Consideremos a sabedoria de Paulo. Que diz ele? Eu entendo
que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que
deve ser revelada em nós (Rm 8,18). Por que, exclama, me falais das feridas,
dos tormentos, dos altares, dos algozes, dos suplícios, da fome, do exílio, das
privações, dos grilhões e das algemas? Ainda que invoqueis todas as coisas que
atormentam os homens, nada podeis mencionar que esteja à altura daqueles
prêmios, daquelas coroas, daquelas recompensas. Pois as provações cessam com a
vida presente, ao passo que a recompensa é imortal, permanecendo para sempre.
Também isto insinuava o Apóstolo em outro lugar, quando
dizia: O que no presente é insignificante e momentânea tribulação (cf. 2Cor
4,17). Ele diminuía a quantidade pela qualidade, e alivia a dureza pelo breve
espaço de tempo. Como as tribulações que então sofriam eram penosas e duras por
natureza, Paulo se serve de sua brevidade para diminuir-lhe a dureza, dizendo:
O que no presente é insignificante e momentânea tribulação, acarreta para nós
uma glória eterna e incomensurável. E isso acontece, porque voltamos os nossos
olhares para as coisas invisíveis e não para as coisas visíveis. Pois o que é
visível é passageiro, mas o que é invisível é eterno (cf. 2Cor 4,17-18).
Vede como é grande a glória que acompanha a tribulação! Vós
mesmos sois testemunhas do que dizemos. Antes mesmo que os mártires tenham
recebido as recompensas, os prêmios, as coroas, enquanto ainda se vão
transformando em pó e cinza, já acorremos com entusiasmo para honrá-los,
convocando uma assembleia espiritual, proclamando o seu triunfo, exaltando o
sangue que derramaram, os tormentos, os golpes, as aflições e as angústias que
sofreram. Assim, as próprias tribulações são para eles uma fonte de glória,
mesmo antes da recompensa final.
Tendo refletido sobre estas coisas, irmãos caríssimos,
suportemos generosamente todas as adversidades que sobrevierem. Se Deus as
permite, é porque são úteis para nós. Não percamos a esperança nem a coragem,
prostrados pelo peso dos sofrimentos, mas resistamos com fortaleza e demos
graças a Deus pelos benefícios que nos concedeu. Deste modo, depois de gozarmos
dos seus dons na vida presente, alcançaremos os bens da vida futura, pela
graça, misericórdia e bondade de nosso Senhor Jesus Cristo. A ele pertencem a
glória e o poder, com o Espírito Santo, agora e sempre e pelos séculos. Amém.
São
João Crisóstomo (347/407)
Patriarca de
Constantinopla e Doutor da Igreja
Fonte: Liturgia das Horas
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