O sofrimento, o
limite e a morte fazem parte da nossa condição de criaturas, assinalada pela
experiência do pecado, ruína de toda a beleza, corrupção de toda a bondade. Mas
isto não significa que somos vencidos; pelo contrário, a consciência e a
aceitação desta condição estimulam-nos a confiar na presença bondosa de Deus,
que sabe renovar todas as coisas.
No texto Bíblico
(Mt 2,13-21): O anjo convida São José a despertar, levantar , “tomar” o menino,
fugir... e confiar, permanecendo numa terra estrangeira até que o Senhor avise.
José assume as suas responsabilidades, é protagonista da sua própria condição,
mas não se sente sozinho, porque conta com o olhar d’Aquele que sustenta e é
providente à vida de todo ser humano. José parte “durante a noite”.
A confiança de São José em Deus não
tira as dificuldades que teve de passar, mas concede as condições para que ele
possa viver em todas as situações, sem jamais desesperar.
Notemos que São
José está acordado (tem consciência de sua capacidade humana), é capaz de
enfrentar os acontecimentos e proteger a vida da mãe e do menino; mas ele age
também na plena consciência de que é assistido pela salvaguarda eficaz de Deus.
Eis o significado da viagem
para o Egito: a busca de um
lugar seguro, para além da noite, que proteja contra as ameaças, preserve da
violência, restitua a esperança e permita conservar uma boa ideia de Deus e da
vida.
O texto que narra a
viagem da família de Jesus durante a noite rumo a uma terra estrangeira por
causa da criança que estava em perigo nos exorta a refletir naquilo que
acontece também nos dias de hoje
em muitas famílias, que são obrigadas a deixar as suas habitações seja pelas
exigências do trabalho, seja pela miséria, seja pela busca de melhores
condições de vida e saúde, para poderem oferecer aos seus filhos um
contexto de vida melhor. Os pais sentem-se mal quando os filhos choram; sofrem
e fazem de tudo para aliviar a sua dor. Fazem aquilo que podem, para que a vida
dos seus filhos seja boa, seja um dom, seja abençoada em nome de Deus.
Trata-se da viagem
da construção da família, da geração e da educação dos filhos, caminho árduo,
difícil e exigente, no qual as numerosas dificuldades, das quais nenhuma
família é preservada, são situações que às vezes podem levar os membros da
família a desanimar.
Assim com fez São
José, é fundamental saber “ouvir o anjo”, discernir espiritualmente os
acontecimentos e os momentos da nossa vida familiar, para que as relações sejam
sempre purificadas, favorecidas e curadas. A família vive da graça de Deus, mas
também de bons relacionamentos, de olhares recíprocos positivos, de estima e de
garantias mútuas, de defesa e de proteção.
A família é a primeira escola dos
afetos, o berço da vida humana, onde o mal pode ser enfrentado e superado. A
família é um recurso precioso de bem para a sociedade. Ela constitui a semente
da qual nascerão outras famílias, chamadas a melhorar o mundo.
Quando São José
toma o menino e a sua mãe, ele obedece e afasta-os do perigo. Herodes, que
devia ser garantia da vida do seu povo, na realidade transformou-se no
perseguidor do qual se precisa escapar. Também hoje, a família enfrenta muitos perigos:
sofrimentos, egoísmos, pobrezas e infidelidades, mas também ritmos de trabalho
excessivos, consumismo, competição, indiferença, abandono, solidão... aquilo
que seria dom de Deus, se transforma em maldição.
Contudo, sabemos em
quem colocamos nossa confiança e acreditamos e lutamos por um mundo cristão.
Deus nos capacita a
transformar as maldições em bênçãos.
A esta obra parece
ser chamado, em primeiro lugar, o pai: é ele que acorda e toma a iniciativa. A
São José estão confiados o filho e a mãe; ele sabe que deverá levá-los para o
Egito, para um lugar seguro. “Toma o menino e a sua mãe”, diz duas vezes o
anjo, e o texto retoma mais duas vezes estas mesmas palavras.
Elas ressoam como
um encorajamento aos pais, a superar as incertezas, a ir em frente, a cuidar do
menino e da mãe. Hoje, as ciências humanas redescobrem a importância decisiva
da figura paterna para o crescimento integral dos filhos. O pai encontra a sua
identidade e o seu papel, quando protege a mãe, ou seja, quando cuida da
relação conjugal. O entendimento dos pais é decisivo para proteger e encorajar
os filhos.
Fonte: CNBB
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