Irmãos, temos de pensar que Jesus Cristo é Deus, juiz dos
vivos e dos mortos; e não nos convém ter em pouca monta nossa salvação. Se não
lhe dermos importância, também julgaremos ser pouca coisa o que esperamos
receber. Aqueles que escutam isto como ninharias, pecam, e nós pecamos,
ignorando por que e por quem fomos chamados e para que lugar; e o quanto Jesus
Cristo quis padecer por nós.
Que lhe daremos então por paga ou que fruto digno daquele
que a si mesmo se deu a nós? Quantos benefícios lhe devemos? Concedeu-nos a
luz, qual Pai, nos chamou seus filhos; mortos, salvou-nos. Portanto, que louvor
lhe daremos ou remuneração em troca do que recebemos? Nós, fracos de espírito,
adoradores de pedras e de madeiras, de ouro, prata e bronze, obras de homens; e
nossa vida toda não passava de morte. Envoltos em trevas, com os olhos cheios
deste negrume, recuperamos a visão, desfazendo por sua vontade a névoa que nos
cobria.
Compadecido e comovido até as entranhas, salvou-nos por ver
em nós tanto erro e morte, sem termos nenhuma esperança de salvação, exceto
aquela que ele nos traz. Chamou-nos, a nós que não existíamos, e quis criar-nos
do nada.
Alegra-te, estéril, que não és mãe; salta e clama, tu que
não dás à luz; porque são mais numerosos os filhos da abandonada que daquela
que tem marido (cf. Is 54,1). Ao dizer: Alegra-te, estéril, que não és mãe, é a
nós que indica: pois estéril era nossa Igreja, antes que filhos lhe fossem
dados. E dizendo: Clama, tu que não dás à luz, entende-se: Clamemos sempre a
Deus, sem nos cansar, à semelhança das que dão à luz. E com as palavras: Porque
são mais numerosos os filhos da abandonada que daquela que tem marido, diz que nosso
povo parecia abandonado e privado de Deus. Agora, porém, desde que temos a fé,
somos muito mais numerosos do que aqueles que se julgavam possuir a Deus.
Em outro lugar diz a Escritura: Não vim chamar os justos,
mas os pecadores (Mt 9,13). Diz que lhe era preciso salvar os que pereciam.
Grande e admirável coisa é firmar não aquilo que está de pé, mas o que cai.
Assim Cristo quis salvar o que perecia e a muitos salvou com sua vinda,
chamando-nos a nós que já perecíamos.
Fonte: Liturgia das Horas
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Ricardo Feitosa e Marta Lúcia
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