No nosso itinerário de catequeses sobre a Igreja, estamos a refletir
sobre o fato de que a Igreja é mãe. Na semana passada frisamos como a Igreja
nos faz crescer e, com a luz e a força da Palavra de Deus, nos indica o caminho
da salvação, e nos defende do mal. Hoje gostaria de ressaltar um aspecto
particular desta ação educativa da nossa mãe Igreja, ou seja, como ela nos
ensina as obras de misericórdia.
Um bom educador vai ao essencial. Não se perde nos
pormenores, mas quer transmitir o que deveras conta para que o filho ou o aluno
encontre o sentido e a alegria de viver. É a verdade. E o essencial, segundo o
Evangelho, é a misericórdia. O essencial do Evangelho é a misericórdia.
Deus enviou o seu Filho, Deus fez-se homem para nos salvar, ou seja, para nos dar
a sua misericórdia. Jesus diz isto claramente, resumindo o seu ensinamento
para os discípulos: “Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso”
(Lc 6,36). Pode existir um cristão que não seja misericordioso?
Não. O cristão deve ser necessariamente misericordioso, porque este é o centro
do Evangelho. E fiel a este ensinamento, a Igreja não pode deixar de repetir a
mesma coisa aos seus filhos: “Sede misericordiosos”, como o vosso Pai, e como o
foi Jesus. Misericórdia.
E então a Igreja comporta-se como Jesus. Não dá lições
teóricas sobre o amor, sobre a misericórdia. Não difunde no mundo uma
filosofia, um caminho de sabedoria... Certamente, o Cristianismo é também tudo
isto, mas por consequência, de reflexo. A mãe Igreja, como Jesus, ensina com o exemplo, e as
palavras servem para iluminar o significado dos seus gestos.
A mãe Igreja ensina-nos a dar de comer e de beber a quem
tem fome e sede, a vestir quem está nu. E
como o faz? Com o exemplo de tantos santos e santas que fizeram isto de modo
exemplar; e também com o exemplo de tantíssimos pais e mães, que ensinam aos
seus filhos que o que sobeja (sobra/excede) a nós é para
quem não tem o necessário. É importante saber isto. Nas famílias cristãs mais
simples sempre foi sagrada a regra da hospitalidade: nunca falta um prato e um
leito para quem precisa. Certa vez uma mãe contou-me - na outra diocese - que
queria ensinar isto aos seus filhos e dizia-lhes que ajudassem e dessem de
comer a quem tinha fome; ela tinha três. E um dia ao almoço - o pai estava fora
por trabalho, estava ela com os três filhos, pequeninos, 7, 5, 4 anos mais ou
menos - e batem à porta: era um senhor que pedia de comer. E a mãe disse-lhes:
“Espera um momento”. Entrou e disse aos filhos: “Está ali um senhor que pede de
comer, que fazemos?”, “Damos-lhe, mãe, damos-lhe!”. Cada um tinha no prato um
bife com batatas fritas. “Muito bem - disse a mãe - damos-lhe metade de cada um
de vós”. “Ah, não, mãe, assim não está bem!”. “É assim, tu deves dar do teu”. E
deste modo, esta mãe ensinou aos seus filhos a dar de comer do próprio. Este é
um bonito exemplo que me ajudou muito. “Mas não me sobeja nada...”. “Dá do teu!”. É assim que nos ensina a mãe Igreja. E vós,
numerosas mães que estais aqui, sabeis o que deveis fazer para ensinar aos
vossos filhos para que partilhem as suas coisas com quem tem necessidade.
A mãe Igreja ensina a estar próximos de quem é doente. Quantos santos e santas serviram Jesus deste
modo! E quantos homens e mulheres simples, todos os dias, põem em prática esta
obra de misericórdia num quarto de hospital, ou de uma casa de repouso, ou na
própria casa, assistindo uma pessoa doente.
A mãe Igreja ensina a estar próximo de quem está na
prisão. “Mas, Padre, não, este é
perigoso, é gente má”. Mas cada um de nós é capaz... Ouvi bem isto: cada um de
nós é capaz de fazer o mesmo que fez aquele homem ou aquela mulher que está na
prisão. Todos temos a capacidade de pecar e de fazer o mesmo, de errar na vida.
Não é mais maldoso do que tu e do que eu! A misericórdia supera qualquer muro, qualquer barreira,
e leva-te a procurar sempre o rosto do homem, da pessoa. E é a misericórdia que
muda o coração e a vida, que pode regenerar uma pessoa e permitir que ela se
insira de maneira nova na sociedade.
A mãe Igreja ensina a sermos próximos de quem está
abandonado e morre sozinho. Foi
quanto fez a beata Teresa pelas estradas de Calcutá; e foi o que fizeram tantos
cristãos que não têm medo de apertar a mão a quem está para deixar este mundo.
E também aqui, a misericórdia doa a paz a quem parte e a quem fica, fazendo-nos
sentir que Deus é maior do que a morte, e que permanecendo n’Ele também a
última separação é um “adeus”... Tinha compreendido bem isto a beata Teresa!
Diziam-lhe: “Madre, isto é perder tempo!”. Encontrava pessoas moribundas pela
estrada, pessoas às quais os ratos de rua começavam a comer o corpo, e ela
levava-as para casa para que morressem limpos, tranquilos, acariciados, em paz.
Ela dava-lhes o “adeus”, a todas elas... E tantos homens e mulheres como ela
fizeram isto. E eles esperam-no, lá [indica o céu], à porta, para lhes abrir a
porta do Céu. Ajudar as pessoas a morrer bem, em paz.
Amados irmãos e irmãs, assim a Igreja é mãe, ensinando
aos seus filhos as obras de misericórdia. Ela aprendeu de Jesus este
caminho, aprendeu que isto é essencial para a salvação. Não basta amar quem nos
ama. Jesus diz que os pagãos o fazem. Não é suficiente fazer o bem a quem
pratica conosco o bem. Para mudar o mundo para melhor é preciso fazer bem a
quem não é capaz de retribuir, como fez o Pai conosco, dando-nos Jesus. Quanto pagámos
pela nossa redenção? Nada, tudo
de graça! Fazer o bem sem esperar algo em troca. Assim fez o Pai conosco e nós
devemos fazer o mesmo. Pratica o bem e vai em frente!
Como é bonito viver na Igreja, na nossa mãe Igreja que nos
ensina estas coisas que Jesus nos ensinou. Agradeçamos ao Senhor, que nos
concede a graça de ter a Igreja como mãe, ela que nos ensina o caminho da
misericórdia, que é o caminho da vida. Agradeçamos ao Senhor.
Papa Francisco / Audiência
Geral
Fonte: Libreria Editrice
Vaticana
w2.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2014/documents/papa-francesco_20140910_udienza-generale.html
Foto retirada da internet
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- A Igreja é misericórdia
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Ricardo Feitosa e Marta Lúcia
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