Roteiro Homilético 22º Domingo do Tempo Comum Ano “C”

Primeira Leitura

Livro do Eclesiástico 3,19-21.30-31 (gr. 17 -18.20.28-29)

Muitos procuram a vitória desta vida na grandeza, na vaidade e na ostentação, julgando que a sua existência vale segundo a impressão que causam nos outros. Ben-Sirá, divinamente inspirado, dá-nos um conselho simples e eficaz: Faz-te pequeno e alcançarás o favor de Deus.

A leitura contém versículos respigados do capítulo 3 do Sirácida, ou Eclesiástico (na designação cristã), que são uma apologia da virtude da humildade. O texto litúrgico passa à frente aquelas passagens que poderiam ser hoje mal entendidos, como o desejo de querer sempre saber mais, que é apresentado isto como um «perigo», e mesmo aquele célebre adágio: «quem amam o perigo nele perecerá» (v. 25). 

Segunda Leitura

Carta aos Hebreus 12,18-19.22-24ª

O autor da Carta aos Hebreus fala-nos da grandeza do Senhor que o Povo de Deus contemplou no Sinai, para nos mover a uma atitude de humildade.

Nesta impressionante passagem da epístola, o hagiógrafo põe em vivo contraste a Antiga e a Nova Aliança, simbolizada nos dois montes em que foram seladas: «o Monte Sinai» e o «Monte Sião»; este era o monte onde assentava o templo de Jerusalém, monte que se tornou o símbolo do novo e definitivo lugar de encontro com Deus, ao mesmo tempo firme e glorioso: a «Jerusalém celeste», que é a Igreja (cf. Gal 4, 25-26; Apoc 21, 2), a qual aqui engloba tanto os que já triunfam no Céu, como os que ainda militam na terra, considerados como um todo, por assim dizer. A Antiga Aliança é marcada pelo temor e pela majestade esmagadora de Deus (vv. 18-19); a Nova Aliança pela proximidade de Deus e intimidade com Ele, com os «Anjos» (v. 22), com os Santos do Céu («os justos que atingiram a perfeição» – v. 23) e sobretudo com o próprio «Jesus, mediador da Nova Aliança», juntamente com os restantes cristãos que ainda militam na terra, provavelmente aqui designados por «uma assembleia de primogénitos inscritos no Céu» (v. 23). Assim poderia traduzir-se à letra, «uma Igreja – ekklesía – de primogénitos»; a designação de «primogénitos» correspondia à situação privilegiada dos cristãos, pois então os primogénitos gozavam de direitos especiais, sobretudo relativamente à herança.

Evangelho

Segundo Lucas 14,1.7-14

Com esta parábola, contada por ocasião duma refeição, Jesus não se limita a encarecer simplesmente uma atitude a ter no momento de escolher o lugar à mesa de um banquete, mas, acima de tudo, o que pretende com este exemplo é dar uma lição de humildade, válida para sempre, pois «quem se humilha será exaltado» (v. 11), entenda-se, por Deus, de acordo com o costume judaico seguido por Jesus, que evitava deliberadamente pronunciar o nome de Deus, recorrendo a uma forma passiva impessoal, que os gramáticos chamam o passivum divinum.

10 «Aquele que te convidou dirá». Tradução muito livre do original, com o fim de tornar menos chocante a leitura: «para que te diga». De facto, se o convidado escolhesse o último lugar com a secreta intenção de vir a ser «honrado aos olhos dos outros convidados», não estaria a viver a humildade, mas sim um refinado orgulho. Ora sucede que aqui a intenção expressa no texto não é a do convidado, mas sim a de Jesus que dá o conselho. Sendo assim, a tradução litúrgica facilita uma correta interpretação. Um belo comentário a este ensinamento de Jesus podem ser as palavras da Imitação de Cristo: «Deseja que não te conheçam e te reputem por nada… Não perdes nada, se te consideras inferior a todos, mas prejudicas-te muito se te considerares superior a um só que seja» (I, 2.7).

