Prefácio do Advento I - Ofício do dia
Cor: Roxo - Ano “A” Mateus
Antífona: Salmo
24,1-3 A vós, meu Deus, elevo a minha alma. Confio em vós, que eu não
seja envergonhado! Não se riam de mim meus inimigos, pois não será desiludido
quem em vós espera.
Oração do Dia: Ó Deus todo-poderoso, concedei vossos fiéis o ardente desejo de
possuir o reino celeste, para que, acorrendo com as nossas boas obras ao
encontro do Cristo que vem, sejamos reunidos à sua direita na comunidade dos
justos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito
Santo. Amém!
Primeira Leitura: Livro do Profeta
Isaías 2,1-5
Visão de Isaías, filho de Amós, sobre Judá e Jerusalém. Acontecerá,
nos últimos tempos, que o monte da casa do Senhor estará firmemente
estabelecido no ponto mais alto das montanhas e dominará as colinas. A ele
acorrerão todas as nações, para lá irão numerosos povos e dirão: “Vamos subir
ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que ele nos mostre seus caminhos
e nos ensine a cumprir seus preceitos”; porque de Sião provém a lei e de Jerusalém,
a palavra do Senhor.
Ele há de julgar as nações e arguir numerosos povos; estes
transformarão suas espadas em arados e suas lanças em foices; não pegarão em
armas uns contra os outros e não mais travarão combate. Vinde, todos da casa de
Jacó, e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor. - Palavra do Senhor.
Comentário: Em meio às guerras e ameaças
de guerra, o profeta fala da Lei divina e da comunidade de fé, chamada de Sião
ou Jerusalém. Tanto a do seu tempo como a de hoje devem ser esperança e luz
para todas as nações. A maneira pela qual Isaías fala de Sião ou Jerusalém, da
“montanha da casa do Senhor”, de onde vem o ensinamento, a lei de Deus para
todas as nações, dá a entender que ele pensa mais numa comunidade ideal do que
na realidade física da cidade. Isso se torna claro até pelo fato de falar de um
futuro, “nos últimos dias”. A “montanha da casa do Senhor” não é apenas aquela
montanha que chega a 800 metros acima do nível do mar Mediterrâneo (onde está
Jerusalém), mas um lugar de encontro com Deus que se situa muito acima de
qualquer alta montanha ou serra; é uma comunidade de fé ideal, presença de Deus
no mundo. Essa é que atrai para si todas as nações. Todos vão à sua procura
para encontrar os melhores caminhos. Todos querem aprender dela. Todos buscam a
paz, e isto é o que ela ensina: “fundir suas espadas para fazer bicos de arado,
fundir as lanças para delas fazer foices”, transformar as armas em instrumentos
de trabalho, mudar a força de destruição em força de construção, abandonar as
guerras e partir para a colaboração. O profeta-poeta projetava essa comunidade
ideal, promotora da harmonia universal, para um futuro, os “últimos tempos”.
Esses “últimos tempos” não podem ser apenas o momento final da história, o fim
da humanidade no planeta. É o futuro que já deve estar presente, é o
futuro-presente que podemos hoje entender e pôr em prática como a etapa
decisiva da humanidade após a ressurreição do Crucificado. (Pe. José Luiz
Gonzaga do Prado, Vida Pastoral nº 275, Paulus 2010)
Salmo: 121(122),
1-2.4-5.6-7.8-9 (R. Cf. 1)
Que alegria,
quando me disseram: 'Vamos à casa do Senhor!
Que alegria, quando
ouvi que me disseram: “Vamos à casa do Senhor!” E agora nossos pés já se detêm,
Jerusalém, em tuas portas.
Para lá sobem as
tribos de Israel, as tribos do Senhor. Para louvar, segundo a lei de Israel, o
nome do Senhor. A sede da justiça lá está e o trono de Davi.
Rogai que viva em
paz Jerusalém, e em segurança os que te amam! Que a paz habite dentro de teus muros,
tranquilidade em teus palácios!
Por amor a meus
irmãos e meus amigos peço: “A paz esteja em ti!” Pelo amor que tenho à casa do
Senhor, eu te desejo todo bem!
Segunda Leitura: Carta de São Paulo
aos Romanos 13,11-14a
Irmãos: Vós sabeis em que tempo estamos, pois já é hora de
despertar. Com efeito, agora a salvação está mais perto de nós do que quando
abraçamos a fé. A noite já vai adiantada, o dia vem chegando; despojemo-nos das
ações das trevas e vistamos as armas da luz. Procedamos honestamente,
como em pleno dia; nada de glutonerias e bebedeiras, nem de orgias sexuais e
imoralidades, nem de brigas e rivalidades. Pelo contrário, revesti-vos do
Senhor Jesus Cristo. - Palavra do Senhor.
