Roteiro Homilético 1º Domingo do Advento Ano “A” São Mateus

Primeira Leitura

Livro do Profeta Isaías 2,1-5

Isaías profetiza acerca do Dia do Senhor. A pesar dos pecados do Seu Povo e da infeliz situação em que Judá se encontra, o profeta vislumbra um horizonte de esperança pela restauração que vai operar a vinda messiânica e escatológica. Nela está sublinhado lugar central e universal de Sião, «o monte do Senhor», isto é, Jerusalém, figura da Igreja.

Esta pequena leitura é um dos mais belos textos poéticos de todo o Antigo Testamento, um cântico de exaltação da Jerusalém ideal e da paz messiânica. É um texto paralelo a Miq 4,1-3.

1 «Isaías, filho de Amós», não o profeta do séc. VIII que pregou no reino do Norte, pois em hebraico o nome tem outra grafia. 

2-3 Numa visão puramente humana, podia pensar-se que estamos diante dum texto sionista. A verdade é que o texto transcende o campo político e move-se num clima escatológico e messiânico: «Jerusalém», ou «Sião», é imagem da Igreja, «a nova Jerusalém» (cf. Gal 4, 26; Apoc 21,2-4.10-27), para onde «afluirão todas as nações e muitos povos acorrerão» (v. 3). Isaías anuncia a conversão dos povos (gentios) ao único Deus, o de Israel, uma conversão que é dom de Deus, mas que também implica esforço humano – «subamos…» e docilidade – «Ele nos ensinará… e nós andaremos…». Os povos sentir-se-ão atraídos pela sublimidade de uma lei e de uma doutrina, que é a própria «palavra do Senhor». O texto pressupõe um pregador desta palavra, um profeta; e Jesus é o Profeta messiânico por excelência (cf. Act 3,22; Jo 1,21; 6,14; Lc 7,16). De qualquer modo, a Liturgia do Advento, nesta «palavra do Senhor que sairá de Jerusalém», leva-nos a vislumbrar o Verbo de Deus que se há de manifestar no mistério da sua Encarnação a celebrar no Natal que se aproxima.

4 A paz messiânica, aqui imaginosamente descrita, não se pode considerar como algo meramente ideal, utópico e irreal; com efeito, com a fundação da Igreja, Cristo lançou no mundo um eficacíssimo fermento de paz e de unidade de todo o género humano; e quando todos os homens aderirem sinceramente a Cristo e à sua Igreja teremos a plena realização desta imagem tão bela como arrojada: as espadas convertidas em relhas de arado e as lanças em foices. É de notar que o Deus da Revelação jamais poderá ser invocado por ninguém como «um fator de guerra»; seria uma forma retorcida e refinada de «invocar o santo nome de Deus em vão», contrariando um absoluto moral bem claro, que é o segundo preceito do Decálogo (cf. Ex 20, 7; Dt 5,11).

Segunda Leitura

Carta de São Paulo aos Romanos 13,11-14ª

S. Paulo exorta os fieis de Roma a prestar atenção ao tempo de salvação em que vivemos.

Estamos em tempo de prova, perante a última oportunidade que o Senhor nos oferece para nos salvarmos. Esta verdade de fé impõe-nos uma conduta de vigilância e generosidade.

A leitura, tirada da parte moral e exortatória da epístola (Rom 12,1 – 15,13), está em consonância com o Evangelho de hoje, constituindo uma forte exortação à vigilância, a atitude de que quem espera a vinda de Jesus, pois «o dia está próximo» (v. 12). A Santa Igreja, com estas leituras no começo do Advento, tempo de preparação para o Natal, pretende ajudar os seus filhos a que, ao celebrarem a primeira vinda de Jesus, se preparem também para a sua vinda definitiva.

Há quem pense, com base em Ef 5, 14 que esta passagem do texto da leitura corresponda a um hino baptismal da Igreja primitiva (H. Schlier). Podemos também perguntar-nos se Paulo não estaria a pensar numa proximidade cronológica do fim dos tempos e da segunda vinda de Cristo, tendo em conta o que diz em 1Tes 4,15.17 e 1Cor 15,51-52; a verdade é que não temos aqui qualquer espécie de especulação apocalíptica, mas antes a especificação do que é a existência cristã, a saber, uma vida aberta ao futuro, em atitude de fé e de esperança, abraçando as exigências de vigilância e de renúncia às obras das trevas e à satisfação dos apetites carnais, uma vida nova, que é revestir-se do Senhor Jesus Cristo (v. 14).

