«Quanto a Maria, conservava todas estas coisas,
ponderando-as no seu coração». Assim descreve o Evangelista Lucas a atitude com
que Maria acolhe tudo aquilo que estava vivendo naqueles dias.
Ternura maternal
“Longe de querer compreender ou dominar a situação, Maria é
a mulher que sabe conservar, isto é, proteger, guardar no seu coração a
passagem de Deus na vida do seu povo. Aprendeu a sentir a pulsação do coração
do seu Filho, ainda Ele estava no seu ventre, ensinando-Lhe a descobrir,
durante toda a vida, o palpitar de Deus na história. Aprendeu a ser mãe e,
nesta aprendizagem, proporcionou a Jesus a bela experiência de saber-Se Filho.
Em Maria, o Verbo eterno não só Se fez carne, mas aprendeu também a reconhecer
a ternura maternal de Deus. Com Maria, o Deus-Menino aprendeu a ouvir os
anseios, as angústias, as alegrias e as esperanças do povo da promessa. Com
Ela, descobriu-Se a Si mesmo como Filho do santo povo fiel de Deus.”
Nos Evangelhos, Maria aparece como mulher de poucas
palavras, sem grandes discursos nem protagonismos, mas com um olhar atento que
sabe guardar a vida e a missão do seu Filho e, consequentemente, de tudo o que
Ele ama. Soube guardar os alvores da primeira comunidade cristã, aprendendo
deste modo a ser mãe duma multidão.
Maternidade
“Aproximou-se das mais diversas situações, para semear
esperança. Acompanhou as cruzes, carregadas no silêncio do coração dos seus
filhos. Muitas devoções, muitos santuários e capelas nos lugares mais remotos,
muitas imagens espalhadas pelas casas nos lembram esta grande verdade. Maria
deu-nos o calor materno, que nos envolve no meio das dificuldades; o calor
materno que não deixa, nada e ninguém, apagar no seio da Igreja a revolução da
ternura inaugurada pelo seu Filho. Onde há uma mãe, há ternura. E Maria, com a
sua maternidade, nos mostra que a humildade e a ternura não são virtudes dos
fracos, mas dos fortes; ensina-nos que não há necessidade de maltratar os
outros para sentir-se importante. E o santo povo fiel de Deus, desde sempre, a
reconheceu e aclamou como a Santa Mãe de Deus.”
O Papa disse ainda que “celebrar, no início de um novo ano,
a maternidade de Maria como Mãe de Deus e nossa mãe significa avivar a certeza
que nos há de acompanhar no decorrer dos dias: somos um povo com uma Mãe, não
somos órfãos”.
Sabor de família
“As mães são o antídoto mais forte contra as nossas
tendências individualistas e egoístas, contra os nossos isolamentos e apatias.
Uma sociedade sem mães seria não apenas uma sociedade fria, mas também uma
sociedade que perdeu o coração, que perdeu o «sabor de família». Uma sociedade
sem mães seria uma sociedade sem piedade, com lugar apenas para o cálculo e a
especulação. Com efeito as mães, mesmo nos momentos piores, sabem testemunhar a
ternura, a dedicação incondicional, a força da esperança. Aprendi muito com as
mães que, tendo os filhos na prisão ou estendidos numa cama de hospital ou
subjugados pela escravidão da droga, esteja frio ou calor, faça chuva ou sol,
não desistem e continuam lutando para lhes dar o melhor; ou com as mães que,
nos campos de refugiados ou até no meio da guerra, conseguem abraçar e
sustentar, sem hesitação, o sofrimento dos seus filhos. Mães que dão,
literalmente, a vida para que nenhum dos filhos se perca. Onde estiver a mãe,
há unidade, há sentido de pertença: pertença de filhos.”