12-14 Jesus não quer dizer que se podem convidar só aqueles que não nos possam retribuir. Esta maneira taxativa de falar, tão característica de Jesus, à maneira semítica, visa produzir impacto e chamar a atenção; o Senhor quer ensinar-nos que não devemos andar atrás de compensações humanas, mas daquilo que merece a aprovação e recompensa de Deus no Céu, aqui designado por «ressurreição dos justos» (que os maus também ressuscitam consta doutras passagens, como Jo 5, 29; Act 24, 15…).

Sugestões para reflexão

1. Humildade, virtude fundamental

No início do século II antes de Cristo, quando a cultura helénica invadia a Palestina, e começava a minar a cultura e os valores tradicionais do Povo de Deus, muitos judeus incluindo membros de famílias de origem sacerdotal, deixavam-se seduzir pelo brilho desta cultura pagã, com todos os seus erros e corrupção, e abandonavam os valores em que tinham sido educados.

Ben-Sirá, orgulhoso da sua fé, e consciente do perigo que o Povo de Deus enfrentava, escreve o texto proclamado na primeira leitura.

Esta tentação é de sempre. Hoje, como ontem, muitos cristãos são tentados a julgar que a Lei de Deus está antiquada, fora de moda, e afastam-se da fidelidade ao Senhor.

Ser moderno, atual, proceder como os outros, é uma tentação perigosa, inspirada no orgulho. É também uma tentação dos cristãos de hoje. Deixam-se arrastar pela soberba de parecerem modernos.., e ressuscitam vícios antigos da Grécia e da Roma pagã.

Quem é fiel aos ensinamentos de Jesus Cristo – ensinados pela Igreja – não é um desatualizado.

A arma para combater esta tentação de soberba está na humildade, como indica o autor sagrado.

a) A humildade é indispensável. «Filho, em todas as tuas obras procede com humildade.»

A humildade é a verdade. Leva-nos a aceitarmo-nos como somos e a viver felizes na nossa condição. Somos pequenos e, fundamentalmente, todos iguais. Não há super-pessoas. Todas são iguais em dignidade, responsabilidade e liberdade. Os que receberam mais talentos para administrar terão de dar contas da sua administração.

Tudo o que temos, desde a vida às outras possibilidades que ela nos proporciona, é um puro dom de Deus. Por isso, pergunta-nos S. Paulo: «Que tens que não hajas recebido? E se o recebeste, por que te orgulhas, como se não o tivesses recebido?»

O demónio faz às pessoas como o vento aos papéis e às folhas secas das plantas: levanta-as no ar e leva-as, depois, para onde quer, arrastando-as pelo chão.

b) A humildade abre-nos os olhos. «Quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te.»

O orgulho cega-nos, contra toda a evidência. Leva-nos a ver ofensas à nossa pessoa em toda a parte.

Alimentamos imagens falsas, ilusórias, acerca de nós mesmos. Presumimos sabedoria e qualidades que não temos. É como se andássemos com uns óculos cujas lentes fossem espelhos. Só nos veríamos a nós mesmos e sempre maiores do que somos, porque nos vemos ao perto.

O orgulho cega as pessoas de tal modo que, às vezes, toda gente vê que uma pessoa segue por um caminho errado, no qual encontrará a ruína, menos ela.

c) A humidade torna-nos simpáticos. Se fores humilde, «serás mais estimado do que o homem generoso.»

A soberba afasta as pessoas e ela mesma acha que é mais importante quando está em destaque. Aliás, a pessoa dominada pelo orgulho coloca-se num pedestal tão alto – julga assim que é! – que ninguém a alcança.

Recorre-se a meios exteriores à pessoa para firmar uma superioridade que não existe: um carro de marca, um modo de vestir, alarde de façanhas ou lugares em que se passam férias, etc.

