Roteiro Homilético 23º Domingo do Tempo Comum Ano “C”

Primeira Leitura

Livro da Sabedoria 9,13-18 (gr.13-18b)

Na leveza da fragilidade dos nossos pensamentos, reflexões e ações, se não tivermos a sabedoria de Deus, o seu Espírito Santo, quão pobre, mesquinha, e infrutífera será a nossa vida.

A leitura é o final da 2ª parte do livro da Sabedoria (cap. 6-9), em que se põe na boca de Salomão, protótipo do homem sábio, o elogio da sabedoria, terminando com uma longa oração (todo o cap. 9), de que lemos aqui os últimos versículos. A Vulgata latina dividiu o último versículo, o 18, em dois (18 e 19).


13-16 «Qual o homem que pode conhecer…?» O homem, entregue só às forças da sua própria razão, não pode descortinar os desígnios inescrutáveis de Deus, pois o seu espírito está prisioneiro da matéria, na linguagem da antropologia filosófica grega aqui adoptada; o corpo é concebido como a morada terrestre do espírito (v. 15).

17-18 «A sabedoria, o santo espírito» é um dom divino para se poder pensar e proceder segundo o pensamento e a vontade de Deus. A história da salvação documenta o bem que é ser guiado pela sabedoria divina, a par do mal que é viver privado dela (cf. capítulos finais do livro da Sabedoria: 10-19).

Segunda Leitura

Carta de São Paulo a Filêmon 9b-10.12-17

Paulo esquece-se das suas necessidades e do seu sofrimento para pensar em Onésimo.

Que nunca o peso da nossa dor ofusque o nosso olhar no sofrimento dos irmãos. Que levar a cruz seja servir, amar, dar a vida!

Agora, provavelmente no seu primeiro cativeiro romano (60-62), S. Paulo escreve ao seu amigo a sua mais breve carta (25 versículos), uma peça de grande valor literário e que revela a sua fina sensibilidade. A leitura respiga apenas 8 versículos dispersos.

9 «Eu Paulo…» A tradução portuguesa suprimiu o adjetivo «velho», com que Paulo se classifica. Trata-se de uma velhice relativa, pois uns 25 anos antes, quando do martírio de Estêvão, é chamado «jovem» (Act 7,58). No 1º cativeiro romano deveria ter entre 50 e 60 anos de idade. Bento XVI, ao proclamar o ano paulino, parte da suposição de que S. Paulo nasceu no ano 7 da era cristã, o que condiz com esta idade. Dada a esperança de vida de então, uma pessoa com mais de 50 anos já se poderia considerar um ancião.

10 Onésimo, um escravo fugitivo do cristão abastado de Colossas, Filêmon, a quem S. Paulo batizou em Roma durante o cativeiro em regime de «custódia libera», isto é, à solta, mas sempre vigiado por um soldado que se revezava trazendo o seu braço direito atado ao braço esquerdo dele. É por isso que é chamado «este meu filho que gerei na prisão». Onésimo em grego significa proveitoso, útil; S. Paulo brinca com um trocadilho (no v. 11 que não aparece na leitura): «ele outrora foi inútil para ti (porque fugitivo), mas agora é útil para ti e para mim». Toda a carta está repassada da fina sensibilidade do coração de Paulo, e onde não falta até o bom humor.

17-17 «A fim de o recuperares para sempre, não já como escravo, mas… como irmão muito querido». S. Paulo envia a Filêmon o escravo fugitivo, tornado agora um irmão, não só pela sua condição de homem – pela natureza – mas também pelo Baptismo – aos olhos do Senhor. Não é para ninguém estranhar que S. Paulo tenha transigido com a estrutura social da escravatura, remetendo um escravo fugitivo ao seu dono, embora com um cartão de recomendação. Abolir de chofre esta instituição social era impossível; por outro lado, o objetivo da missão apostólica não era a revolução social, mas pôr no coração de todos os homens a doutrina e o amor de Cristo, que, quando vividos, são o fermento de renovação da própria sociedade e das suas estruturas.

