Introdução ao espírito da
Celebração
Celebramos a festa das festas, a Ressurreição gloriosa de
Jesus. É para nós o dia de alegria maior durante o ano litúrgico. Pela
Eucaristia Cristo ressuscitado torna-se presente aqui no meio de nós, como há
dois mil anos. E quer vir mais uma vez ao nosso coração, purificado pela
penitência quaresmal e pelo sacramento do perdão.
Primeira Leitura
Atos dos Apóstolos 10,34a.37-43
S. Pedro foi a casa do centurião Cornélio para o batizar a
ele e à sua família. Ali proclama a ressurreição de Jesus. Ele e os apóstolos
foram testemunhas dessa ressurreição e encarregados de a anunciar a todos povos
da terra.
O texto faz parte do corpo do discurso de Pedro em Cesareia
na casa do centurião Cornélio, o qual tinha mandado chamar Pedro a Jope, ilustrado
por uma visão (cf. Act 10,1-33). Este discurso tem um carácter mais catequético
e apologético do que propriamente missionário, como seria de esperar num
primeiro anúncio da fé a um gentio (embora se tratasse dum «temente a Deus»: v.
2). Lucas redige este discurso a pensar mais nos leitores da sua obra, do que
com a preocupação de reconstruir exatamente a cena originária e as mesmas
palavras pronunciadas naquela circunstância; com efeito, começa por fazer
referência ao Evangelho já antes pregado aos ouvintes: «vós sabeis o que
aconteceu…», e também parece que dá por suposta a fé no valor salvífico da Cruz
(cf. v. 39b) e não termina, como seria de esperar, com um apelo explícito à
conversão. Assim, Lucas nos deixou mais uma bela síntese do que era o Evangelho
pregado pela Igreja primitiva.
38 «Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus». Esta
nova tradução litúrgica desfez a hendíadis tão própria da estilística hebraica
(ungiu de Espírito Santo e de fortaleza), recorrendo, por motivo de clareza, a
uma equivalência dinâmica, (a força que é o Espírito Santo). Deus (o Pai)
concedeu à natureza humana de Jesus todos os dons do Espírito Santo, que Lhe
competiam a partir do momento da Incarnação; estes dons manifestam-se
visivelmente nos milagres de Jesus, nas teofanias do Batismo e da
Transfiguração e muito particularmente na Ressurreição. A unção era o rito que
constituía os reis e os sacerdotes na sua função; assim, a união hipostática em
Jesus aparece como uma unção da natureza humana de Jesus, «que passou fazendo o
bem e curando a todos» (maravilhoso resumo da vida de Jesus, bem ao sabor do
Evangelista da bondade).
41 «Não a todo o povo». Jesus não se mostra a todos depois
de ressuscitado, não só para não violentar a liberdade das pessoas, mas também
porque está nos planos divinos conduzir o mundo à salvação mediante o
ministério dos seus discípulos (testemunhas de antemão designadas por Deus) e
mediante a fé, que é meritória (cf. Rom 1, 16-17). Note-se o acento que se põe
no testemunho acerca da Ressurreição; não estamos apenas perante uns simples
pregadores (cf. v. 42a) duma mensagem salvadora, mas diante de verdadeiras testemunhas
(cf. v. 42b), que dão testemunho (o verbo grego tem um matiz forense) capaz de
fazer fé em tribunal. A ideia de testemunho é fortemente acentuada neste breve
texto, não só por ser repetida quatro vezes (vv. 39.41.42.43), mas também por
se tratar de testemunhas escolhidas por Deus para esta missão (v. 41), que
conviveram com o Ressuscitado, comendo e bebendo com Ele, o que exclui logo à
partida a hipótese de se tratar de mera fantasia (Lucas mostra especial
sensibilidade a este problema: cf. Lc 24,37-43).
Segunda Leitura
Carta de São Paulo aos Colossenses 3,1-4
A ressurreição de Jesus garante a eficácia da redenção que
Ele realizou e que atua em nós pelo baptismo. Por ele ressuscitámos com Cristo
e vivemos a vida nova da graça. Um dia o nosso corpo ressuscitará também com
Ele.
