Na Última Ceia: festa e
comunhão, mas também pecado e fragilidade.
A dimensão antropológica, teológica e existencial do cear
juntos. Daí partiu a meditação do frade menor. “Colocou-se à mesa com os Doze”
– está escrito no Evangelho segundo São Mateus –, neste cear juntos está a
beleza da partilha, explicou o pregador, mas também a nossa humanidade, o
pecado e a fragilidade simbolizados no alimento, como narram muitos episódios
bíblicos, até a encíclica “Laudato si” do Papa Francisco, quando fala de egoísmo em relação ao alimento:
“Podemos imaginar o que deve ter acontecido naquela ceia. Era
uma festa: naturalmente os teólogos e os exegetas discutem muito sobre o
carácter pascal ou não dessa ceia. Mas é claro que era belo para eles estar
juntos. Estar juntos evidencia também a nossa humanidade. E esses elementos
estão presentes na ceia de Jesus: o primeiro, o do amor, com o qual essa ceia
foi preparada, e o amor que Jesus ofereceu com o alimento que doou. Mas há
também, nessa ceia, o ódio, a fragilidade, a divisão. Comer o alimento, se
pensamos bem, tem a ver propriamente com uma dimensão humana.”
É a dimensão da fraqueza, do reconhecer-se não
autossuficientes, e comer juntos é confessar aos outros essa condição de
criatura, “condição limitada”, como a que emerge também das ceias dos primeiros
cristãos narradas por São Paulo aos Coríntios, e marcadas – observou Pe.
Michelini – pelo apego de cada um ao próprio alimento e por uma falta de
verdadeira partilha.
E é emblemático que propriamente naquele quadro de
fragilidade da Última Ceia se apresente a traição de Judas, que ele de há muito
tramava.
Jesus deixa o sinal da sua
futura presença: doa todo seu ser em corpo e sangue
Porém, prosseguiu o pregador franciscano, é igualmente
emblemático que propriamente na noite em que foi traído, Jesus não retirou seu
dom e doou tudo aquilo que tinha para dar: corpo e sangue. Justamente através
do alimento comido juntos, Jesus deixa um exemplo e o sinal da sua futura
presença:
“Para nós que cremos em Jesus, é justamente a Palavra que se fez
carne. E portanto, tudo aquilo que Jesus, o filho, tinha oferecido de si, a sua
divindade, tinha sido oferecido com a Encarnação. Tudo aquilo que o Filho, que
o Verbo e a Palavra podia oferecer, na sua divindade, foi oferecido com a
Encarnação. Com diz Paulo: ‘Jesus, mesmo sendo de condição divina, não
considerou um privilégio o ser igual a Deus’. Portanto, eis que com aquele pão
agora a sua humanidade devia ser doada. É claro, naquela humanidade também
estão o Filho de Deus e a Palavra. Mas aquele pão é propriamente a carne,
porque é nessa carne que aquela Palavra se tornou tal; e, portanto, o Corpo e o
Sangue. Jesus é totalmente pobre, não porque viveu simplesmente de forma pobre,
mas porque não tem mais nada a defender. De fato, se pensamos bem, justamente
nesta ceia doa tudo aquilo que lhe restava.”
Somente com a Paixão se tem a
remissão dos pecados
Ao invés, é nas palavras de Mateus sobre o cálice, naquela
Última Ceia, frisou ainda o pregador, que ressalta um elemento original, ou
seja, o sangue de Jesus ligado ao perdão dos pecados.
“Será derramado por muitos, para a remissão dos pecados. Por
fim, quem lê esse Evangelho descobre o significado do nome de Jesus, “Deus
salvará”, e entende o modo como o fará, isto é, a Paixão:
“A fórmula que Jesus recita não é uma simples fórmula; não é
algo de extrínseco. Podemos também ousar dizer que é muito fácil: ‘Deus lhe
quer bem’. É muito fácil dizer: ‘Deus lhe perdoa’. No fundo, não nos custa nada
dizer: ‘Seus pecados estão perdoados’. Mas somente aí, com o sangue derramado,
finalmente então emerge o modo com o qual os pecados serão perdoados: isto é, com a morte de Cristo. Porque, como
diz o Salmo, somente Deus pode pagar o preço do pecado. O homem não pode
resgatar a si mesmo. E como lemos no Livro do Levítico, e Mateus conhece bem
esta simbólica judaica, o pecado é redimido somente com o derramamento do
sangue.”
Os cristãos cresçam na unidade
e partilha
Por fim, ao término da meditação, Pe. Michelini propôs três
perguntas para a reflexão. A primeira diz respeito a nossa relação com o
alimento e pede para não se ter apegos, mas domínio de si; a segunda é um
convite a crescer ainda na unidade entre cristãos, como discípulos em torno da
ceia com Cristo; e a última é uma pergunta sobre o perdão e pede para ser verdadeiramente
conscientes de que Jesus não somente com palavras, mas verdadeiramente, com a
própria vida, alcançou para nós a misericórdia do Pai.
Fonte: Rádio Vaticano
Foto retirada da internet
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