11 «Chegou a hora de nos levantarmos do sono» (uma boa esporada para começar o ano litúrgico). O sono é próprio da noite; e a noite é imagem da morte e do pecado, «as obras das trevas», (v. 12); por outro lado, há uma afinidade ontológica entre o cristão e o dia – a luz -, uma exigência do ser cristão, uma vez que Cristo é a luz do mundo: «vós sois a luz do mundo» (Mt 5, 14) e «Eu sou a luz do mundo» (Jo 8,12); o cristão é aquele que deixou iluminar a sua alma, a sua vida, os seus pensamentos, por Cristo, «a luz que brilha nas trevas» (Jo 1,5), por isso, «a noite vai adiantada» (v. 12), e, embora ainda não seja pleno dia, já temos a luz suficiente para seguir a Cristo e não ao pecado. Com razão os cristãos são designados com o genitivo hebraico de qualidade, «filhos da luz»: Lc 16,8; Jo 12,36; Ef 5,8; 1Tes 5, 5 (aqui também chamados «filhos do dia»)

12 «Obras das trevas»: o mesmo que obras tenebrosas ou pecaminosas, muitas das quais, como as que aponta o v. 13, se costumam praticar na clandestinidade da escuridão e da noite.

«Armas da luz», são as virtudes, em especial as teologais (cf. 1Tes 5,8; Ef 6,13-17). Notar que esta expressão paulina, armas, uma vez mais põe em evidência que a vida cristã é uma luta diária.

14 «Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo». Revestir-se, na linguagem bíblica, não significa apenas vestir uma farda (nas festas pagãs, os iniciados vestiam-se à maneira da divindade celebrada), mas trata-se duma identificação na linha do ser: assim, no A. T., revestir-se de justiça, de força, etc., corresponde a tornar-se justo, forte, etc. Revestir-se de Cristo é, pois, identificar-se com Cristo, «ter os mesmos sentimentos de Cristo» (Filp 2, 5). O fiel revestido de Cristo, a partir do Baptismo (cf. Gal 3, 27), tem ainda que se deixar impregnar cada vez mais intensamente por Ele nos novos sectores para os quais se vai abrindo a sua vida, ao desenvolver-se. Ser de Cristo é crucificar a sua carne com todo o cortejo dos seus vícios e apetites desordenados (cf. Gal 5, 24).

Evangelho

Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 24,37-44

O Evangelho de hoje recolhe apenas 8 vv. do que se pode chamar o núcleo ético do discurso escatológico de Jesus em Mateus (Mt 24, 1 – 25, 46), a saber, a exortação moral à vigilância (Mt 24, 37 – 25, 30). Neste pequeno trecho podemos considerar três partes: vv. 37-39; 40-41; 42-44.

37-39 «Como aconteceu nos dias de Noé…» Jesus, segundo os ensinamentos morais rabínicos, apela para a lição do dilúvio: as pessoas preocupadas com a satisfação das necessidades imediatas, comer, beber, casar, esquecem o mais importante e são apanhadas de surpresa, sem estarem preparadas para dar contas a Deus da sua vida na hora duma morte inesperada (cf. Sab 10, 4; Hebr 11, 7; 1 Pe 3, 20; 2 Pe 2, 5).

40-41 O carácter imprevisível da vinda de Jesus é ilustrado com dois casos tirados da vida corrente em que uma pessoa se salva e a outra perece, para daqui tirar a lição moral (o nimxal rabínico): «portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia virá…».

