Mc 2,1-5 Alguns dias depois, Jesus passou novamente por
Cafarnaum, e espalhou-se a notícia de que ele estava em casa. Ajuntou-se tanta
gente que já não havia mais lugar, nem mesmo à porta. E Jesus dirigia-lhes a
palavra. Trouxeram-lhe um paralítico, carregado por quatro homens. Como não
conseguiam apresentá-lo a ele, por causa da multidão, abriram o teto, bem em
cima do lugar onde ele estava e, pelo buraco, desceram a maca em que o
paralítico estava deitado. Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico:
“Filho, os teus pecados são perdoados”.
De ordinário, a causa de todas as tribulações, e
especialmente das enfermidades, são os pecados. Eis porque o Senhor, como
refere o Evangelho, antes de restituir ao paralítico a saúde do corpo, lhe
restituiu a da alma, concedendo-lhe o perdão dos pecados. Portanto, se
quisermos que Deus nos livre das aflições que nos oprimem, arranquemos primeiro
a raiz, isto é, o pecado. Aconselhemo-lo igualmente a nosso próximo em suas
tribulações.
Quando alguém ofende a Deus, provoca todas as criaturas a
castigarem-no, e especialmente aqueles de que abusa para ofender o Criador.
Sucede então o mesmo, diz Santo Anselmo, que quando um escravo se revolta
contra seu senhor: excita a indignação não só de seu senhor, como também de
toda a família. Deus,
porém, sendo um Senhor de infinita misericórdia, contém as criaturas afim de
que não castiguem o réu; mas quando vê que este não faz caso das ameaças,
serve-se delas então para se desafrontar.
De
modo que, de ordinário, a causa de todas as tribulações e especialmente das
enfermidades corporais, são os pecados: Qui delinquit, incidet in
manus medici - “Aquele
que peca, virá a cair nas mãos do médico”. (1)
Esta verdade nos é revelada com bastante clareza no fato do
Evangelho de hoje. Um paralítico pediu a Jesus Cristo a saúde, e Jesus, antes
de curar corporalmente, curou-lhe a alma dizendo: “Filho, tem confiança;
perdoados te são os pecados.” Porque é que Jesus procedeu assim? Responde Santo Tomás: Porque o Senhor, como bom médico, quis
primeiro arrancar a causa da enfermidade que eram os pecados, e depois tirar a
própria enfermidade, que era efeito deles. É este também o motivo porque o
Senhor, depois de curar aquele outro enfermo na piscina de Bethsaida, o qual
estivera doente por trinta e oito anos, o exortou a não pecar mais, afim de que
não lhe acontecesse coisa pior. Ne deterius tibi aliquid contingat.
- “Ou algo pior pode acontecer” (2)
Escuta, pois, meu irmão, o belo conselho que te dá o Espírito
Santo, para quando tu também estiveres oprimido pelas tribulações: “Filho, em tua
enfermidade (e o mesmo se diga de qualquer tribulação) faze oração ao Senhor e
Ele te curará. Aparta-te do pecado, endireita as tuas ações, purifica o teu
coração de todo o delito,… e depois dá lugar ao médico.” (3)
A narração evangélica mostra-nos também um belo exemplo de
caridade, digno de ser imitado. O paralítico, deitado no seu leito, não se
apresentou por si mesmo ao Senhor; mas foi apresentado por outros com bastante
incômodo. Porque, segundo observa São Marcos, como não pudessem entrar pela
porta na casa onde estava Jesus, descobriram parte do teto, e, fazendo uma
abertura, arriaram o leito em que o paralítico jazia até perto de Jesus (4). E o Redentor
sentiu-se impelido a curá-lo, não tanto pela compaixão para com o enfermo, como
pela fé dos que o tinham trazido: videns Jesus fidem illorum - “vendo-lhes a fé”.
Eis o que nós também devemos fazer; empreguemos todos os meios para reconduzir
a Jesus as almas enfermas dos pecadores, afim de que sejam curadas; e se não
estiver ao nosso alcance fazer mais, demos-lhes, ao menos, bom exemplo e
roguemos por eles. - Desta
maneira praticaremos um belo ato de caridade, não somente para com o próximo,
como também para conosco; porquanto, na expressão de Santo Agostinho, neste mundo o
Senhor castiga muitas vezes os bons com os maus, porque se descuidam de impedir
e de corrigir os pecados dos outros.
Ó meu Jesus, saúde dos enfermos, conforto dos que sofrem, tende
piedade de mim! Renovai, suplico-Vos, os prodígios que outrora fizestes a favor
de Israel, e pela vossa onipotência, livrai-me de todas as enfermidades, de
todas as tribulações que com justiça me afligem em castigo das ofensas que Vos
tenho feito. Se Vós, porém, ó meu Senhor, dispondes de outras formas, eu Vô-las
ofereço como sacrifício, em união e agradecimento daquele que por mim fizestes
sobre a cruz, para desconto de meus pecados e para a conversão dos pecadores.
Dignai-Vos de aceitá-las, e como recompensa, infundi em meu coração a virtude
da paciência, e “conduzi-o sempre pela ação da vossa misericórdia; porque sem
Vós a Vós não podemos agradar”. (5) † Doce Coração de Maria, sede minha
salvação. (*III 640)
1. Ecclus. 38,15.
2. Io. 5,14
3. Ecclus. 38,9 sqq.
4. Marc. 2,4
5. Or. Dom. curr.
Meditações: Para todos os
Dias e Festas do Ano: Tomo III – Santo Afonso
Curacin_del_paraltico_Murillo_1670Confide,
fili: remittuntur tibi peccata tua - “Filho, tem confiança, perdoados te são os
pecados” (Matth. 9,2).
Observação:
Os escritos em vermelho fosco não pertencem ao texto original.
Foto retirada da internet
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