Cristo, luz para nossas
trevas
Como a água, também a luz - com seu oposto, a escuridão - é
um dos símbolos fundamentais da existência humana e da reflexão religiosa. No
relato do Gênesis, Deus, pela criação da luz e sua separação das trevas, põe
ordem e distinção no caos primitivo, e o torna um cosmos cognoscível e depois
habitável.
Na plenitude dos tempos, a Palavra de Deus veio habitar no
meio de nós. Vida e luz de todo ser vivo, ela ilumina com nova luz aquele que
crê na Palavra feita homem, na mensagem tornada pessoa viva, concreta e
histórica, no Filho do Deus invisível que dá a conhecer o Pai. Esses são os
grandes temas desenvolvidos por João desde o prólogo do seu evangelho, e
ilustrados através de uma série de "sinais", diante dos quais só há
uma alternativa: responder sim ou não, sem atenuantes.
A luz do nosso batismo
Acolher a luz significa crer naquele que o Pai enviou,
reconhecer que suas obras vêm de
Deus, entrar na vida nova mediante os sinais sacramentais e assim, pela fé, as
obras e os ritos, participar da sua ressurreição, vitória da luz sobre as
trevas, do bem sobre o mal, da vida sobre a morte.
No batismo, de que a água da fonte de Siloé é figura,
recebemos a luz que nos faz filhos de Deus, e somos "iluminados".
"Quando um homem nasce para a vida nova é imediatamente libertado das
trevas e a partir desse momento recebe a luz. É o mesmo que acontece quando de
repente acordamos; ou melhor, é o que sucede com quem quer retirar a catarata
dos próprios olhos: não deverá buscar fora a luz que não tem, mas terá que
libertar a pupila, afastando aquilo que impede a visão. Do mesmo modo, também
nós, como batismo, somos purificados dos pecados, que como uma nuvem velavam o
Espírito divino, e assim o olho do espírito se torna transparente e luminoso e
nos faz contemplar as coisas divinas: o Espírito Santo desce, então, do alto
sobre nós" (Clemente de Alexandria). A escolha da luz tem também um valor
profético e escatológico: o juízo já está presente, mas será explícito e
definitivo quando resplandecer a glória do Ressuscitado; quem crê já está salvo
desde agora; quem não crê - porque não quer ver - permanece em seu pecado.
"Comportai-vos como
filhos da luz"
A situação dos cristãos no tempo presente recebe luz desta
página do evangelho e da exortação paulina, que é um comentário e uma aplicação
do mesmo. Batizados no Cristo Jesus, passamos das trevas para a luz. Vemos o
sentido da nossa vida e do destino do mundo à luz de Cristo, somos chamados a
crescer numa perfeita comunhão de vida com Deus, a escolher e a viver - como
Cristo - a vontade do Pai. Não podemos agir como os que não sabem; não podemos
esconder-nos da luz que nos foi dada, sem assim nos comprometermos com um
destino de trevas eternas; não podemos recusar professar nossa fé e agir
"com toda bondade, justiça e verdade" (2ª leitura). O testemunho da
luz é a resposta consciente, livre e cheia de amor aquele que iluminou nossos
olhos com a luz sem ocaso.
Os olhos do homem se
tornam mais opacos
Estamos assistindo hoje a um fenômeno estranho; enquanto os
olhos da ciência se tornam mais luminosos, tornam-se mais opacos os olhos do
homem.
Nossos objetivos científicos, econômicos, políticos são mais
distintos e precisos: atravessamos barreiras jamais violadas pelo olho do homem
em todos os campos do saber positivo; nossos conhecimentos crescem em ritmo
vertiginoso; existem cérebros eletrônicos para imaginá-los e impedir que nos
percamos num labirinto tão vasto e complexo.
Mas o homem se torna cada vez menos claro, cada vez mais
indecifrável a si mesmo. "O homem é um cigano perdido num universo
enregelado que lhe é totalmente indiferente" (Monod, prêmio Nobel de
medicina). Parece que o mistério do homem se fecha num horizonte de trevas, sem
que um raio de luz possa filtrar-se entre as redes do mistério.
Só Cristo consegue lançar luz sobre essas trevas.
O batismo - que é "iluminação"- significa abrir os
nossos olhos para Deus e o seu mistério, para o mistério do homem, para o
sentido da vida, do sofrimento e da morte, do nosso destino individual e
coletivo, para o sentido da história.
Renunciar a Cristo significa recair nas trevas mais
obscuras.
·
Primeira Leitura: Primeiro Livro de Samuel 16,1b.6-7.10-13a
·
Salmo: 22,1-3a.3b-4.5.6
(R. 1)
·
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Efésios 5,8-14
·
Evangelho: de Jesus Cristo segundo João 9,1-41
Fonte:
Missal Dominical (Paulus)
Foto retirada da internet
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