A liturgia deste 6.º Domingo do tempo comum faz-nos refletir
sobre a Lei de Deus e as implicações que a mesma tem nas nossas opções de vida.
As leituras falar-nos-ão de liberdade, sabedoria, responsabilidade, morte,
vida… Só em Deus poderemos conseguir a luz e a força, para alcançarmos o
procedimento ideal que nos conduzirá à verdadeira liberdade e à plena
felicidade. Porque nem sempre fomos fiéis ao Seu projeto, peçamos-Lhe
humildemente perdão, com um firme propósito de obedecermos à Sua vontade.
Primeira Leitura
Livro do Eclesiástico 15,16-21 (Gr.15-20)
Deus criou o homem com plena liberdade. Ele não é coagido.
Quotidianamente pode fazer opções que o colocarão perante a responsabilidade
pela própria vida.
A leitura é tirada da primeira parte da obra didática e
poética de Jesus ben Sirac, também chamado Sirácida, que veio a tomar o nome de
Eclesiástico, por ter sido o livro do A. T. mais utilizado pela Igreja na
instrução dos catecúmenos.
O texto da leitura enquadra-se dentro de um conjunto de
ensinamentos práticos em ordem a alcançar a verdadeira sabedoria: «quem se
dedica à Lei possuirá a sabedoria» (15, 1); e o final do capítulo 15 é a
apologia da liberdade (vv. 11-21). Como diz o Concílio Vaticano II, «Deus quis
«deixar o homem entregue à sua própria decisão» (Sir 15, 14), para que busque
por si mesmo o seu Criador e livremente chegue à total e feliz perfeição,
aderindo a Ele» (GS 17). A lei de Deus é o norte a orientar a liberdade humana,
mas não no-la tira, como tampouco os sinais de trânsito; o que faz é proteger a
nossa liberdade.
21 «Não mandou a ninguém fazer o mal, nem deu licença a
ninguém de cometer o pecado». A verdade, porém, é que há situações em que se
torna difícil cumprir toda a Lei de Deus, mas não se pode dizer que seja
impossível, segundo explica Santo Agostinho, «“porque Deus não manda coisas
impossíveis, mas ao mandar aquilo que manda, convida-te a fazer o que puderes e
a pedir o que não puderes” e ajuda-te para que possas. “Os seus mandamentos não
são uma carga” (1 Jo 5, 3), o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,30).»
(Veritatis Splendor, 102)
Segunda Leitura
Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios 2, 6-10
A verdadeira sabedoria não nasce da confiança na própria
capacidade, mas consiste em conhecer o projeto de Deus na atenção às
inspirações do Espírito Santo.
A leitura é tirada da 1ª parte da Carta aos Coríntios, em
que S. Paulo corrige uma série de desordens que havia na comunidade; a primeira
delas eram as divisões que o Apóstolo atribui à procura duma sabedoria terrena,
baseada na eloquência dos pregadores, quando o que Paulo pregava era uma
sabedoria divina, a do plano salvador de Deus através da morte de Cristo na
Cruz, que era «uma sabedoria entre os perfeitos, mas de uma sabedoria que não é
deste mundo» (v. 6). Só a podiam entender «os perfeitos», isto é, os mais
adiantados na perfeição, já com maior maturidade cristã, humana e sobrenatural.
O Apóstolo não quer dizer que se trata de um grupo fechado deiniciados, como
havia nas religiões mistéricas pagãs da época. Esta sabedoria é «misteriosa e
oculta», o que não quer dizer que seja contrária à razão humana, mas, porque
sendo sobrenatural, procede da Revelação divina, não estando ao alcance dos que
não têm fé, embora sejam os donos do mundo: «os príncipes deste mundo».
8 «Não teriam crucificado o Senhor da glória». Não poderia
ser mais clara a alusão à divindade de Jesus; como se não bastasse chamar-lhe
Senhor (Kyrios, um título divino com que os LXX traduziram o nome divino de
Yahwéh e com que a Igreja primitiva honrava a Jesus: Filp 2,11), S. Paulo
determina a sua qualidade de Senhor, a glória, que é um atributo divino,
alusivo ao esplendor da majestade divina que refulge nas teofanias do AT (cf.