A humildade é naturalidade. Como está perfeitamente no seu lugar, não chama nem quer chamar a atenção dos outros.

2. O caminho da humildade

Temos diante de nós um trabalho para toda a vida, porque – no dizer de um santo – só deixaremos de ser orgulhosos depois de tomarmos um banho de terra fria. Nunca poderemos dizer, durante a vida, que já somos profundamente humildes e, por isso, não precisamos de fazer mais esforços.

A soberba alimenta-se:

• dos êxitos – atribuindo-os a nós, e não às ajudas das outras pessoas e, principalmente, a Deus;

• das vitórias sobre a soberba. Pensamos: «que humilde sou já!»

• dos fracassos, porque, se os aceitamos bem, convencemo-nos de que já somos humildes.

a) O modelo da pessoa humilde. É o próprio Jesus Cristo que nos lança este desafio: «Aprendei de Mim, que sou manso e humilde do coração.» De facto, Ele vive a sua existência terrena com:

Naturalidade. Como qualquer criança, entra no mundo permanecendo nove meses no seio virginal de Maria, sem qualquer sinal extraordinário que manifeste a Sua presença. Cresce com toda a naturalidade como qualquer ser humano. Tudo isto é uma exigência de verdade na vida.

Dignidade. Uma pessoa humilde não é o mesmo que apagada, diminuída, abdicando constantemente dos seus direitos e deveres. Jesus Cristo veste bem, com gosto – a tal ponto que os soldados recusam-se a dividir a Sua túnica, porque é muito digna – e chama a atenção quando não cumprem para com Ele as atenções que Lhe são devidas. Pense-se no episódio passado no banquete em casa de Simão leproso.

b) Ser pequeno é aceitar-se como tal. «Por isso, quando fores convidado (para um banquete), vai sentar-te no último lugar.»

Na maior parte dos banquetes, os lugares estão já marcados previamente e foram abandonadas muitas formalidades de outros tempos. No entanto, a recomendação de Jesus continua a ser actual, pois temos muitas ocasiões em que podemos e devemos escolher o último lugar, sem falsa humildade, e sem que os outros se apercebam disso.

• Na conversa, sabendo dar lugar a que os outros contem as suas experiências. Só devemos falar obrigatoriamente quando é preciso defender a verdade.

• Na mesa, ao servirmo-nos da comida e da bebida. Não se trata de ficar sempre para o último lugar, mas de reservar para os ouros aquilo que já sabemos que é mais apreciado por eles.

• Na opinião acerca de um assunto: Se se trata de um assunto que pode ser abordado de diversos ângulos, com diversas opiniões, todas elas válidas, por que havemos de fazer da nossa opinião um dogma de fé?

Aconselha-se a que à mesa se evitem conversas sobre futebol ou partidos políticos, a não ser quando se trata de um programa de governo que é irreconciliável com a fé e a moral. Quantas teimosias e amuos desnecessários podem ser evitados!

c) Sejamos verdadeiros sobre nós mesmos. Às vezes sofremos inutilmente, porque nos imaginamos muito grandes e importantes, e achamos sempre que não nos dão a importância que merecemos.

Daí, os melindres, amuos, zangas, e pessoas e famílias desavindas.

Também na nossa relação dom Deus, na oração, devemos proceder com humildade, reconhecendo, desde o início, a nossa pequenez.

Quando ficamos em crise de fé, zangados com Deus ou com os santos, porque não nos concedem determinada graça, está a soberba por detrás: julgamo-nos merecedores, pela nossa vida; e queremos impor o nosso querer ao de Deus que nos ama e sabe infinitamente mais do que nós o que nos convém.

Maria Santíssima ajuda-nos a compreender melhor o que é a humildade, passando em silêncio pela vida. Não aparece nas horas de triunfo de Jesus, tomando para si um pouco da glória que Lhe é tributada, mas não falta nas horas em que Jesus é humilhado, na Sua Paixão e Morte.

Fonte: presbiteros.com.br
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