Roteiro Homilético 3º Domingo da Quaresma - Ano “A” Mateus

Introdução ao espírito da Celebração

A Palavra de Deus que hoje nos é proposta afirma, essencialmente, que o nosso Deus está sempre presente ao longo da nossa caminhada pela história e que só Ele nos oferece um horizonte de vida eterna, de realização plena, de felicidade perfeita.

Primeira Leitura

Livro do Êxodo 17,3-7

A primeira leitura mostra como Jahwéh acompanhou a caminhada dos hebreus pelo deserto do Sinai e como, nos momentos de crise, respondeu às necessidades do seu Povo. O quadro revela a pedagogia de Deus e dá-nos a chave para entender a lógica de Deus, manifestada em cada passo da história da salvação. 

O relato é situado em Refidim (v. 1), um oásis na península do Sinai a cerca de uma dúzia de quilômetros do monte que se considera ser o da grande teofania do Sinai, o Djébel Músa.

O episódio que constituiu uma prova e fonte de litígio, enquadra-se bem na vida no deserto do Sinai, onde abunda a fome e a sede e escasseiam os oásis; a narrativa é apresentada a dar lugar ao nome de dois sítios: «Meribá», que, segundo uma etimologia popular, designa a disputa ou litígio (do povo com Moisés) e «Massá», nome correspondente a prova ou tentação. Este pecado de falta de fé do povo na Providência divina é muitas vezes posto em relevo na Sagrada Escritura: Dt 6,16; 9,22-24; 33,8; Salmo 95,8-9. Também aparece sublinhada a falta de fé do próprio chefe, Moisés, cuja dúvida o levou a bater duas vezes na rocha (cf. Nm 20,1-13; Dt 32,51; Salmo 106,32).

Segunda Leitura

Carta de São Paulo aos Romanos 5,1-2.5-8

A segunda leitura repete, noutros termos, o ensinamento da primeira: Deus acompanha o seu Povo em marcha pela história; e, apesar do pecado e da infidelidade, insiste em oferecer ao seu Povo – de forma gratuita e incondicional – a salvação.

Dentro do tema central da epístola, a obra da nossa justificação realizada por Cristo, S. Paulo aponta aqui os efeitos desta sua obra salvadora: a «paz» (v. 1), o «acesso à graça», um orgulho santo, e a esperança (v. 2), uma «esperança que não engana», porque tem como fundamento o «amor de Deus». «Esta graça em que permanecemos» é a graça santificante, a graça da justificação, que nos torna santos, justos, amigos de Deus e em paz com Ele.

5 «A esperança não engana», não nos deixa confundidos, um tema desenvolvido a fundo na encíclica Spe salvi. A teologia católica insiste numa qualidade da virtude teologal da esperança: a certeza, que procede da virtude da fé e que se baseia na fidelidade de Deus às suas promessas, na sua misericórdia e omnipotência. Esta firmeza da esperança não obsta a uma certa desconfiança de si próprio, pelo mau uso que se possa vir a fazer da liberdade: daqui a recomendação de S. Paulo: «trabalhai com temor e tremor na vossa salvação» (Filp 2,12). «O amor de Deus foi derramado em nossos corações»; aqui está a garantia de que a nossa esperança não é ilusória, mas firme. Este amor não é apenas algo que se situa fora de nós próprios, uma mera atitude de benevolência divina extrínseca, mas é um dom que se encontra derramado em nossos corações «pelo Espírito Santo que nos foi dado». Fala-se neste texto dum dom e dum doador; daqui que a Teologia explicite que esse dom é a virtude infusa da caridade, inseparável da graça santificante (cf. DzS 800-821), isto é, um «hábito» permanente, bem expresso pelo particípio perfeito passivo do original grego («que permanece derramado»); o doador é o Espírito Santo que, por sua vez, também «nos foi dado»; Ele é a graça incriada: por isso se pode falar da inabitação da Santíssima Trindade na alma do justo.

6-8 Este amor de Deus não é uma teoria, pois ele se revela na morte de Jesus pelos pecadores.

Evangelho

Segundo João 4,5-42

O Evangelho garante-nos que, através de Jesus, Deus oferece ao homem a felicidade (não a felicidade ilusória, parcial e falível, mas a vida eterna). Quem acolhe o dom de Deus e aceita Jesus como «o salvador do mundo» torna-se um Homem Novo, que vive do Espírito e que caminha ao encontro da vida plena e definitiva.