Ex 40,34-38; Ez 43,2-5).
9 Temos aqui uma citação que não é literal de Isaías e
Jeremias (Is 64,3; 65,17; Jer 3,16), podendo ser feita através de algum targum
(tradução livre aramaica), ou de algum apócrifo perdido. De qualquer modo, visa
as maravilhas da graça e da glória.
10 «O Espírito Santo penetra todas as coisas, até o que há
de mais profundo em Deus». Temos aqui um dos textos bíblicos mais expressivos
da divindade do Espírito Santo, como pessoa distinta do Pai, uma verdade de fé
que inicialmente teve dificuldade em se exprimir. Está implícita esta
comparação: assim como só o homem sabe o que se passa nas profundezas do seu
íntimo, assim também só o Espírito de Deus pode conhecer diretamente o que há
no abismo incomensurável e impenetrável de Deus (tà báthê tou Theou).
Evangelho
Segundo Mateus 5,17-37
Este texto do Evangelho pertence ao Sermão da Montanha de Mateus
(Mt 5-7), logo a seguir às bem-aventuranças e declaração sobre o sal da terra e
a luz do mundo. O evangelista vai ao encontro da expectativa messiânica, que
esperava do Messias um intérprete definitivo da Lei de Moisés. Mas a verdade é
que apresenta Jesus num plano superior a um simples intérprete autorizado da
Lei, pois é apresentado ao mesmo nível de Deus. Jesus não revoga a Lei, mas
apresenta-se com uma autoridade tal, que pode acrescentar ao que «foi dito»
(entenda-se, por Deus), o que Ele agora determina: «Eu, porém, digo-vos»
(passim).
17-18 «Não vim revogar…» Os preceitos dos livros do Antigo
Testamento (Lei e Profetas), por serem divinamente inspirados, «conservam um
valor perene» (Dei Verbum, 14), embora contenham coisas caducas e relativas a
uma cultura e a um culto que não passava de uma preparação (uma sombra: Hebr )
para o novo culto centrado no sacrifício redentor de Cristo. Jesus não anula os
preceitos morais do Decálogo, mas leva-os à sua perfeição: «vim completar».
«Não passará da Lei a mais pequenina letra», o yod, a letra mais pequenina do
alfabeto hebraico; naturalmente que Jesus se quer referir à lei moral, não aos
aspectos rituais e jurídicos da Lei de Moisés.
20 «Se a vossa justiça não superar a dos escribas e
fariseus...» Não se trata da virtude da justiça que leva a «dar a cada um
aquilo que lhe pertence». Aqui podia traduzir-se por «santidade»; a dos
escribas é meramente externa e ritualista. «Entre eles, o cumprimento exato,
minucioso, mas externo, dos preceitos tinha-se convertido numa garantia de
salvação do homem diante de Deus: «se eu cumpri isto, sou justo, sou santo e
Deus tem que me salvar». Com este modo de conceber a justificação, já não é
Deus fundamentalmente quem salva, mas vem a ser o homem quem se salva pelas suas
obras externas. (…) A justificação ou santificação é uma graça de Deus, com a
qual o homem só pode colaborar secundariamente pela sua fidelidade a essa
graça» (Bíblia de Navarra). Esta doutrina é o grande cavalo de batalha de S.
Paulo contra os judaizantes (cf. Gal 3; Rom 2), pois ninguém se pode salvar,
caso não supere esta típica noção de justificação própria dos escribas e
fariseu, baseada nas obras, como Jesus graficamente deixou demonstrado na
parábola do fariseu e do publicano (Lc 18,9-14). Esta ideia judaica tinha como
base a soberba humana, a autossuficiência e conduzia fatalmente à falta de
sinceridade e à hipocrisia que Jesus tanto lhes fustigou.
22 «Foi dito aos antigos… Eu, porém, digo-vos». A fórmula
foi dito é uma típica expressão respeitosa para evitar pronunciar o nome divino
(o chamado passivum divinum). É como se dissesse: «Deus disse… e Eu digo… »,
equiparando-Se a Deus.