42-44 A parábola do ladrão vem reforçar a lição moral anterior sobre a vigilância, repetida no v. 44, com outras palavras: «Estai vós também preparados!» Esta incerteza é para nós um bem, um estímulo. Se soubéssemos o dia do juízo, corríamos grande risco de nos desleixarmos em fazer o bem e de nos deixarmos arrastar pelo mal, sendo então muito mais fácil que nos viéssemos a condenar. Devemos estar vigilantes e preparados, como se cada dia fosse o último da nossa vida. O Senhor virá como um ladrão, mas apenas no que se refere ao imprevisto da hora, pois, sendo Ele o melhor dos pais, escolherá a melhor hora para os seus filhos, mas respeitando a liberdade de cada um.

Sugestões para reflexões

– Deus vem ao nosso encontro Vivemos numa atitude de espera Deus vem para nos salvar Ele respeita a nossa liberdade

– Ele vem para nos salvar Atenção aos sinais reveladores A esperança cristã Um programa para o Advento

1. Deus vem ao nosso encontro

A Igreja convida-nos, neste tempo do Advento, a preparar ais generosamente o acolhimento ao Senhor que nos vem salvar.

a) Vivemos numa atitude de espera. «Sucederá nos dias que hão de vir, que o monte do templo do Senhor se há de erguer no cima das montanhas e se elevará no alto das colinas.» Encontramo-nos perante as três vindas de Jesus Cristo que convergem numa só:

Ao preparar a vinda histórica de Jesus, leva-nos a comungar na esperança dos Patriarcas e Profetas que, ao longo do Antigo Testamento, suspiraram pela Sua vinda. Vamos celebrá-la – torná-la presente e participar nela – quando celebrarmos o Natal do Senhor. Como aquele que, sem apetite, quando se senta à mesa, o sente despertar, perante o dos outros, a Igreja, com a sua pedagogia de Mãe, coloca diante de nós as aspirações destes justos do Antigo Testamento, para despertar em nós estes mesmos desejos.

Aponta-nos para a vinda escatológica, no fim dos tempos, quando Ele vier sobre as nuvens do Céu, para julgar os vivos e os mortos e convida-nos a estar preparados para esse momento. A lembrança deste acontecimento ajuda-nos a olhar com maior seriedade a nossa vida de cada dia e a ter as contas da alma em ordem.

Anima-nos a um esforço para crescer na vida de intimidade com Deus, para que se torne realidade, no íntimo de cada um de nós, a vinda espiritual. Concretiza-se na renovação da nossa vida cristã, sacudindo toda a poeira da tibieza, para crescermos na intimidade com Deus.

b) Deus vem para nos salvar. «Ali afluirão todas as nações e muitos povos acorrerão…» A mensagem evangélica é claramente positiva e optimista. Não é tecida de ameaças de condenação, mas de promessas de salvação.

Na verdade, Deus ama-nos, e não Se cansa de nos oferecer provas do Seu amor infinito por nós. Ele não nos diz que ama a humanidade, mas os homens, cada um de nós.

Anima-nos a pôr a nossa vida em ordem, e a trabalhar pela santidade pessoal, recordando-nos que estamos em tempo de prova, à conquista de um prémio eterno.

Não podemos ficar em desejos vagos de melhorar a vida espiritual. É urgente formular propósitos concretos, indo ao encontro do nosso defeito dominante e ajudando os outros a uma vida mais feliz, a começar pela própria família. Por isso S. Paulo nos convida a despertar do sono. Despertar é um acto pessoal em que podemos ser ajudados, mas ninguém nos pode substituir a fazê-lo.

c) Ele respeita a nossa liberdade. «Vinde, subamos ao monte do Senhor ao templo do Deus de Jacob. Ele nos ensinará os Seus caminhos e nós andaremos pelas Suas veredas.» Que programa temos para este Advento que agora começa? Vamos deixar que tudo continue com a mesma rotina e frieza de sempre? Dentro dos nossos propósitos estão o acolhimento à Palavra de Deus, a mortificação pessoal, eliminando pequenos caprichos que se tornaram hábitos desnecessários e até prejudiciais e partilhando com os outros o nosso entusiasmo de caminhar ao encontro do Senhor.

Somos um povo em marcha. Também Maria Santíssima, depois de ter acolhido o Filho de Deus nas suas entranhas virginais, caminhou ao encontro de Isabel para lhe levar a alegria e a graça para o filho que trazia em seu ventre.

