O cristianismo se difundiu a partir da experiência da
primeira Comunidade de Jerusalém, conduzida pelo Espírito Santo, tendo à frente
o grupo dos Apóstolos, sendo Simão Pedro sinal de unidade. A partir daí, as
perseguições contribuíram para a positiva dispersão dos primeiros cristãos,
fazendo com que a Semente da Boa Nova se espalhasse por toda parte (Cf. At
8,5-8.14-17). Fundamental foi a participação de São Paulo, a grande figura de
convertido, cuja pregação, testemunho e viagens alargaram as fronteiras do
Evangelho, já nos primeiros decênios.
Não foram pequenas as dificuldades encontradas pelos
cristãos de todas as gerações. No entanto, desde o início, o Espírito Santo
prometido e enviado por Jesus (Cf. Jo 14,15-21) consolida a fé em Jesus Cristo,
fortalece para o martírio, ilumina as mentes para o testemunho coerente do
Evangelho. E Como os cristãos de ontem e hoje se colocam diante dos desafios
que se apresentam?
Podemos começar dentro de casa, em nosso coração e no âmbito
de nossos limites pessoais. Há que contar com o fato de sermos pecadores,
limitados em nossa vontade, pusilânimes nas decisões. Deus, que não se cansa de
perdoar, sabe quem somos e como somos, e está sempre pronto a manifestar sua
misericórdia e seu perdão. Ninguém se desespere das próprias fraquezas. A
sabedoria popular dizer que “perdão foi feito pra gente pedir”. Contar com as
fraquezas dos outros e as nossas, não imaginar que em qualquer lugar do mundo
encontraremos um grupo de perfeitos e impecáveis! Do outro lado, a coragem para
recomeçar do zero se for necessário. E, uns com os outros, ter a coragem para
dizer: “quando você falhar, saiba que antes de julgar ou condenar, encontrará
em mim disposição para empreender e perdoar, assim como a ajuda necessária para
se erguer dos próprios fracassos”.
Para tanto, ter clareza dos valores em que acreditamos, não
perder de vista os grandes ideais que norteiam os nossos passos, ser radicais
na busca da verdade e do bem, o que significa superar todo tipo de
acomodamento. Ninguém se renda diante do mal circunstante, mas lute bravamente
para superá-lo. Quem nivela a própria vida pelo rodapé da existência e se
acomoda com os pequenos ou grandes defeitos bloqueia a ação da graça de Deus
que pode e quer vir ao encontro da pessoa fragilizada.
Olhe ao seu redor! Com certeza o mar dos contravalores
existentes e propagandeados lhe causa uma forte impressão. E que dizer da
repisada corrupção que se espalha e contagia pequenos e grandes? Em torno a nós
floresce um relaxamento geral das consciências, a prática dos escambos mais
escandalosos, a propaganda do pecado, a da impureza e da injustiça. É hora da
rendição diante do inimigo? Absolutamente, não! Cristão que se preze luta até
derramar, se for preciso, o seu sangue, pela verdade, a justiça e o amor.
Faz-se necessário ter a coragem de nadar contra a correnteza, plantando valores
diferentes, acreditando no bem que podem fazer os considerados pequenos na luta
pela vida, apoiar as iniciativas de solidariedade, comunhão e participação.
Acredito muito mais nas pessoas que arregaçam as mangas e começam a fazer
diferente do que as e rumorosas manifestações públicas, nas quais o ódio e a
revolta podem se impor.
O cristão tem que abrir os olhos para o horizonte. Até a
volta do Senhor, cabe a nós a visibilidade da ação de Deus a favor de seu povo.
Só que não estamos sozinhos, pois Jesus prometeu e enviou o Espírito Santo, o
amor do Pai e do Filho. Um roteiro de coragem e ousadia pode ser assim
resumido:
– Amar a Jesus é guardar os seus mandamentos. Não falatório,
mas vida concreta, de fidelidade ao Senhor.
– Acolher o Espírito Santo Consolador, o Paráclito, o
Defensor, que permanece sempre em nós. Ele nos concede a audácia dos mártires,
a força dos profetas e confessores da fé, a simplicidade das virgens. São
forças que desmontam os poderes do maligno!
– Buscar os caminhos de diálogo e de escuta com quem pensa
diferente de nós. Para isso, valorizar o bem que o Espírito Santo já plantou no
coração das pessoas, mesmo onde nosso fraco julgamento julga impossível. Não
imaginar que exista um mundo ou um pedaço de mundo em que todos pensam como
nós.
– Nunca alimentar um espírito de orfandade e tristeza.
Cristão olha para frente, aponta para o alto, sabe que a vitória final pertence
a Deus.
– Enfim, a sábia recomendação de São Pedro: “Quem é que vos
fará mal, se vos esforçais por fazer o bem? Mais que isso, se tiverdes que
sofrer por causa da justiça, felizes de vós! Não tenhais medo de suas
intimidações, nem vos deixeis perturbar. Antes, declarai santo, em vossos
corações, o Senhor Jesus Cristo e estai sempre prontos a dar a razão da vossa
esperança a todo aquele que a pedir. Fazei-o, porém, com mansidão e respeito e
com boa consciência. Então, se em alguma coisa fordes difamados, ficarão com
vergonha aqueles que ultrajam o vosso bom procedimento em Cristo. Pois será
melhor sofrer praticando o bem, se tal for a vontade de Deus, do que praticando
o mal. De fato, também Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados,
o justo pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus. Sofreu a morte, na
existência humana, mas recebeu nova vida no Espírito” (1Pd 3, 15-18).
Dom
Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará
Fonte: CNBB
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