Livro da Sabedoria 9,13-18 (gr.13-18b)
Na leveza da fragilidade dos nossos pensamentos, reflexões e
ações, se não tivermos a sabedoria de Deus, o seu Espírito Santo, quão pobre,
mesquinha, e infrutífera será a nossa vida.
A leitura é o final da 2ª parte do livro da Sabedoria (cap.
6-9), em que se põe na boca de Salomão, protótipo do homem sábio, o elogio da
sabedoria, terminando com uma longa oração (todo o cap. 9), de que lemos aqui
os últimos versículos. A Vulgata latina dividiu o último versículo, o 18, em
dois (18 e 19).
13-16 «Qual o homem que pode conhecer…?» O homem, entregue
só às forças da sua própria razão, não pode descortinar os desígnios
inescrutáveis de Deus, pois o seu espírito está prisioneiro da matéria, na
linguagem da antropologia filosófica grega aqui adoptada; o corpo é concebido
como a morada terrestre do espírito (v. 15).
17-18 «A sabedoria, o santo espírito» é um dom divino para
se poder pensar e proceder segundo o pensamento e a vontade de Deus. A história
da salvação documenta o bem que é ser guiado pela sabedoria divina, a par do
mal que é viver privado dela (cf. capítulos finais do livro da Sabedoria: 10-19).
Segunda Leitura
Carta de São Paulo a Filêmon 9b-10.12-17
Paulo esquece-se das suas necessidades e do seu sofrimento
para pensar em Onésimo.
Que nunca o peso da nossa dor ofusque o nosso olhar no
sofrimento dos irmãos. Que levar a cruz seja servir, amar, dar a vida!
Agora, provavelmente no seu primeiro cativeiro romano
(60-62), S. Paulo escreve ao seu amigo a sua mais breve carta (25 versículos),
uma peça de grande valor literário e que revela a sua fina sensibilidade. A
leitura respiga apenas 8 versículos dispersos.
9 «Eu Paulo…» A tradução portuguesa suprimiu o adjetivo
«velho», com que Paulo se classifica. Trata-se de uma velhice relativa, pois
uns 25 anos antes, quando do martírio de Estêvão, é chamado «jovem» (Act 7,58).
No 1º cativeiro romano deveria ter entre 50 e 60 anos de idade. Bento XVI, ao
proclamar o ano paulino, parte da suposição de que S. Paulo nasceu no ano 7 da
era cristã, o que condiz com esta idade. Dada a esperança de vida de então, uma
pessoa com mais de 50 anos já se poderia considerar um ancião.
10 Onésimo, um escravo fugitivo do cristão abastado de
Colossas, Filêmon, a quem S. Paulo batizou em Roma durante o cativeiro em
regime de «custódia libera», isto é, à solta, mas sempre vigiado por um soldado
que se revezava trazendo o seu braço direito atado ao braço esquerdo dele. É
por isso que é chamado «este meu filho que gerei na prisão». Onésimo em grego
significa proveitoso, útil; S. Paulo brinca com um trocadilho (no v. 11 que não
aparece na leitura): «ele outrora foi inútil para ti (porque fugitivo), mas
agora é útil para ti e para mim». Toda a carta está repassada da fina
sensibilidade do coração de Paulo, e onde não falta até o bom humor.
17-17 «A fim de o recuperares para sempre, não já como
escravo, mas… como irmão muito querido». S. Paulo envia a Filêmon o escravo
fugitivo, tornado agora um irmão, não só pela sua condição de homem – pela
natureza – mas também pelo Baptismo – aos olhos do Senhor. Não é para ninguém
estranhar que S. Paulo tenha transigido com a estrutura social da escravatura,
remetendo um escravo fugitivo ao seu dono, embora com um cartão de
recomendação. Abolir de chofre esta instituição social era impossível; por
outro lado, o objetivo da missão apostólica não era a revolução social, mas pôr
no coração de todos os homens a doutrina e o amor de Cristo, que, quando
vividos, são o fermento de renovação da própria sociedade e das suas
estruturas.
