu no Sacrifício de Isaac uma figura da Morte e Ressurreição (a recuperação do filho) de Cristo.

Evangelho

Segundo Lucas 12,32-48

Na sequência do Domingo anterior (Lc 12,13-21), este trecho é extraído duma secção do III Evangelho (Lc 12 – 14), em que predominam os ensinamento de Jesus, sobretudo os de carácter escatológico, com apelos à vigilância e a viver desprendido, com os olhos postos no reino que há de vir. A leitura começa (vv. 32-34) com o final da longa exortação ao abandono na Providência amorosa de Deus e ao desprendimento dos bens efémeros.

32 «Pequenino rebanho». Apesar de poucos e sem recursos humanos, os discípulos nada têm a temer, pois foram admitidos no Reino de Deus que é indestrutível (cf. Lc 1,33).

33-34 «Tesoiro inesgotável nos Céus». O texto paralelo de S. Mateus é mais desenvolvido (cf. Mt 6,19-21). Como o nosso coração é forçosamente atraído pelo que ele julga ser o «tesoiro», temos de ter a sensatez de não nos defraudarmos a nós próprios erigindo em tesoiro – bem supremo, fim último – as coisa da terra, trocando o efémero e caduco pelo eterno. As boas obras, a esmola e as obras de misericórdia em geral (cf. Mt 25, 31-46) constituem uma riqueza que não se perde, pois essas obras terão uma recompensa eterna nos Céus.

35-48 Na forma longa do Evangelho de hoje, podemos distinguir três parábolas: a dos criados vigilantes (vv. 35-36), a do ladrão (v. 39) e a dos servos administradores (o fiel: vv. 42-44 e o infiel: vv. 45-48). As duas primeiras referem-se à necessidade da vigilância e a terceira à necessidade da fidelidade.

35-37a «Rins cingidos», isto é, as cintas apertadas, num gesto então habitual, próprio de quem, para trabalhar, arregaçava a túnica com um cinto. «As lâmpadas acesas», isto é, em atitude de vigilância ao longo da noite; é assim que devem estar vigilantes os discípulos de Jesus, «como homens que esperam o seu senhor voltar do casamento», a uma hora incerta.

37b «Em verdade vos digo… os servirá». Aqui já deixamos propriamente de ter a «parábola», uma vez que se acabou toda a «semelhança» com a vida corrente: não são os servos a servir o seu patrão (cf. 17, 7-9), mas é o dono a servir os criados! É uma alegoria que exprime como, no momento da sua vinda, Jesus recompensará, um a um – «passando diante deles» – os seus servos vigilantes, servindo-lhes o «banquete» da vida eterna.

39 «A que hora viria o ladrão». Esta segunda parábola, que já não se refere a um criado, mas a um senhor, é também um convite à vigilância, pondo em evidência como a vinda do Senhor será de improviso, sem o dono da casa poder calcular o dia do assalto; os criados da parábola anterior sabiam que era naquela noite que o seu patrão chegava da boda, embora ignorassem a hora, mas aqui o dono da casa não sabe nem o dia nem a hora. Daqui o sério apelo: «Estai vós também preparados».

41 «É para nós que dizes essa parábola?» Esta pergunta de Pedro parece referir-se à primeira parábola, concretamente à afirmação de Jesus no v. 37b, que muito o devia ter impressionado; mas Jesus não responde à pergunta, e propõe uma nova parábola, a do administrador fiel (vv. 42-46), a mesma do «servo fiel e prudente» de Mt 4, 45-51, embora com um matiz próprio: precisamente o facto de se chamar este servo «administrador» indica a intencionalidade de referir a parábola aos apóstolos, «os administradores dos mistérios de Deus», de quem se exige uma fidelidade total (cf. 1 Cor 4,1-2).

42-48a Na parábola, temos um criado feito administrador da casa durante um certo período de ausência do patrão, o qual tem de dirigir os criados e criadas e, concretamente, de lhes dar diariamente a sua ração de alimento. A parábola do administrador contempla duas hipóteses: a da administração fiel e sensata (vv. 42-44) e a da má administração (v. 45-46). Na primeira, a condição é posta sob a forma duma pergunta retórica (v. 42) que equivale à afirmação: «se o administrador que o senhor colocou à frente do seu pessoal, para lhe dar, no devido tempo, a sua ração de trigo, for fiel e prudente…, pô-lo-á à frente de todos os seus bens».

48b «A quem muito foi dado…». Temos aqui a forma impessoal da voz passiva para, segundo o costume judaico, evitar pronunciar o nome inefável de Deus, por motivo de respeito, equivalendo a: «a quem Deus muito deu…». Os versículos 47-48, que não aparecem no lugar paralelo de S. Mateus, explicitam como no dia de juízo haverá uma desigualdade de castigos proporcionada à responsabilidade de cada um. É fácil perceber que os discípulos de Jesus são aqueles que «sabem o que o Senhor quer» (v. 47) e aqueles «a quem muito foi dado» (v. 48).

