O que há de mais agradável que um salmo? Davi já bem dizia:
Louvai ao Senhor, porque é bom o salmo; a nosso Deus, alegre e belo louvor. E é
verdade! O salmo é a bênção para o povo, a glória de Deus, o louvor da
multidão, o aplauso de todos, a palavra do universo, a voz da Igreja, a canora
confissão da fé, a devoção cheia de valor, a alegria da liberdade, o clamor do
regozijo, a exultação da alegria. O salmo abranda a ira, desfaz a preocupação,
consola na tristeza. Ele é a proteção noturna, o diurno ensinamento, um escudo
no temor, uma festa na santidade, a imagem da tranquilidade, o penhor de paz e
de concórdia, fazendo, à semelhança da cítara, um só cântico de muitas e
diferentes vozes. Na aurora do dia, ressoa o salmo. Repercute o salmo ao cair
da noite. Rivalizam no salmo a doutrina e a graça: ao mesmo tempo canta-se para
deleite e aprende-se para instrução. O que é que não te ocorre ao ler os
salmos?
Neles leio: Cântico para o amado e logo me inflamo de desejo
da sagrada caridade. Neles encontro a graça das revelações, os testemunhos da
ressurreição, os dons da promessa. Por eles aprendo a evitar o pecado,
desaprendo de envergonhar-me da penitência pelas minhas faltas.
O que é o salmo senão o instrumento das virtudes com que o
venerável Profeta, tangendo-o com a palheta do Espírito Santo, faz ressoar pelo
mundo a doçura da música celeste? Ao mesmo tempo em que ele, coordenando por
meio de liras e cordas, isto é, das coisas mortas, a distinção dos diversos
sons, dirigia o cântico do divino louvor para as realidades supremas. Ensinava
com isso, em primeiro lugar, que devíamos morrer ao pecado e, em seguida,
discernir em nossa vida mortal as várias obras de virtude pelas quais nossa
gratidão se eleva até Deus.
Davi ensinou que devemos cantar no íntimo de nós mesmos,
salmodiar no íntimo, como Paulo cantava, pois dizia: Orarei com o espírito,
orarei com a mente; salmodiarei com o espírito, salmodiarei com a mente.
Ensinou também que devíamos ordenar nossa vida e seus atos para a visão das
realidades superiores, a fim de que o gosto pela doçura não excite os instintos
do corpo, com os quais não se redime nossa alma, ao contrário se torna pesada.
E, no entanto, o santo Profeta lembra-se de salmodiar para a redenção de sua
alma, quando diz: Salmodiarei a ti, ó Deus, na cítara, Santo de Israel; ao
cantar a ti jubilarão meus lábios e minha alma que remiste.
Santo Ambrósio
(340/397)
Bispo de Milão -
Doutor da Igreja
Comentários sobre os Salmos
Fonte: Liturgia das Horas
Foto retirada da internet
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