Com estas palavras é introduzida a parte final da Carta, uma
série de exortações morais para que os fiéis tenham um modo de viver coerente
com a fé cristã. A sua conduta moral é uma consequência natural da profunda
união com Cristo ressuscitado produzida pelo Batismo recebido.
1 «Aspirai às coisas do alto» corresponde ao mesmo
incitamento que, na Santa Missa, a Igreja sempre nos repete: Sursum corda!
Corações ao alto!.
3-4 «Vós morrestes». A nossa união a Cristo pressupõe a
morte para o pecado, que não pode reinar mais em nós (cf. Rom 6). Com Cristo
morto pelos nossos pecados, morremos para o pecado; com Cristo ressuscitado,
vivemos vida de ressuscitados. É a «vida» da graça, uma vida toda interior,
«escondida» no centro da alma, vida que ninguém nos pode arrebatar, vida que é
toda feita de presença de Deus e de visão sobrenatural, levando-nos a
santificar todos os afazeres diários, trabalhando com os pés bem firmes na
terra, mas o coração e o olhar fixos no Céu.
Evangelho
Segundo João 20,1-9
S. João conta-nos a sua ida ao sepulcro no dia de Páscoa.
Viu e acreditou. Também nós acreditamos. Cheios da alegria da Páscoa, aclamemos
a Jesus ressuscitado.
Nenhum dos quatro Evangelhos narra o facto da Ressurreição
de Jesus, pois não foi presenciado por testemunhas; era um facto sobrenatural
que, de si mesmo, escapava à experiência humana. E isto só vem dar
credibilidade ao facto da Ressurreição, pois, se se tratasse duma ficção, era
de esperar que se dessem os seus pormenores. S. João começa com a verificação
do túmulo vazio feita pela Madalena, mas vão ser os dois discípulos, que vão
fazer o reconhecimento do local e que verificam indícios eloquentes, aptos para
levarem à fé na Ressurreição de Jesus.
2 «Não sabemos…». Este plural parece aludir à tradição
sinóptica que conhece a ida de mais mulheres ao sepulcro. É evidente que não
houve a mínima preocupação de harmonizar os diferentes relatos evangélicos do
sepulcro vazio e das aparições, o que é um forte motivo de credibilidade a
favor da realidade da ressurreição, facto misterioso, que é a base de toda a fé
cristã (cf. 1 Cor 15, 12-19).
7-8 «Viu e acreditou». Porque começou a crer o discípulo? A
explicação habitual é que um ladrão não deixaria ficar os panos, e muito menos
em ordem. Mas há mais dados a ter em conta: porque é que o Evangelista atribui
tanta importância à diferente posição dos panos? É que as ligaduras e o lençol
estavam espalmados no chão da pedra tumular, ao passo que o pano que envolvera
a cabeça do Senhor não estava espalmado no chão, mas mantinha a forma da cabeça
que envolvera (cf. a nossa tradução na Nova Bíblia da Difusora Bíblica). Não
sabemos se Pedro partilhou da fé do Discípulo Amado, mas S. Lucas diz que ficou
maravilhado (cf. Lc 24,12). Os panos com que Jesus foi amortalhado eram com
toda a probabilidade: 1) um lençol mortuário (síndone), tecido largo e comprido
que envolvia todo o corpo; 2) um lenço (sudário) que cobria a cabeça e caia
sobre o rosto (e ajudaria a manter a boca fechada); 3) várias ligaduras que não
só serviam para manter apertados os pés um contra o outro e as mãos unidas ao
corpo, mas também que poderiam ajudar a aconchegar a síndone ao corpo. S. João
não fala especificamente desta síndone, mas deve englobá-la na designação
genérica de «ligaduras» (em grego, othónia).
9 «Ainda não tinham entendido a Escritura». Os discípulos
não estavam psicologicamente predispostos a admitir a Ressurreição, para que
esta pudesse ser fruto de uma alucinação; com efeito, só depois de confrontados
com a realidade da ressurreição de Jesus é que se recordaram das Escrituras
(cf. 1Cor 15,4; At 2,24-32; Jo 2,22) e as entenderam. A ressurreição era uma
realidade só admissível para o fim do mundo (cf. Jo 11,24), pois, apesar de
Jesus ter anunciado a sua ressurreição ao terceiro dia, este só poderia ser o
dia final, de acordo com a profecia de Oseias (Os 6,2). Diante do sepulcro
vazio, só pensam num roubo (vv. 2.13.15) e não dão crédito a quaisquer notícias
das aparições (cf. Mc 6,11.13; Lc 24,21-24; Jo 20,25).