Evangelho
Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas
14,25-33
S. Lucas apresenta «uma grande multidão» da Palestina a
seguir Jesus, mas quer que, com as palavras de Jesus, fique bem claro para os
seus leitores que há exigências para todos os que O hão de seguir «até aos
confins do mundo» (cf. Act 1,8). É que não se trata apenas de se sentir atraído
por uma doutrina superior, mas de seguir Jesus com todas as renúncias que isso
implica: «Não pode ser meu discípulo…», insiste por três vezes (vv. 26.27.33).
As exigências de Jesus são-nos aqui propostas sem rodeios e em toda a sua
crueza e vigor. S. Lucas é o evangelista que mais acentua não só a bondade de
Cristo, mas também as suas exigências.
26 «Sem me preferir ao pai…» Esta tradução pretende evitar o
chocante idiotismo hebraico, «odiar o pai…», que, mais do que uma força da
expressão, é uma forma expressiva, muito ao estilo de Jesus, para chamar a
atenção para algo muito importante, de modo a que o ensino fique bem gravado
para sempre na memória dos ouvintes. É que seguir a Jesus como seu discípulo
não admite meias tintas, concessões ou contemporizações de qualquer espécie:
Jesus exige um amor acima de tudo, que só Deus pode exigir, situando-se assim
no mesmo plano de Deus, deixando ver a sua divindade. Sendo assim, «odiar…»
poderia traduzir-se por «estar disposto a renunciar ao amor de…»; Jesus não
revoga o 4º mandamento da Lei de Deus, mas situa-o na justa escala de valores,
como se lê em Mt 10,37: «quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim não é digno
de Mim». Numa palavra, para seguir a Jesus é preciso estar disposto a
sacrificar os afetos humanos mais nobres.
28-32 Estas duas parábolas – a do homem que constrói uma
torre e a do rei que vai para a guerra – exclusivas de S. Lucas, demonstram
graficamente que seguir a Jesus sem abraçar a sua cruz é afadigar-se a
trabalhar para um saco roto: é deitar a perder tudo o que uma pessoa se propôs
com o seguimento de Cristo.
33 «Renunciar a todos os seus bens». A radicalidade do
seguimento de Cristo tem consequências também no que diz respeito aos bens
deste mundo, exige o desprendimento deles, embora não necessariamente o
prescindir deles; mas os bens não passam de simples meios para chegar a Deus.
Seguir a Jesus é dizer não à mediocridade, a áurea mediocritas dos romanos,
exaltada pelo poeta Horácio.
Sugestões para reflexão
1. Abertura a Deus
O ser humano pode pela sua razão, inteligência chegar até
Deus. E devia fazê-lo com intensidade, com humildade, e sobretudo com amor. Mas
Deus quis vir ao encontro do Homem. A palavra de Deus e a Tradição da Igreja
são expressões vivas e sábias desta revelação. E o Magistério autêntico é
sempre oportunidade de compreensão e de resposta a Deus.
Mas mesmo com todos estes dados é necessário que o ser
humano permaneça humilde, disponível, acolhedor, orante e peregrino sedento
daquela Sabedoria, o dom do seu Espírito Santo, que permite descobrir a
maravilhosa perspectiva de Deus e o seu Plano de vida e misericórdia. E permite
que a vida do homem seja realização plena.
Os planos de Deus, os seus pensamentos, as suas intenções
estão ocultos aos homens. Os nossos pensamentos, leves e frágeis, muitas vezes
mesquinhos e a nossa reflexão falível, assim como as nossas ações boicotadas
pela falta de reta intenção, não nos permitem ouvir, ver e obedecer a Deus,
como é devido. Muito menos quando o homem mergulha no pecado e se fecha em seu
egoísmo. Nesse estado ele pode mesmo dificultar, impossibilitar, fracassar a
fecundidade da vida, da graça, da salvação.
Deus está acima dos nossos cálculos e da nossa pobre lógica.
Deus revela-se em gesta de despojamento, misericórdia e de amor entranhável.
Ele propõe-nos a sua sabedoria, e a sua Luz ilumina o mais profundo do Homem.