A leitura contém uma das mais encantadoras cenas de todo o Evangelho. Um belíssimo diálogo pedagógico inicial conduz a uma proposta misteriosa de Jesus (v. 10), que suscita o vivo interesse da mulher, a qual passa da incompreensão (vv. 11-12) ao acolhimento da auto-revelação de Jesus e a tornar-se por fim numa apóstola de Cristo. O diálogo atinge o clímax, o ponto culminante, no v. 26: «(o Messias) sou Eu, que estou a falar contigo!»

5-6 «Sicar», que muitos querem identificar com a Siquém dos tempos dos Patriarcas, destruída em grande parte por João Hircano em 128 a. C., costuma identificar-se com a atual Askar, no sopé do monte Ebal, perto da antiga Siquém e da atual Nablus, a maior cidade dos palestinos (cf. Gn 33,19; 48,22; Jos 24,32. O «poço», com 32 metros, conserva-se na cripta duma igreja feita pelos cruzados sobre as ruínas de templos sucessivamente destruídos, primeiro pelos samaritanos, depois pelos maometanos por duas vezes; em 1863 uma comunidade grega ortodoxa reconstruiu essa cripta, onde o peregrino continua a poder beber água tirada com um balde preso a uma corda.

6 «Jesus, cansado da caminhada, sentou-Se à beira do poço». João, que pretende demonstrar a divindade de Jesus no seu Evangelho (cf. Jo 20,31), não descuida deixar ver bem clara a humanidade do Senhor. Eis o belíssimo comentário de Santo Agostinho: «Não é em vão que se fatiga o poder de Deus. Não é em vão que se fatiga Aquele cuja ausência nos causa fadiga e cuja presença nos conforta. (…) Jesus fatigou-Se com o caminho por nosso amor. Encontramos ali Jesus que é força e encontramo-Lo fatigado. Jesus é forte e é fraco. (…) A força de Cristo deu-nos a vida e a fraqueza de Cristo deu-nos a nova vida. A força de Cristo fez que existisse o que não existia; a fraqueza de Cristo fez que não perecesse o que existia. Cristo criou-nos pela sua força e salvou-nos pela sua fraqueza» (In Ioh. Tractus XV, 6).

9 «Sendo eu samaritana». Os samaritanos eram um povo misto, resultado do cruzamento dos judeus não desterrados por Sargão II na destruição do reino do Norte em 721, com os colonos assírios que para ali foram mandados. As rivalidades, que vinham dos inícios da monarquia, com a divisão em dois reinos (cf. 1 Re 12; 17,24-34), acirraram-se com a reforma de Esdras e Neemias no regresso do exílio, até que se consumou o cisma religioso. Eles consideravam-se autênticos israelitas e seguiam os cinco livros de Moisés (o Pentateuco Samaritano). Mas os judeus consideravam-nos semi-pagãos e cismáticos, pois sobre o monte Garizim tinham chegado a construir um templo, rival do de Jerusalém. O ódio e desprezo dos judeus pelos samaritanos era tão grande que, quando querem insultar a Jesus chamam-no «samaritano» (Jo 8,48), o que equivalia a chamar-Lhe um renegado, talvez pelos contatos de Jesus com as gentes da Samaria, quando um judeu praticante devia abster-se de todo o contato com os samaritanos.

10-15 «Se conhecesses…»: conhecer, na linguagem bíblica, não se reduz a estar informado, mas implica uma vivência, como se Jesus dissesse: «Se tu tivesses a experiência da vida que Deus tem para te dar…». «Água viva»: dá-se aqui um mal-entendido, pois a samaritana pensa em água corrente, por oposição à água estagnada do poço, quando Jesus lhe fala assim, recorrendo a um símbolo bíblico tradicional (cf. Is 12,3; 44,3; Jr 2,13; 17,13; Salmo 36,10; ver Apoc 21,6; 22,17) para falar dum dom divino que no IV Evangelho se exprime em diversas categorias sobrenaturais paralelas e que se iluminam mutuamente: vida eterna, salvação, o próprio Jesus, o Espírito Santo, como se explicita em 7,38-39. A imagem da água viva tem mais força se temos em conta o que diz o Targum acerca dum poço de Jacob que transbordou jorrando água durante 20 anos.