Sugestão para reflexão
Viu e acreditou
Celebramos a morte e ressurreição de Jesus, que é o mistério
central da nossa fé. É a festa da alegria por excelência. É a vitória de Jesus
sobre a morte. sobre o pecado, sobre o demónio. É a festa da nossa libertação.
Alegremo-nos com Jesus que está vivo, aqui nesta hora,
porque ressuscitou e vem até nós em cada Eucaristia. Avivemos a nossa fé nesta
presença de Jesus ressuscitado. Digamos-Lhe como Tomé.: Meu Senhor e meu Deus
(Jo. 20,29)
Jesus morreu para nos salvar e ressuscitou ao terceiro dia,
como tinha anunciado. Aos apóstolos custou-lhes acreditar. Quando as mulheres
foram ao sepulcro e vieram contar-lhes que os anjos lhes anunciaram que Jesus
estava vivo e que Ele próprio lhes tinha aparecido no caminho pensaram que elas
estavam a delirar.
S. João conta no evangelho de hoje que ele e Pedro foram ao
sepulcro para verificar o que Madalena viera contar sobre o sepulcro vazio.
Viram o lençol em que o Senhor tinha sido envolvido e as ligaduras. Pela
maneira como estavam não tinha explicação humana. S. João diz que acreditou que
Jesus tinha de verdade ressuscitado.
Jesus apareceu no dia de Páscoa às mulheres, apareceu a
Pedro e aos dois discípulos de Emaús. À noite apresentou-Se aos apóstolos no
cenáculo. E porque tinham dúvidas, deixou que Lhe tocassem para verem que não
era apenas um espírito e até comeu com eles.
Mostrou-se de novo no domingo seguinte. Estava também Tomé,
ausente na aparição anterior, que não quisera acreditar no que lhe tinham
contado. Jesus diz-lhe: Tomé, mete os teus dedos nas minhas chagas e não sejas
incrédulo mas crente (Jo 20,27).
Apareceu depois na Galileia, à beira do lago. Comeu com
eles, após a pesca milagrosa que realizaram por Sua indicação. Viram-nO ao longo
de quarenta dias. Subiu ao Céu à vista deles no monte das Oliveiras.
Jesus quis deixar bem claro o facto da Sua Ressurreição.
Para que os Apóstolos não duvidassem. E para que todos nós pudéssemos também
acreditar.
O sepulcro vazio, que os judeus tinham mandado selar e
guardar era já prova da ressurreição.
Ele tinha morrido verdadeiramente como os soldados haviam
confirmado. Para não haver dúvidas atravessaram o Seu peito com uma lança. A
ressurreição mesmo historicamente é um facto que não admite dúvidas.
Além dos apóstolos e das santas mulheres, viram – No
ressuscitado mais de quinhentas pessoas – dizia S. Paulo aos Coríntios,
acrescentando que muitas delas ainda estavam vivas (Cf.1Cor 15,3-8).
A ressurreição é o grande milagre de Jesus. Manifesta a Sua
divindade e é fundamento da nossa fé.
Os Apóstolos foram testemunhas dignas de crédito e receberam
a missão de anunciar esse acontecimento por todas as partes do mundo. E deram a
sua vida por essa verdade.
Diz o Catecismo da Igreja Católica: «O mistério da
Ressurreição de Cristo é um acontecimento real, com manifestações
historicamente verificadas, como atesta o Novo Testamento. Já S. Paulo à volta
do ano 56, pôde escrever aos Coríntios: ‘Transmiti-vos, em primeiro lugar, o
mesmo que havia recebido: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as
Escrituras e, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro
dia: a seguir apareceu a Pedro, depois aos Doze’ (1 Cor 15, 3-4).O Apóstolo fala
aqui da tradição viva da Ressurreição, de que tinha tomado conhecimento após a
sua conversão, às portas de Damasco» (639)
Fonte: presbiteros.com.br
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