Que bom quando o Homem aceita com humildade, fé, oração, e enche seu coração e
sua vida desta torrente de sabedoria. Que bom quando se compreende a vida como
doação e entrega. A cruz, sinal eloquente do seguimento e compromisso com
Cristo, fecunda quem a leva e fecunda, misteriosamente, multidão de homens e
mulheres.
2. Compromisso com Cristo.
Em síntese o compromisso com Cristo é a mais sublime
sabedoria. A maior aposta e o trilhar de um caminho de vida, de paz e
felicidade.
As condições para ser discípulo passam por um chamamento
claro, radical, com perspectivas novas: querer perder para ganhar. Condição
indispensável a todo o discípulo. Este chamamento é universal, dirigido a
todos.
A opção radical pela pessoa e missão de Cristo é a lógica de
uma escala de valores pautada pela verdadeira sabedoria. É uma opção pela vida
plena e pelo reino, que supõe que tudo o demais é consequência do vínculo vital
e imprescindível com Jesus Cristo e o seu projeto. Preferindo Jesus Cristo,
acima de todos e de tudo, resulta grande fecundidade de serviço e entrega, a
começar pelos que vivem mais próximos de nós.
A opção pela Cruz, o levar a Cruz é pois elemento
fundamental do acolhimento de Jesus Cristo e da sua Missão. Levar a cruz é o
critério de autenticidade da relação e autenticidade do compromisso. Levar a
cruz é muito mais que algumas mortificações, ou alguns sacrifícios, e muito
mais que aceitação de obstáculos e dificuldades. Assumir a cruz é assumir Jesus
Cristo e viver com coerência o compromisso com Ele. É ter consciência da
rejeição, da violência gerada pelo mundo da iniquidade que não quer perder os
seus pelouros, é não ter medo da insegurança frente a um aparente fracasso, a
um morrer para dar a vida. É um assumir de todos os riscos que a dinâmica do
evangelho impõe.
Antes de dar um sim que vai mudar ou vai orientar a vida dos
discípulos há que precisar com verdadeira sabedoria se a relação vital com
Cristo leva a decisões conscientes e responsáveis. Não se poder atuar por
alguns leves impulsos, por emoções, por gostos pessoais, por modas, por
simpatias. Há que refletir, ponderar pelo acolhimento da palavra, pela
aceitação e compromisso com Cristo, fruto de relação profunda, clara, consciente,
e pela atenta e decisiva proposta que a Igreja, comunidade dos discípulos, faz.
O verdadeiro discípulo não pode desvirtuar o evangelho. É
chamado a ser sal que não perde o sabor. Deve permanecer no seu vigor
transformador. Deve viver o Evangelho no coração da igreja e no encontro
celebrativo dos sacramentos e da oração. Deve viver o Evangelho no coração do
mundo, onde se realizam as opções que marcam o destino dos Homens e Mulheres.
3. Caminho de Liberdade.
«Eu, Paulo, prisioneiro por amor de Jesus Cristo». O
discípulo Paulo que encontrou Jesus Cristo, que escutou a Sua proposta, que se
converteu, que amou com todas as energias e deu a vida por Cristo, ensina-nos
que ser prisioneiro de Cristo, significa encontrar a maior liberdade e uma
grande capacidade de doação. Sendo prisioneiro e vivendo no meio de muitos
sofrimentos, peregrino para a sua oblação em Roma, preocupa-se pelos outros e
tudo faz para os tornar livres no Senhor. O amor a Cristo é de tal intensidade
que não tem tempo para pensar em si.
O caminho da autêntica liberdade gera-se no encontro e na
comunhão com Jesus Cristo. Encontrar Jesus Cristo e comprometer-se com Ele, na
sabedoria do Espírito Santo, gera compromisso de realismo, de humildade, de
abertura incessante à graça de Deus, de comunhão profunda a Pedro e aos
discípulos de Cristo. Gera dom da fortaleza, necessário aos discípulos
destemidos perante a arrogância e a violência. Gera profetas sem medo a um
anúncio de verdade, clareza e fidelidade. Gera discípulos dispostos à suprema
dádiva da sua vida, como o seu Mestre. Gera discípulos que não vivem das
simpatias, das modas, das superficialidades, dos medos, dos preconceitos.
Fonte: presbiteros.com.br
Foto retirada da internet
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