Evangelho

Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 14,25-33

S. Lucas apresenta «uma grande multidão» da Palestina a seguir Jesus, mas quer que, com as palavras de Jesus, fique bem claro para os seus leitores que há exigências para todos os que O hão de seguir «até aos confins do mundo» (cf. Act 1,8). É que não se trata apenas de se sentir atraído por uma doutrina superior, mas de seguir Jesus com todas as renúncias que isso implica: «Não pode ser meu discípulo…», insiste por três vezes (vv. 26.27.33). As exigências de Jesus são-nos aqui propostas sem rodeios e em toda a sua crueza e vigor. S. Lucas é o evangelista que mais acentua não só a bondade de Cristo, mas também as suas exigências.

26 «Sem me preferir ao pai…» Esta tradução pretende evitar o chocante idiotismo hebraico, «odiar o pai…», que, mais do que uma força da expressão, é uma forma expressiva, muito ao estilo de Jesus, para chamar a atenção para algo muito importante, de modo a que o ensino fique bem gravado para sempre na memória dos ouvintes. É que seguir a Jesus como seu discípulo não admite meias tintas, concessões ou contemporizações de qualquer espécie: Jesus exige um amor acima de tudo, que só Deus pode exigir, situando-se assim no mesmo plano de Deus, deixando ver a sua divindade. Sendo assim, «odiar…» poderia traduzir-se por «estar disposto a renunciar ao amor de…»; Jesus não revoga o 4º mandamento da Lei de Deus, mas situa-o na justa escala de valores, como se lê em Mt 10,37: «quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim não é digno de Mim». Numa palavra, para seguir a Jesus é preciso estar disposto a sacrificar os afetos humanos mais nobres.

28-32 Estas duas parábolas – a do homem que constrói uma torre e a do rei que vai para a guerra – exclusivas de S. Lucas, demonstram graficamente que seguir a Jesus sem abraçar a sua cruz é afadigar-se a trabalhar para um saco roto: é deitar a perder tudo o que uma pessoa se propôs com o seguimento de Cristo.

33 «Renunciar a todos os seus bens». A radicalidade do seguimento de Cristo tem consequências também no que diz respeito aos bens deste mundo, exige o desprendimento deles, embora não necessariamente o prescindir deles; mas os bens não passam de simples meios para chegar a Deus. Seguir a Jesus é dizer não à mediocridade, a áurea mediocritas dos romanos, exaltada pelo poeta Horácio.

Sugestões para reflexão

1. Abertura a Deus

O ser humano pode pela sua razão, inteligência chegar até Deus. E devia fazê-lo com intensidade, com humildade, e sobretudo com amor. Mas Deus quis vir ao encontro do Homem. A palavra de Deus e a Tradição da Igreja são expressões vivas e sábias desta revelação. E o Magistério autêntico é sempre oportunidade de compreensão e de resposta a Deus.

Mas mesmo com todos estes dados é necessário que o ser humano permaneça humilde, disponível, acolhedor, orante e peregrino sedento daquela Sabedoria, o dom do seu Espírito Santo, que permite descobrir a maravilhosa perspectiva de Deus e o seu Plano de vida e misericórdia. E permite que a vida do homem seja realização plena.

Os planos de Deus, os seus pensamentos, as suas intenções estão ocultos aos homens. Os nossos pensamentos, leves e frágeis, muitas vezes mesquinhos e a nossa reflexão falível, assim como as nossas ações boicotadas pela falta de reta intenção, não nos permitem ouvir, ver e obedecer a Deus, como é devido. Muito menos quando o homem mergulha no pecado e se fecha em seu egoísmo. Nesse estado ele pode mesmo dificultar, impossibilitar, fracassar a fecundidade da vida, da graça, da salvação.

Deus está acima dos nossos cálculos e da nossa pobre lógica. Deus revela-se em gesta de despojamento, misericórdia e de amor entranhável. Ele propõe-nos a sua sabedoria, e a sua Luz ilumina o mais profundo do Homem. Que bom quando o Homem aceita com humildade, fé, oração, e enche seu coração e sua vida desta torrente de sabedoria. Que bom quando se compreende a vida como doação e entrega. A cruz, sinal eloquente do seguimento e compromisso com Cristo, fecunda quem a leva e fecunda, misteriosamente, multidão de homens e mulheres.