2. Ele vem para nos salvar

a) Atenção aos sinais reveladores. «Como aconteceu nos dias de Noé […] não deram por nada, até que veio o dilúvio, que a todos levou.» A grande tentação dos homens de hoje é procurar o gozo do momento presente, sem olhar ao futuro, numa total falta de esperança. Por falta de fé, muitas pessoas hoje não esperam nada no futuro. Procura-se apenas uma vida light, sem riscos, sem responsabilidades: o sexo sem risco, o tabaco sem nicotina, a cerveja sem álcool…

Paralelamente a este modo de pensar, as pessoas sofrem hoje de uma grande incapacidade para se comprometerem para sempre. O medo ao compromisso definitivo, para sempre, é um dos grandes obstáculos na descoberta e na vivência de qualquer vocação. E como a vida não tem horizontes, surge a depressão, o suicídio, a união de facto, o divórcio.

b) A esperança cristã. «Chegou a hora de nos levantarmos do sono, porque a salvação está agora mais perto de nós…» É preciso levantar de novo a bandeira da esperança cristã. A nossa vida tem um sentido precisamos orientar a vida por ele.

A nossa vida tem um sentido: somos filhos de Deus e procuramos viver e intensificar na terra uma comunhão de vida com o Senhor e os irmãos para a continuar eternamente no Céu. O Pai ama-nos tanto que nos dá o Seu Filho Unigénito para nos salvar. Ele assume a nossa natureza humana, com todas as suas limitações, para Ser um de nós e nos elevar à Sua altura.

Todo o Advento nos lembra esta loucura de Deus que nos ama e faz tudo o que está nas Suas mãos – sem nos privar da liberdade pessoal, para nos salvar. Seja qual for a situação em que nos encontremos, temos sempre abertos os braços do Pai para nos acolher.

c) Um programa para o Advento. «Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia virá o Senhor.» Toda a preparação do Advento a que a Igreja nos convida pode resumir-se na vigilância.

Para explicar a importância fundamental desta atitude na vida cristã, Jesus lança mão de duas imagens: o descuido dos contemporâneos de Noé, tão distraídos que não se aperceberam dos cuidados dele na construção da arca; e a imagem do ladrão que espera o momento em que a vítima está mais descuidada para desferir o golpe.

S. Paulo concretiza esta vigilância na Carta aos fiéis de Roma:

– Acordar do sono em que nos deixamos cair. A rotina e o desleixo invadem a nossa vida e acabamos por deixar de rezar e fazer desleixadamente a nossa oração. A tibieza tolhe o nosso verdadeiro amor na vida. É tempo de ressuscitar, de começar uma vida nova.

– Abandonemos as obras das trevas. As obras das trevas são todas aquelas que estão contra a Lei de Deus. S. Paulo sublinha duas delas: é preciso evitar comezainas e excessos na comida e na bebida.

Tudo isto nos fala da necessidade da mortificação cristã. Façamos um plano de pequenas mortificações que nos ajudem a viver cada vez mais despertos para o Natal que se aproxima.

– Revistamo-nos das armas da luz. Para ser santo não basta não fazer mal. É preciso realizar boas obras: oração, testemunho de caridade e de alegria. Mas, para as realizarmos, temos necessidade da luz da formação doutrinal. Sem ela não somos capazes de procurar o bem, a vontade de Deus.

– Andemos dignamente, como em pleno dia. Uma vida fundada na verdade, sem disfarces, eis o que o Senhor nos propõe neste princípio do Advento. Viver em pleno dia pode significar para nós conformar o comportamento com a nossa condição social, sem procurar grandezas artificiais e adoptar como lema nunca realizar qualquer obra da qual nos venhamos a envergonhar no juízo final. O melhor modo de viver bem este Advento é participar cada vez melhor na Celebração da Eucaristia, deixando-nos banhar pela Palavra de Deus e alimentando-nos com o Corpo e Sangue do Senhor.

Junto de Maria Santíssima – por uma devoção filial – aprenderemos a esperar e preparar a vinda ao mundo d’Aquele que vem para nos salvar.

Fonte: presbiteros.com.br
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Ricardo Feitosa e Marta Lúcia
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