Ouço a voz
do Senhor, que fala de modo humilde, ou coloco meu interesse pessoal acima do
Reino de Deus?
Na primeira meditação dos Exercícios espirituais proposta ao
Papa Francisco e à Cúria Romana, Pe. Giulio Michelini exortou os 74 presentes a
se fazerem algumas perguntas sobre a própria vida espiritual.
“A confissão de Pedro e o caminho de Jesus para Jerusalém”
no Evangelho segundo São Mateus são o ponto de partida da meditação.
Os Exercícios espirituais são marcados pela Liturgia das
Horas e pelas duas meditações diárias, que passam da interpretação dos textos
ao desdobramento existencial. Jesus tomava suas decisões na oração, não através
de sonhos ou magos, como, ao invés, fazia Alexandre Magno, segundo nos relata
Plutarco. Pe. Michelini exortou os presentes a se perguntarem como tomam as
decisões importantes da própria vida:
“Faço
discernimento baseado em qual critério? Decido impulsivamente, deixo-me levar
por aquilo que é habitual, coloco a mim mesmo e meu interesse pessoal acima do
Reino de Deus? Ouço a voz de Deus, que fala de modo humilde?”
Pedro e a tradição
rabínica sobre a voz de Deus através dos pequenos: a humildade de ouvir-nos.
Em seguida, Pe. Michelini se concentrou na figura de Pedro e
na tradição rabínica. Mediante revelação, Pedro reconhece que Jesus é o
Messias. Daí, o religioso franciscano sugere que o Pai tenha falado não somente
por meio do Filho, mas tenha falado ao Filho, Jesus, também através de Pedro. É
Jesus que revela pouco a pouco a sua vocação, mas realiza gestos também porque
é solicitado por outros.
Na vida de Jesus de Nazaré é deixado muito espaço aos
encontros, que incidem na sua missão. Segundo a tradição rabínica, com o fim da
grande profecia, se considerava que Deus continuasse falando de modos muito
humildes, como por exemplo mediante a voz das crianças e dos loucos.
Com uma comunicação parecida com o sussurro de um vento leve
como se deu com o profeta Elias no monte Horebe. E Pe. Michelini ofereceu aos
presentes outra ocasião de reflexão:
“Tenho a
humildade de ouvir Pedro? Temos a humildade de ouvir-nos uns aos outros,
estando atentos aos preconceitos ou às pré-leituras que certamente temos, mas
atentos a colher aquilo que Deus quer dizer apesar – talvez – dos meus
fechamentos? Ouvir a voz dos outros, talvez frágil, ou escuto somente a minha
voz?”
Aceitar seguir Jesus e
carregar a própria cruz
Em seguida, o pregador dos Exercícios espirituais deteve-se
sobre a interpretação daqueles estudiosos que consideram que Jesus soubesse o
que estava para acontecer. No Evangelho segundo Mateus se diz que Jesus se
retirava, um verbo que no grego antigo indicava a retirada dos exércitos diante
de uma derrota ou de um perigo.
Também Jesus parece retirar-se diante da notícia da prisão
do Batista e quando sabe que os fariseus querem matá-lo, mas todas essas
retiradas são estratégicas, ressaltou Pe. Michelini, não são para deter-se:
após ter-se retirado, Jesus faz coisas concretas, isto é, começa a anunciar o
Reino e a curar os doentes.
Entre as muitas referências que enriqueceram a meditação do
frade menor, encontra-se a que fez a Hanna Arendt, que falava da banalidade do
mal, em referência a como os hierarcas nazistas falavam das atrocidades por
eles cometidas.
Tal alusão foi feita para referir-se à ferocidade com a qual
foi perpetrado o assassinato de João Batista após o pedido de Herodíades.
Aludiu também ao rabino Hillel, para ressaltar que Jesus
continua a missão assumindo sempre novas responsabilidade até a que o levará a
Jerusalém. Daí, o ponto de agarra para a última reflexão:
“Pergunto-me
se tenho a coragem de caminhar até o fim para seguir Jesus Cristo, levando em
consideração que isso comporta levar a cruz, como Ele disse, anunciando a
ressurreição, a alegria, mas também a provação: ‘Se alguém quiser vir após mim,
negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me’.”
Fonte: Rádio Vaticano
Foto retirada da internet
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Ricardo Feitosa e Marta Lúcia
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