A primeira palavra ofensiva, «imbecil» (em aramaico:
«racá»), não tem a gravidade da segunda, «louco», que se podia traduzir por
renegado, que implica uma ofensa verbal grave. A propósito desta passagem,
comenta Sto. Agostinho: «devem-se notar três graus de faltas e de castigos. O
primeiro: entrar em cólera por um movimento interno do coração, ao qual
corresponde o castigo do juízo; o segundo: dizer alguma palavra de desprezo,
que traz consigo o castigo do sinédrio; o terceiro: quando, deixando-nos levar
pela ira até à obsessão, nós injuriamos desapiedadamente os nossos irmãos, o
que é castigado com o fogo do Inferno» (Sermo Domini in monte, II,9). Geena de
fogo é uma forma simbólica de designar o Inferno; com efeito, a Geena ficava no
vale de Henon, a Sul de Jerusalém, e era a lixeira da cidade a que se chegava o
fogo e que ardia continuamente. Que significa a condenação eterna do Inferno
também se pode ver em Mt 18,8-9.
23-24 «Se fores apresentar a tua oferenda sobre o altar…» O
Evangelho de S. Mateus é dirigido a cristãos vindos do judaísmo, por isso
apresenta a fala de Jesus sem ter em conta o novo culto cristão, mas sim a
realidade dos ouvintes imediatos de Jesus, que iam a Jerusalém levar oferendas
ao templo. Esta maneira de falar é mais um sintoma do valor histórico do
Evangelho que conserva a forma da pregação de Jesus e não a prática da
comunidade cristã, numa altura em que o templo já estaria destruído.
27-30 «Todo aquele que olhar para uma mulher desejando-a», A
Lei de Moisés proibia o desejar uma mulher casada (cf. Ex 20,17); Jesus reprova
todo o olhar pecaminoso dirigido a qualquer mulher. O desejo de que aqui se
fala pressupõe o consentimento com a advertência na maldade desses atos
impuros. Por olho direito e mão direita entendemos tudo aquilo que nos é mais
caro, a que temos de estar dispostos a renunciar, para não ofender a Deus.
31-32 «Dê-lhe certidão de repúdio». Erradamente autores
antigos na linha do judaísmo disseram que Deus, no Antigo Testamento, autorizou
o divórcio como um direito do marido, o que não é certo. Quando muito, Deus
apenas condescendeu com um mal corrente na época. Segundo a interpretação mais
habitual, a Lei de Moisés aqui aludida (Dt 24,1) limitou-se a impor algumas
limitações a uns costumes abusivos; com efeito, se naquela época só o marido
tinha o direito ao repúdio, a Lei exigia que fosse dada à mulher uma carta que
a deixasse livre para poder contrair novas núpcias, o que já mitigava a
inferioridade da mulher. Mas, segundo uma leitura mais plausível do texto de Dt
24,1-4, o que a Lei pretende não é regulamentar o divórcio, mas proibir que a
mulher repudiada, depois de casar com outro marido, voltasse para o primeiro
marido; os vv. 1 a 3 de Dt 21 devem ser lidos como a prótase(se…, se…) e o v. 4
como a apódose (então…): «então o primeiro marido que a despediu não a poderá
tomar de novo por sua mulher depois de se ter manchado, porque isso é uma
abominação aos olhos do Senhor» (v. 4); sendo assim, a Lei de Moisés não
legisla sobre o divórcio, apenas o considera essa hipótese.
32 «Salvo em caso de união ilegal». De modo algum Jesus quer
fazer uma exceção à lei natural da indissolubilidade do matrimónio. S.
Jerónimo, e com ele a interpretação habitual, entendeu esta cláusula –
traduzida como salvo no caso de fornicação (adultério) – como uma circunstância
a ter em conta para legitimar a separação da mulher infiel, mas sem autorizar a
nenhum dos dois a passagem a segundas núpcias; simplesmente, quando a razão da
separação não tivesse a gravidade do adultério, o marido seria moralmente
responsável duma posterior união adulterina da repudiada, por isso diz: «fá-la
cometer adultério». A verdade é que a Igreja Católica nunca teve, desde os
tempos apostólicos, qualquer dúvida sobre a indissolubilidade do matrimónio,
mesmo nos casos mais graves de adultério sem possibilidades de reconciliação,
ensinando mesmo esta doutrina solenemente na definição tridentina (cânon 7 do
Sacramento do Matrimónio); as declarações de nulidade dos tribunais
eclesiásticos não são uma dissolução de um matrimónio verdadeiro.