2. Compromisso com Cristo.

Em síntese o compromisso com Cristo é a mais sublime sabedoria. A maior aposta e o trilhar de um caminho de vida, de paz e felicidade.

As condições para ser discípulo passam por um chamamento claro, radical, com perspectivas novas: querer perder para ganhar. Condição indispensável a todo o discípulo. Este chamamento é universal, dirigido a todos.

A opção radical pela pessoa e missão de Cristo é a lógica de uma escala de valores pautada pela verdadeira sabedoria. É uma opção pela vida plena e pelo reino, que supõe que tudo o demais é consequência do vínculo vital e imprescindível com Jesus Cristo e o seu projeto. Preferindo Jesus Cristo, acima de todos e de tudo, resulta grande fecundidade de serviço e entrega, a começar pelos que vivem mais próximos de nós.

A opção pela Cruz, o levar a Cruz é pois elemento fundamental do acolhimento de Jesus Cristo e da sua Missão. Levar a cruz é o critério de autenticidade da relação e autenticidade do compromisso. Levar a cruz é muito mais que algumas mortificações, ou alguns sacrifícios, e muito mais que aceitação de obstáculos e dificuldades. Assumir a cruz é assumir Jesus Cristo e viver com coerência o compromisso com Ele. É ter consciência da rejeição, da violência gerada pelo mundo da iniquidade que não quer perder os seus pelouros, é não ter medo da insegurança frente a um aparente fracasso, a um morrer para dar a vida. É um assumir de todos os riscos que a dinâmica do evangelho impõe.

Antes de dar um sim que vai mudar ou vai orientar a vida dos discípulos há que precisar com verdadeira sabedoria se a relação vital com Cristo leva a decisões conscientes e responsáveis. Não se poder atuar por alguns leves impulsos, por emoções, por gostos pessoais, por modas, por simpatias. Há que refletir, ponderar pelo acolhimento da palavra, pela aceitação e compromisso com Cristo, fruto de relação profunda, clara, consciente, e pela atenta e decisiva proposta que a Igreja, comunidade dos discípulos, faz.

O verdadeiro discípulo não pode desvirtuar o evangelho. É chamado a ser sal que não perde o sabor. Deve permanecer no seu vigor transformador. Deve viver o Evangelho no coração da igreja e no encontro celebrativo dos sacramentos e da oração. Deve viver o Evangelho no coração do mundo, onde se realizam as opções que marcam o destino dos Homens e Mulheres.

3. Caminho de Liberdade.

«Eu, Paulo, prisioneiro por amor de Jesus Cristo». O discípulo Paulo que encontrou Jesus Cristo, que escutou a Sua proposta, que se converteu, que amou com todas as energias e deu a vida por Cristo, ensina-nos que ser prisioneiro de Cristo, significa encontrar a maior liberdade e uma grande capacidade de doação. Sendo prisioneiro e vivendo no meio de muitos sofrimentos, peregrino para a sua oblação em Roma, preocupa-se pelos outros e tudo faz para os tornar livres no Senhor. O amor a Cristo é de tal intensidade que não tem tempo para pensar em si.

O caminho da autêntica liberdade gera-se no encontro e na comunhão com Jesus Cristo. Encontrar Jesus Cristo e comprometer-se com Ele, na sabedoria do Espírito Santo, gera compromisso de realismo, de humildade, de abertura incessante à graça de Deus, de comunhão profunda a Pedro e aos discípulos de Cristo. Gera dom da fortaleza, necessário aos discípulos destemidos perante a arrogância e a violência. Gera profetas sem medo a um anúncio de verdade, clareza e fidelidade. Gera discípulos dispostos à suprema dádiva da sua vida, como o seu Mestre. Gera discípulos que não vivem das simpatias, das modas, das superficialidades, dos medos, dos preconceitos.

Fonte: presbiteros.com.br
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