No dia 2 de novembro de 2016 a Igreja Católica celebra a
COMEMORAÇÃO DE TODOS OS FIÉIS DEFUNTOS, quando recordamos com saudades a
memória de nossos mortos. Visitamos respeitosamente nos cemitérios, os túmulos
de nossos parentes e amigos já falecidos. O encontro da cultura cristã com a
cultura celta deu origem à comemoração do Dia de Finados. Os celtas – povos que
habitavam a região da atual Irlanda – tinham no seu calendário a festa
conhecida como “Samhain”. Nesse dia os celtas acreditavam que os dois mundos –
o dos vivos e dos mortos – ficavam muito próximos e eles celebravam essa
comunhão. Desde o século l, os cristãos rezavam pelos falecidos, visitando os
túmulos dos mártires para rezar pelos que morreram. No século V, a Igreja dedicava
um dia do ano para rezar por todos os mortos, aqueles aos quais ninguém rezava
e do qual ninguém lembrava. O abade do Mosteiro de Cluny, Santo Odilon, em 998
pedia aos monges que orassem pelos mortos. E os papas Silvestre ll (996) e João
XVll (1012) convidaram a comunidade cristã a dedicar um dia cada ano aos
mortos. No século Xl, o calendário litúrgico cristão incorporou o Dia de
Finados, que deveria cair no dia 2 de novembro para não se sobrepor ao Dia de
Todos os Santos, comemorado no dia 1º naquela época. Este ano a Festa de Todos
os Santos será celebrada no domingo dia 6 de novembro.
Nossa sociedade de consumo e tecnologicamente avançada faz
tudo para que se esqueça da morte. Frequentemente um amigo morto já é sepultado
antes que as notícias de seu falecimento cheguem a nós. Para muitos, participar
na Missa de 7º. Dia é uma mera formalidade social sem qualquer significado
religioso. A morte não é o simples fato biológico da cessação do nosso existir.
É o ponto culminante do viver e vem coroar as boas opções que fizemos durante a
vida. Neste dia os fiéis católicos têm o secular e piedoso costume de rezar
pelas almas que ainda podem estar num estado de purificação antes de gozar da
Visão de Deus. Em nossos dias, em certos ambientes católicos se propagam
dúvidas com relação à católica devoção pelas “almas no estado de purificação”.
Obviamente nossa atitude neste assunto não pode e nem deve ser determinada pelo
parecer do último livro de um teólogo. Em nossa vida cristã somos orientados
por uma instância superior. No caso, esta autoridade é o próprio Concílio
Vaticano ll. Na Constituição Dogmática “Lumen Gentium” (cf. Nos. 49-50) recorda
o Concílio que a Igreja sempre venerou com grande piedade a memória dos
defuntos e ofereceu sufrágios por eles; cito o texto bíblico de 2 Mac 12, 46:
“É um pensamento santo e salutar rezar pelos defuntos para que sejam livres de
seus pecados”. Depois, no No. 51, o mesmo Concílio Vaticano ll torna a
referir-se à nossa “comunhão vital com os irmãos que ainda se purificam depois
da morte”, e decide propor de novo os decretos dos Concílios de Florença e de
Trento acerca desta doutrina.
É importante lembrar que depois da morte não há mais tempo
nem espaço, e falar sobre a “duração” deste estado de purificação não faz
sentido. Não há nenhuma doutrina da Igreja sobre isso. Nada se diz a cerca da
topografia do além. Nada nos ensinado
com relação ao tipo de purificação dispensada depois da morte. Portanto,
precisamos tomar muito cuidado com os exageros nas fantasias populares. O estado
de purificação possível nada tem a ver com as imagens medievais de um lugar de
castigo e de penas. O Catecismo da
Igreja Católica ensino: “Aqueles que morrem na graça e amizade de Deus, mas não
estão completamente purificados, embora tenha garantida a sua salvação eterna,
passam, após a morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade
necessária para entrar na alegria do céu” (No. 1.030). Para o católico, então, o Dia de Finados não
é um dia de tristeza ou lamúrias, mas é um dia de saudosa recordação,
confortada pela fé que nos garante que nosso relacionamento com os finados não
está interrompido pela morte, mas é sempre vivo e atuante pela oração do
sufrágio. O Catecismo da Igreja Católica
afirma: “A morte é o fim da peregrinação terrestre do homem, do tempo e da
graça e de misericórdia que Deus lhe oferece para realizar a sua vida terrestre
segundo o projeto divino e para decidir o seu destino último” (CIC, 1013).
Quando tiver terminado “o único curso de nossa vida terrestre” (L.G. No. 48), não
voltaremos mais a outras vidas terrestres. A Bíblia afirma: “Os homens devem
morrer uma só vez” (cf. Hb 9, 27). Portanto, para os católicos não existe
“reencarnação” depois da morte. Somos salvos pelos méritos de Cristo e não
pelos nossos próprios méritos. Sem dúvida, a visão cristã da morte é expressa
de forma privilegiada na liturgia da Igreja que reza: “Senhor, para os que
crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E desfeito o nosso corpo
mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível”. O Dia de Finados deve ser para nós vivos, um
eficaz ensejo para refletirmos sobre o sentido e a brevidade da vida presente.
Pe. Dr. Brendan Coleman Mc
Donald
Redentorista e Assessor da
CNBB Reg. NE1
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