Sugestões para reflexão

A fidelidade de Deus

Com eventos comemorativos, todos os povos recordam os feitos dos seus antepassados através de estátuas, dias festivos ou paradas. Estes momentos servem para lembrar os grandes acontecimentos vividos no passado e assim incutir coragem aos que vivem no presente.

Tal aconteceu com Israel, como nos relata a primeira leitura. Em todos os momentos da sua história, quando se sentiu explorado ou oprimido procurou meditar no seu passado. Ao fazê-lo, descobriu que Deus lhe foi fiel e nos momentos mais difíceis o protegeu e sempre libertou. Isso dava coragem ao povo para revigorar as suas forças nas adversidades presentes, aguardando o futuro com mais esperança. Então, brotavam dos seus lábios cânticos de louvor e de agradecimento suscitando no povo a confiança que fortalecera seus pais. Por isso, se reuniam regularmente para celebrar e recordar esses acontecimentos outrora vividos.

Conosco acontece o mesmo. Todos os domingos celebramos e tornamos presente o grande amor e a fidelidade de Deus, por nos ter dado o seu Filho. Ao ressuscitá-Lo afiançou-nos que a história de cada um de nós, embora marcada por ocorrências contraditórias e trágicas, acabará de maneira bem-aventurada se a soubermos viver, sem medo, em celebração vigilante.

Vivida em celebração vigilante

De facto, o pior inimigo do cristão é o medo. A Palavra de Jesus dirigida aos seus discípulos, e hoje para nós proclamada, exorta-nos a não termos medo, mesmo sabendo que vivemos num mundo hostil e paganizado, onde o mal é forte e parece crescer em invencibilidade. O Mestre garante-nos que o Reino de Deus há de vir com toda a certeza, porque não é obra do homem, mas dom de Deus.

Como lemos no Evangelho, Jesus exorta a manter a atitude vigilante dos servos. Não sabemos quando chegará o Senhor; por isso, o prudente é estar em guarda, ter tudo pronto, como se fosse chegar de um momento para o outro. Jesus convida a viver cada dia como se fosse o último. Todo o discípulo, pois, deve tomar esta disposição de espera vigilante numa contínua disponibilidade para o serviço aos outros. Agora temos tempo e podemos fazê-lo; agora podemos crescer por dentro. Empenhemo-nos em fazer hoje o que no final da nossa vida quereríamos ter feito ou ter sido. O que possamos fazer atualmente não o deixemos para amanhã, porque pode ser que esse amanhã não chegue nunca.

A vigilância celebrativa que se nos pede traduz-se na responsabilidade do serviço a favor dos outros, enquanto temos tempo para o fazer. Essa responsabilidade há de ser exercida na comunidade cristã e civil, na família, com os vizinhos e com todos aqueles com quem contatamos. Todos somos responsáveis em ajudar a crescer como pessoas e como cristãos aos que nos rodeiam e aonde o Senhor ainda não chegou: onde há litígios, ódios, destruição, fome, miséria ou vinganças. Ele pode chegar dum momento para outro, precisamente aí onde ainda não chegou. Ele espera pelo momento mais oportuno para salvar; é preciso estar preparado para O acolher de maneira que a sua vinda não seja em vão. Temos de esperar com toda a esperança a sua vinda.

Este optimismo perante a vinda do Senhor leva-nos a não nos distrairmos e a sabermos acolher o pobre que nos bate à porta, o amigo que nos convida a fazer o bem, o companheiro que nos solicita ajuda, a esposa, o marido ou os filhos que carecem de atenção, a sabermos «ser» sem pensarmos apenas no «ter» a que a vida quotidiana deste mundo nos convida. Esta espera esperançosa terá de ser intimamente inspirada na fé.

Inspirada na fé

A isso nos incita a segunda leitura apresentando-nos o exemplo de Abraão e de Sara que souberam esperar com fé, contra todas as probabilidades. Apesar da idade, ambos acreditaram nas promessas de Deus e fizeram o que o Senhor lhes pedira: partiram para uma terra desconhecida. Contra toda a lógica humana acreditaram que o Senhor lhes daria uma numerosa descendência. É certo que eles apenas viram um pequeno sinal como realização de tantas promessas: um filho débil e uma terra apreciada apenas de longe. Mas, mesmo assim, confiaram à mesma.

Também nós, como os hebreus a quem foi dirigida esta Carta, somos por vezes tentados a desanimar. Esperamos ansiosamente as promessas de libertação, de justiça e de paz anunciadas por Jesus e não as vemos realizadas. Continuamos a ver à nossa volta lutas, traições, infidelidades, corrupção, injustiças. É nestes momentos que a nossa fé é provada. São essas as ocasiões em que devemos continuar a acreditar, insistindo como Abraão e Sara, crendo que um dia, certamente, há de chegar a salvação plena.

Estejamos, pois, atentos e vigilantes e, com toda a fé, preparados para acolher essa vinda do Senhor à nossa «casa», a fim de que nela não encontre «vazios» que deveríamos ter enchido a seu tempo, quando nos foi oferecida tal oportunidade.

Fonte: presbiteros.com.br
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