Acautelem-se os homens de julgar suficiente a confiança nas
tentativas de alguns, sem cuidar da própria mentalidade. Pois os chefes de
Estado, fiadores que são do bem comum da própria nação e igualmente promotores
do bem comum mundial, dependem muitíssimo da opinião e da mentalidade das
multidões. Nada lhes aproveita insistir na construção da paz, enquanto
sentimentos de hostilidade, desprezo ou desconfiança, ódios raciais e
ideologias obstinadas dividem os homens em campos opostos.
Daí a urgência máxima da reeducação da mentalidade e da nova
inspiração da opinião pública. Sei que se consagram à obra da educação, em
particular da juventude, ou à formação da opinião pública, considerem como o
seu dever mais grave inculcar no espírito de todos novos sentimentos pacíficos.
Nós todos temos de transformar nossos corações, abrindo os olhos sobre o mundo
inteiro e aquelas tarefas que, todos juntos, podemos cumprir, para o feliz
progresso da humanidade. Não nos engane falsa esperança. Pois sem abandonar as
inimizades e os ódios e sem concluir no futuro pactos firmes e honestos de paz
universal, a humanidade, que já se encontra em situação muito crítica, apesar
de dotada de ciência admirável, seja talvez fatalmente levada ao momento em que
outra paz não experimente senão a horrenda paz da morte. A Igreja de Cristo,
porém, ao pronunciar estas palavras, colocadas no meio da angústia deste tempo,
não abandona sua firme esperança. Sempre de novo, oportuna e inoportunamente,
repete a nosso tempo a mensagem apostólica: Este é o tempo propício para se
converterem os corações, este é o dia da salvação (2Cor 6,2).
Para construir a paz é antes de tudo imprescindível extirpar
as causas de desentendimento entre os homens. Estas alimentam a guerra,
sobretudo as injustiças. Não poucas provêm das excessivas desigualdades
econômicas, bem como do atraso, em lhes trazer os remédios necessários. Outras
surgem do espírito de domínio, do desprezo das pessoas e, investigando as
causas mais profundas, da inveja, da desconfiança, da soberba e de outras
paixões egoístas. Como o homem não suporta tantas desordens, resulta que, mesmo
fora dos tempos de guerra, o mundo é constantemente perturbado por rivalidades
entre os homens e por atos de violência.
Estes mesmos males infestam as relações entre as próprias
nações por isso é de absoluta necessidade, para vencer ou prevenir e coibir as
violências desenfreadas, que as instituições internacionais desenvolvam melhor
e reforcem sua cooperação e coordenação; e se estimule incansavelmente a
criação de organismos promotores da paz.
Da Constituição Pastoral
Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo de hoje, do Concílio Vaticano II
Fonte: Liturgia das Horas
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Ricardo Feitosa e Marta Lúcia
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