Desde a década de 90 a Organização Mundial da Saúde trata o
suicídio como um problema de saúde pública. Reduzir as taxas de suicídio é um
desafio coletivo. Refletir sobre o tema é pensar sobre a vida e a morte, as
possibilidades e os limites do agir humano. Trata-se, em última análise, de
deparar-se com a realidade do próprio ser humano, do mundo e de Deus.
O que o suicida procura desesperadamente é uma saída no fim
do túnel, uma fuga rápida e fácil para uma situação de extremo e insuportável
sofrimento. O indivíduo, então, projeta suas fantasias nesta realidade
misteriosa que ele conhece por morte. Ele não quer a morte em si, nem o que ela
significa de fato, mas o que representa para o sujeito: a possibilidade real,
talvez única, de parar de sofrer.
A estrutura, o ambiente e a educação familiar são
fundamentais para desenvolver níveis de felicidade que diminuam o instinto
autodestrutivo. Aqui entram a ética e o cuidado para pensar preventivamente,
atuando no sistema educacional, reconstruindo sentidos, resgatando valores, autorizando
a expressão de sentimentos e pensamentos, fortalecendo os vínculos e a
espiritualidade.
Para prevenir é preciso cuidar. No caso
do comportamento suicida, é necessário cuidar da dor, isto é, recompor uma
visão integral da pessoa, que a prepare para enfrentar e administrar situações
inevitáveis de sofrimento. Para isso, é necessário libertar-se do mito da
sociedade atual de que só vale a pena viver se há prazer. A dor não precisa ser
autodestrutiva. Saber perder, aprender a enlutar, adoecer e até morrer são
fundamentais numa educação integral que prepare a pessoa para a vida e não
somente para os momentos de sucesso.
A sacralidade da vida se traduz no inviolável direito e no
grave dever de cuidar da vida no sentido mais amplo possível. E apesar do
suicídio ser condenado no plano geral e teórico, é fundamental abster-se de
condenar a pessoa que o comete. Só Deus pode julgar. Ninguém consegue
mensurar objetivamente o abandono e a solidão que o suicida viveu. Sua morte é o último ato de uma experiência
atribulada que afetou gravemente sua existência. Seguindo a fé cristã, é
preciso garantir a oração pelo suicida, o acompanhamento da família e a
conscientização da sociedade sobre a urgência de um programa de prevenção.
Dom
Leomar Brustolin
Bispo
auxiliar de Porto Alegre (RS)
Fonte: CNBB
Foto retirada da internet
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