Para Francisco, “começar o ano lembrando a bondade de Deus
no rosto materno de Maria, no rosto materno da Igreja, nos rostos de nossas
mães, nos protege daquela doença corrosiva que é a «orfandade espiritual»: a
orfandade que a alma vive quando se sente sem mãe e lhe falta a ternura de
Deus; a orfandade que vivemos quando se apaga em nós o sentido de pertença a
uma família, a um povo, a uma terra, ao nosso Deus; a orfandade que se aninha
no coração narcisista que sabe olhar só para si mesmo e para os seus
interesses, e cresce quando esquecemos que a vida foi um dom – dela somos
devedores a outros – e somos convidados a partilhá-la nesta casa comum”.
Orfandade espiritual
“Foi esta orfandade autorreferencial que levou Caim a dizer:
«Sou, porventura, guarda do meu irmão?». Como se declarasse: ele não me
pertence, não o reconheço. Tal atitude de orfandade espiritual é um câncer que
silenciosamente enfraquece e degrada a alma. E assim, pouco a pouco, nos vamos
degradando, já que ninguém nos pertence e nós não pertencemos a ninguém:
degrado a terra, porque não me pertence; degrado os outros, porque não me
pertencem; degrado a Deus, porque não Lhe pertenço; e, por fim, acabamos por
nos degradar a nós próprios, porque esquecemos quem somos e o «nome» divino que
temos. A perda dos laços que nos unem, típica da nossa cultura fragmentada e
desunida, faz com que cresça esta sensação de orfandade e, por conseguinte, de
grande vazio e solidão. A falta de contato físico (não o virtual) vai cauterizando
os nossos corações, fazendo-lhes perder a capacidade da ternura e da maravilha,
da piedade e da compaixão. A orfandade espiritual faz-nos perder a memória do
que significa ser filhos, ser netos, ser pais, ser avós, ser amigos, ser
crentes; faz-nos perder a memória do valor da diversão, do canto, do riso, do
repouso, da gratuidade.”
“Celebrar a festa da Santa Mãe de Deus faz despontar
novamente no rosto o sorriso de nos sentirmos povo, de sentir que nos
pertencemos; saber que as pessoas, somente dentro duma comunidade, duma
família, podem encontrar a «atmosfera», o «calor» que permite aprender a
crescer humanamente, e não como meros objetos destinados a «consumir e ser
consumidos». Celebrar a festa da Santa Mãe de Deus nos lembra que não somos
mercadoria de troca nem terminais receptores de informação. Somos filhos, somos
família, somos povo de Deus”.
“Celebrar a Santa Mãe de Deus nos impele a criar e cuidar
espaços comuns que nos deem sentido de pertença, de enraizamento, que nos façam
sentir em casa dentro das nossas cidades, em comunidades que nos unam e
sustentem”, frisou ainda o Papa.
Cuidar da vida
“Jesus Cristo, no momento do dom maior que foi o de sua vida
na cruz, nada quis reter para Si e, ao entregar a sua vida, entregou-nos também
sua Mãe. Disse a Maria: Eis o teu filho, eis os teus filhos. E nós queremos
acolhê-La em nossas casas, em nossas famílias, em nossas comunidades e em
nossos países. Queremos encontrar o seu olhar materno: aquele olhar que nos
liberta da orfandade; aquele olhar que nos lembra que somos irmãos, isto é, que
eu te pertenço, que tu me pertences, que somos da mesma carne; aquele olhar que
nos ensina que devemos aprender a cuidar da vida da mesma maneira e com a mesma
ternura com que Ela o fez, ou seja, semeando esperança, semeando pertença,
semeando fraternidade.”
“Celebrar a Santa Mãe de Deus nos lembra que temos a Mãe;
não somos órfãos, temos uma mãe. Professemos, juntos, esta verdade!.”
O Papa concluiu pedindo a todos para aclamar três vezes
Nossa Senhora, como fizeram os fiéis de Éfeso: Santa Mãe de Deus, Santa Mãe de
Deus, Santa Mãe de Deus. (MJ)
Fonte: Rádio Vaticano
Foto retirada da internet
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