Os modernos estudos dos escritos rabínicos acabaram por dar
uma explicação mais simples deste texto de S. Mateus (Bonsirven, Diez Macho e
outros). Aquela cláusula exclusiva de S. Mateus, que a repete em 19, 9 – excepta
fornicationis causa – não se deve traduzir por: «exceto no caso de adultério»,
mas sim «exceto no caso de união ilegítima» (a tradução litúrgica diz ilegal),
isto é, exceto no caso de um matrimónio inválido por algum impedimento
«dirimente». S. Mateus põe como exceção a porneia; ora ele distingue porneia de
adultério, dito moíkheia (Mt 15,19); por isso, se ele quisesse falar de
adultério, teria usado esta segunda palavra grega. Mais ainda, se ele quisesse
que entendêssemos porneia como adultério, não tinha sentido a frase, pois na
época ainda estava vigente a pena de morte para a mulher adúltera (cf. Jo 8,4-5),
o que tornava inútil o divórcio e até impossível, pois tudo ficava resolvido
com a execução. Os Judeus só depois do ano 80 d. C. é que deixaram de aplicar a
pena de morte à adúltera.
S. Mateus tem no seu Evangelho esta cláusula, porque tinha
presente a situação específica dos seus destinatários: eram cristãos vindos do
judaísmo e ele quer que se reconheçam com força de impedimento dirimente do
matrimónio as determinações do Levítico 18,6-18 (consideradas como «leis
noáquicas», isto é, de direito natural e portanto que obrigam até os não
judeus). S. Mateus tem esta cláusula porque quer que não se considerem válidos
os matrimónios que, apesar de certos graus de parentesco, o direito pagão
considerava legítimos. Os rabinos também não consideravam matrimónio incestuoso
o casamento que, nesses casos de parentesco faziam os prosélitos pelo facto de
os julgarem desligados da família pagã (pois com o baptismo dos prosélitos e a
circuncisão tornavam-se uma nova criatura). É tendo em conta esta situação que
S. Mateus declara como porneia (em hebraico, zenút; em aramaico, zenú), isto é,
matrimónio inválido, união ilegítima, os casos de pagãos ou prosélitos casados
com esses impedimentos de consanguinidade, que legitimavam e exigiam a
separação, para evitar o que se considerava um incesto. Portanto este texto
evangélico torna-se muito claro: quem repudiar a sua mulher – exceto no caso de
união ilegítima em que não houve verdadeiro vínculo matrimonial devido ao
impedimento de consanguinidade – expõe-na a ser adúltera… Como se vê, esta
cláusula não é supérflua, uma vez que o Evangelista não se limita a dizer exceto
no caso de concubinato (como alguns traduzem), mas pretende abranger
precisamente aqueles casos que a lei romana e até os rabinos consideravam
matrimónios válidos, como se acabou de explicar.
33-37 Jurar é invocar a Deus como testemunha de uma coisa
que se afirma ou se promete, a fim de dar garantia e valor ao que se diz, o que
é, em si, uma coisa boa e com que se honra a Deus (cf. Jer 4,2). O perjúrio, ou
juramento falso, é pecado grave (cf. Êx 20,7; Num 30,3; Dt 23,22). Os judeus
tinham o costume de jurar por tudo e por nada, o que torna ridícula uma ação
santa, revertendo em falta de respeito para com Deus, embora de sua natureza
leve. Mas os judeus, por um respeito mal entendido. evitaram pronunciar o nome
de Deus, invocando as criaturas mais de perto relacionadas com Ele: o céu,
Jerusalém. o templo, etc. Jesus, ao dizer: não jureis de modo nenhum, não quer
proibir todo o juramento, mas só quando isso não for estritamente exigido, e
sobretudo quer inculcar a sinceridade sempre: «sim, sim; não, não!» Se partimos
do princípio da sinceridade, há confiança mútua nas relações humanas e jurar
torna-se coisa supérflua; jurar a torto e a direito é um sintoma da falta de
sinceridade entre as pessoas.
Fonte: presbiteros.com.br
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