Comentário: As comunidades de Roma,
apesar de pobres, viviam na capital do império. Ali não havia limites para o
consumo e o gozar a vida. Paulo as convida a não cair na tentação. Quanto mais
escura a noite, mais próximo está o clarear do dia; quanto mais difícil a
situação (era o tempo do imperador Nero em Roma), mais perto está uma solução. Paulo
tinha falado em 1Ts 4,15 na possibilidade de estar vivo na segunda vinda de
Cristo. Depois, sentindo provável sua condenação à morte, desejou-a (Fl 1,23)
para estar com Cristo. Agora ele fala da proximidade da salvação. Seria a vinda
final de Cristo? Seu propósito, no entanto, era encerrar sua missão na parte
oriental do império, passar por Roma e ir evangelizar a Espanha, o lado
ocidental (Rm 15,22-24). Ele não teria esses grandes e arriscados projetos se
esperasse para breve o fim do mundo. Os problemas internos nas comunidades de
Roma também não eram poucos. Os cristãos judeus tinham sido expulsos da cidade
e agora estavam podendo voltar. A situação da Palestina era cada vez mais
grave, estava se tornando explosiva. Eles voltavam para Roma influenciados
pelas ideias de revolução e muito mais aferrados à sua identidade judaica.
Enquanto isso, os cristãos gentios de Roma, sem dúvida, tinham se afastado mais
e mais dos costumes judaicos. Os dois grupos iriam se entender? Roma, a capital
do mundo, era, além disso, uma tentação, tentação, acima de tudo, de
consumismo, pois tudo o que se produzia de melhor em todo o império era
carreado para Roma. Cair nessa tentação seria deixar-se envolver pelo mundo das
trevas. Estão dormindo aqueles que não têm esperança de que o mundo possa mudar
nem nisso pensam. Um mundo novo está chegando, está para ser construído; é
preciso, então, estar acordados, viver como em pleno dia – alerta Paulo –,
fugir do consumismo, que não dá nenhum sentido à vida. Como o mesmo Paulo disse
em 1Ts 5, os que dormem, é de noite que dormem; os que se embriagam é de noite
que se embriagam. Esses serão pegos de surpresa. Nós, ao contrário, somos da
luz e, como tais, vivemos unidos ao Senhor e Messias Jesus. (Pe. José Luiz
Gonzaga do Prado, Vida Pastoral nº 275, Paulus 2010)
Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 24,37-44
Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: A
vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé. Pois nos dias, antes do
dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia
em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e
arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem. Dois
homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o outro será deixado.
Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada e a outra será deixada.
Portanto, ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor.
Compreendei bem isto: se o dono da casa soubesse a
que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa
fosse arrombada. Por isso, também vós ficai preparados! Porque, na hora em que
menos pensais, o Filho do Homem virá”. -
Palavra da Salvação.
Comentários:
O
texto do evangelho de hoje vem nos dar orientações sobre como esperar a segunda
vinda de Cristo. A parusia é um tema frequente nos discursos de pregadores
sensacionalistas com o intuito de comover as multidões. O Senhor ensinou o que
necessitamos para esperar esse tempo. Tudo o demais é especulação inútil. A vinda
de Cristo será inesperada (vv. 37–39). E, para esclarecer isso, o texto faz
duas comparações: 1) Noé – nenhum sinal especial (vv. 37–41). Para ilustrar o
fato de que ninguém pode saber o dia e a hora (v. 36), Jesus cita o caso de
Noé, quando, de repente, o dilúvio caiu inesperadamente sobre as pessoas
enquanto cumpriam as rotinas diárias (vv. 37–39). A seguir descreve dois casos
– um masculino e outro feminino – como exemplos de como será a parusia de forma
totalmente inesperada (vv. 40, 41). As pessoas estarão em suas ocupações
habituais. Quando Cristo vier, o tipo de ocupação da pessoa não determina ser
escolhido ou não (vv. 40, 41; dos dois ocupados na mesma coisa um será
escolhido e o outro não). Significa que os cristãos não são diferentes dos demais
em suas ocupações, a diferença está na vivência dos valores do reino que motiva
suas opções. 2) O ladrão – vigilância (v.43). A vinda de Cristo está anunciada
e é certa, porém apenas Deus sabe quando será. O importante é estar preparado.
E aquele que vive uma autêntica práxis cristã espera com constância a vinda de
Cristo para instaurar o seu reino definitivo. (Aíla Luzia Pinheiro Andrade)
O
tempo litúrgico do Advento convida-nos à preparação para acolher o Senhor que
vem. O apelo insistente da Igreja questiona a tendência dos cristãos a serem
acomodados, quando não contaminados pela mentalidade mundana, centrada na busca
desenfreada do prazer e na consecução de interesses pessoais. Desconhecendo o
dia e a hora em que o Senhor virá, o discípulo deve estar sempre pronto para
recebê-lo. A prontidão cristã é feita de pequenos gestos de amor, na
simplicidade do quotidiano. Nada de ações mirabolantes nem de tarefas heroicas
a serem cumpridas! Exige-se do discípulo apenas amor sincero e gratuito a Deus
e ao próximo. O episódio bíblico acerca da figura de Noé e do dilúvio ilustra a
atitude contrária àquela do discípulo do Reino. A devastação diluviana tomou de
surpresa a humanidade. Ninguém, além de Noé e de sua família, deu-se conta do
que estava para acontecer. Por isso, comia-se, bebia-se e se celebravam bodas,
na mais total ignorância da fúria destruidora da natureza que se abateria sobre
a Terra. O Senhor espera encontrar os discípulos do Reino vigilantes, quando de
sua chegada. A menor desatenção pode revelar-se perigosa. Por isso, o egoísmo
jamais poderá ter lugar no coração de quem quer ser encontrado pelo Senhor. Só
existe uma maneira de preparar-se para este momento: amar. (Padre Jaldemir Vitório/Jesuíta)
Fonte: CNBB - Missal Cotidiano (Paulus)
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