17 «Tiveste cinco maridos»: O contexto deixa ver que a mulher tinha levado uma vida escandalosa (ver v. 29); embora alguns queiram ver que temos aqui um símbolo do antigo politeísmo dos samaritanos (2Re 17,29-41) que adoraram 5 ídolos (na realidade o texto fala de 7) e agora tinham um culto ilegítimo; mas esta hipotética alusão não anularia o valor do acontecimento relatado.

19-24 Ao ver que Jesus penetra nos segredos da sua vida irregular, reconhece que está diante dum profeta, por isso lhe põe a grande questão que opunha os samaritanos aos judeus, a saber, o lugar do culto (cf. Dt 12,5), que eles celebravam no monte Garizim, mesmo depois de destruído o seu templo cismático por João Hircano. Jesus declara que com Ele tinha chegado a hora em que já não tem sentido essa questão acerca do «lugar», pois o culto antigo ficava ultrapassado e abolido, sendo Ele próprio o novo templo (cf. Jo 2,19.21). Começava um novo culto «em espírito e verdade»; mas isto não significa um culto mais interior e menos ritualista, como pregaram os profetas, nem que se devam suprimir todos os ritos externos. Trata-se de que Deus é espírito (cf. v. 24), isto é, que infunde uma nova vida, a sua vida divina; por isso o culto tem de corresponder a essa novidade de vida (Rom 6, 19), digamos, um culto que nos envolva na própria vida trinitária: adorar o Pai no Espírito Santo (sob o seu impulso) e na Verdade (através de Jesus que é a Verdade: 1,14; 14,6).

35-38 É fácil de descobrir o sentido da alegoria do semeador e dos ceifeiros: nos campos de trigo há um espaço de tempo entre a sementeira e a ceifa, mas no campo de Deus o fruto pode ser imediato, como aconteceu ali; no entanto, o habitual será que se confirme o ditado (v. 37; ver Miq 6,15; Act 8,4-25). Os discípulos aparecem como os ceifeiros enviados a colher o que «outros» – os profetas e Jesus principalmente – semearam.

42 «Salvador do mundo»: cf. 3,17; 12,47; 1Jo 4,14; Is 19,20; 43,3; Lc 1,47; 1Tm 4,10; Filp 3,20; Mt 1,21; Act 5,31; 13,23.

Sugestão para reflexão

A água que Eu der há de tornar-se fonte que dá a vida eterna» (Jo 4,14)

A nossa sociedade criou-nos grandes expectativas. Disse-nos que tinha a resposta para todas as nossas procuras e que podia responder a todas as nossas necessidades. Garantiu-nos que a vida plena estava na liberdade absoluta, numa vida vivida sem dependência de Deus; disse-nos que a vida plena estava nos avanços tecnológicos, que iriam tornar a nossa existência cômoda, eliminar a doença e protelar a morte; afirmou que a vida plena estava na conta bancária, no reconhecimento social, no êxito profissional, nos aplausos das multidões, nos «cinco minutos» de fama que a televisão oferece… No entanto, todas as conquistas do nosso tempo não conseguem calar a nossa sede de eternidade, de plenitude, dessa «mais qualquer coisa» que nos falta para sermos, realmente, felizes. A afirmação essencial que o Evangelho de hoje faz é: só Jesus Cristo oferece a água que mata definitivamente a sede de vida e de felicidade do homem.

Não é verdade que muitas vezes nos esquecemos destas verdades ou até que ainda nem sequer a descobrimos? Não é verdade que, muitas vezes, a minha procura de realização e de vida plena faz-se noutros caminhos? O que será preciso fazer para conseguirmos que os homens do nosso tempo aprendam a olhar para Jesus e a tomar consciência dessa proposta de vida plena que ele oferece a todos?

Essa «água viva» de que Jesus fala faz-nos pensar no batismo. Para cada um de nós, esse foi o começo de uma caminhada com Jesus… Nessa altura acolhemos em nós o Espírito que transforma, que renova, que faz de nós «filhos de Deus» e que nos leva ao encontro da vida plena e definitiva. Nesse sentido, devemos hoje interrogarmo-nos acerca da nossa vida cristã? Temos sido, verdadeiramente, coerentes com essa vida nova que recebemos? O compromisso que assumimos, com Cristo e na Igreja, é algo esquecido e sem significado, ou é uma realidade que marca a minha vida concreta, os meus gestos, os meus valores e as minhas opções?

Fonte: presbiteros.com.br
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